'Foi tudo rápido, 40 seg no máximo', diz sobrevivente da Vale em Brumadinho
O operador de caminhões Arildo de Amorim Carmo, 45, funcionário da Vale há 13 anos, viu a lama escorrer e atingir a área onde estava a maioria de seus colegas na sexta-feira (25). Ele havia acabado de alcançar a parte alta da mina para fazer o último carregamento de minério antes do almoço, quando a barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), se rompeu.
"Foi muito rápido, 30 segundos, 40 no máximo. Só aquela fumaça, aquela poeira preta, não ouvia barulho nenhum".
Arildo diz que ouviu uma colega gritando que a barragem havia estourado, mas pensou que era simulação.
"Eles, de vez em quando, faziam esse tipo de treinamento com a gente. Dava esse alarme no rádio para ver a reação das pessoas", conta. "Um outro colega começou a fazer sinal com o braço, aí que a ficha caiu."
Arildo conta que tentou avisar sua supervisora a partir do caminhão, mas não conseguiu.
"Peguei o rádio, imediatamente, e comecei a gritar para a sala de controle e para a minha supervisora, porque eles estavam lá embaixo [na área administrativa]. Eu sabia que ela estava em reunião", recorda. "Tentei chamar: 'Cristiane!". E ela não atendia. Chamava o Renildo, que era da sala de controle: 'Renildo, Renildo'. E o rádio ficou mudo", relata.
A maior parte dos colegas daquele turno, que havia se iniciado às 7h, está desaparecida.
"Quando olhei onde é o refeitório e a área onde eu estava, já estava tudo tomado de lama", diz. "Foi questão de sete minutos, que é o tempo que levo da área baixa até onde estava carregando, para tudo acontecer."
Sobreviventes
Ele e um colega que dirigia outro caminhão conseguiram escapar. O operador da máquina que enchia seu caminhão com minério na parte baixa está desaparecido.
"Ele estava almoçando naquele momento [em que desceu a lama]", diz Arildo sobre o colega, que tem dois filhos.
"A gente fica triste, porque infelizmente eles perderam o pai", afirma.
Arildo explica que operários como ele não chegavam perto da barragem. Eles a viam de longe, com a superfície já praticamente seca, com vacas pastando ao redor. Não ouviu, nesses anos todos que antecederam o acidente, que a barragem pudesse se romper.
"Você não via nada de anormal, nunca ninguém comentava que pudesse estourar", diz.
Nos treinamentos que recebiam, eram orientados a procurar uma mata próxima caso ouvissem uma sirene. Na sexta-feira, no entanto, diz não ter ouvido nada, apesar de também não ter certeza se ouviria por conta da distância em que estava.
No primeiro dia, nem ele nem a mulher conseguiram dormir. Desde então, dorme pouco e acorda no meio da noite.
"A gente fica até meio abobado tem hora. Para e começa a pensar nos colegas, fica meio perturbado", afirma.
No sábado (26) e nesta segunda-feira (28), ele voltou à região atingida pela lama e pôde ter a real dimensão do ocorrido. "Quando você vê de longe, é uma coisa. Quando vê de perto, é outra. A situação é muito mais grave do que a gente imaginava vendo por televisão", diz.
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