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Freixo contesta general e cobra prova em caso Marielle: "frases não bastam"

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

14/12/2018 16h15Atualizada em 12/03/2019 15h20

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) contestou nesta sexta-feira (14) declarações do secretário de Segurança do Rio de Janeiro, general Richard Nunes, de que a vereadora Marielle Franco (PSOL) foi morta por interferir em interesses de milicianos sobre loteamento de terras em regiões periféricas da capital.

Durante entrevista em que falou sobre um plano interceptado pelo setor de inteligência da Secretaria de Segurança, no qual foi identificada uma tratativa para matar o parlamentar em um evento no próximo sábado (15), Freixo disse que Nunes precisa apresentar provas sobre a suposta motivação do assassinato --que completa hoje nove meses.

Eu não tenho dúvidas de que Marielle provocou desconforto em alguém, mas esta me parece uma frase para ganhar tempo até o final do ano. O secretário não deve dizer o que acha. Precisa mostrar o que leva ele a esse entendimento.

Marcelo Freixo, deputado estadual

"Pode ser milícia? Pode. Alguma questão fundiária? Pode. Mas não acredito que apenas esse debate tenha colocado a vida dela em risco. A investigação só avança quando provas são apresentadas. Frases não bastam', acrescentou Freixo ao comentar declarações de Nunes em entrevista publicada nesta sexta pelo jornal "O Estado de S. Paulo".

De acordo com o parlamentar --cuja equipe Marielle integrou por mais de dez anos--, a vereadora não aparentava se sentir ameaçada na véspera, quando se falaram pela última vez. Freixo disse desconhecer uma atuação substancial da vereadora na área fundiária.

"Marielle não era inexperiente, me viu ser ameaçado por diversas vezes e sabia bem até onde podia ir. O máximo de envolvimento que soube da relação dela com a questão fundiária foi um trabalho realizado pela sua assessoria na região das Vargens, na zona oeste. Nunca soube da presença dela em reuniões e não me parecia algo que a colocasse em risco", argumentou Freixo.

Para o deputado, a não elucidação do crime encoraja grupos paramilitares em seguir intimidando autoridades e cidadãos comuns. 

A ameaça é à democracia. A morte da Marielle é a morte da democracia. A minha vida ou a da Marielle não são mais importantes do que a de ninguém. Mas as providências têm que ser tomadas em nome das pessoas que sofrem disso diariamente.

Marcelo Freixo, deputado estadual

"Se não descobrirmos quem matou Marielle, estamos dizendo que um grupo político pode matar quem quiser. Promotores, jornalistas, estão todos sob ameaça, caso mexam com seus trabalhos", disse o deputado.

Plano de assassinato: Freixo pede manutenção da escolta

De mudança para Brasília, onde cumprirá mandato na Câmara dos Deputados, Freixo afirmou que a identificação de um plano para assassiná-lo neste sábado (15) só reforça a necessidade de manutenção da equipe de policiais civis destacados para fazer a sua escolta no Rio de Janeiro --desde que concluiu o relatório da CPI das Milícias, em dezembro de 2008, Freixo conta com escolta.

O parlamentar afirmou que já encaminhou o pedido à Secretaria de Segurança. Continuar com os mesmos agentes que já o acompanham há dez anos é uma exigência.

"Está comprovado, mais uma vez, que nesses deslocamentos entre Brasília e Rio não tenho nenhuma condição de ficar sem segurança. Ter escolta não é privilégio. Isso é uma consequência do meu trabalho público. E esse serviço de escolta precisa ser acompanhado da confiança que já tenho nesses seguranças que estão comigo há dez anos. O pedido é para que eles sigam me acompanhando sempre que estiver no Rio. Em Brasília, serei acompanhado da segurança parlamentar", explicou.

Há três mandatos como deputado estadual e deputado federal eleito pelo Rio, Freixo foi o presidente da CPI das Milícias, concluída em 2008. No total, 225 pessoas foram indiciadas e mais mil citados por envolvimento com esses grupos.

"São 12 anos na Alerj [Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro], dez na presidência da Comissão de Direitos Humanos. Lamentavelmente, não cumpri esse objetivo [de ver diminuída a atuação das milícias]. As milícias seguem dominando a vida das pessoas e os seus votos, é muito triste e perigoso", concluiu.