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Tragédia em Brumadinho

'Foi tudo rápido, 40 seg no máximo', diz sobrevivente da Vale em Brumadinho

Luciana Quierati

Do UOL, em Brumadinho

29/01/2019 17h37

O operador de caminhões Arildo de Amorim Carmo, 45, funcionário da Vale há 13 anos, viu a lama escorrer e atingir a área onde estava a maioria de seus colegas na sexta-feira (25). Ele havia acabado de alcançar a parte alta da mina para fazer o último carregamento de minério antes do almoço, quando a barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), se rompeu.

"Foi muito rápido, 30 segundos, 40 no máximo. Só aquela fumaça, aquela poeira preta, não ouvia barulho nenhum".

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Mapa Brumadinho - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Arildo diz que ouviu uma colega gritando que a barragem havia estourado, mas pensou que era simulação.

"Eles, de vez em quando, faziam esse tipo de treinamento com a gente. Dava esse alarme no rádio para ver a reação das pessoas", conta. "Um outro colega começou a fazer sinal com o braço, aí que a ficha caiu."

Arildo conta que tentou avisar sua supervisora a partir do caminhão, mas não conseguiu.

"Peguei o rádio, imediatamente, e comecei a gritar para a sala de controle e para a minha supervisora, porque eles estavam lá embaixo [na área administrativa]. Eu sabia que ela estava em reunião", recorda. "Tentei chamar: 'Cristiane!". E ela não atendia. Chamava o Renildo, que era da sala de controle: 'Renildo, Renildo'. E o rádio ficou mudo", relata.

A maior parte dos colegas daquele turno, que havia se iniciado às 7h, está desaparecida.

"Quando olhei onde é o refeitório e a área onde eu estava, já estava tudo tomado de lama", diz. "Foi questão de sete minutos, que é o tempo que levo da área baixa até onde estava carregando, para tudo acontecer."

Veja o caminho percorrido pela lama da barragem de Brumadinho

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Sobreviventes

Ele e um colega que dirigia outro caminhão conseguiram escapar. O operador da máquina que enchia seu caminhão com minério na parte baixa está desaparecido.

"Ele estava almoçando naquele momento [em que desceu a lama]", diz Arildo sobre o colega, que tem dois filhos. 

"A gente fica triste, porque infelizmente eles perderam o pai", afirma.

Arildo explica que operários como ele não chegavam perto da barragem. Eles a viam de longe, com a superfície já praticamente seca, com vacas pastando ao redor. Não ouviu, nesses anos todos que antecederam o acidente, que a barragem pudesse se romper.

"Você não via nada de anormal, nunca ninguém comentava que pudesse estourar", diz.

Nos treinamentos que recebiam, eram orientados a procurar uma mata próxima caso ouvissem uma sirene. Na sexta-feira, no entanto, diz não ter ouvido nada, apesar de também não ter certeza se ouviria por conta da distância em que estava.

No primeiro dia, nem ele nem a mulher conseguiram dormir. Desde então, dorme pouco e acorda no meio da noite.

"A gente fica até meio abobado tem hora. Para e começa a pensar nos colegas, fica meio perturbado", afirma.

No sábado (26) e nesta segunda-feira (28), ele voltou à região atingida pela lama e pôde ter a real dimensão do ocorrido. "Quando você vê de longe, é uma coisa. Quando vê de perto, é outra. A situação é muito mais grave do que a gente imaginava vendo por televisão", diz.

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