Coveiro anuncia em alto-falante as mortes de Brumadinho: "nunca esperava"

Há 15 anos, o cemitério municipal de Brumadinho (MG), no centro da cidade, anuncia seus sepultamentos em um alto-falante, informando data e horário de velório e do enterro. Sempre a pedido da família. 

Desde sexta-feira (25), porém, por conta do rompimento na barragem, os comunicados se multiplicaram. "Antes, era um por semana, às vezes um a cada duas semanas. Agora, tem sido três, quatro por dia", diz o responsável pelos cemitérios da cidade, José Eustáquio.

Quem faz os anúncios é o encarregado do cemitério municipal, Atenagos Moreira de Jesus, 63, que também atua como coveiro e faz-tudo no local.

Ele prepara as informações com todo cuidado em um pedaço de papel, se coloca sentado em frente ao microfone e faz o anúncio. São três repetições, com pausas de aproximadamente três minutos entre cada uma delas. Sempre com muito respeito.

A correria para Atenagos tem sido muito grande, porque passou a ter mais anúncios a fazer e também mais jazigos para preparar. Corre de um lado para outro o tempo todo. Diz que não tem dormido direito, abalado com a tragédia em sua cidade.

Na segunda-feira (28), estava ainda mais triste. Ele, que tem enterrado tantos entes queridos das outras pessoas, não pôde estar presente no enterro de seu amigo de infância, Luís, às 11h em outro cemitério.

"Eu nunca esperava passar por isso, contou Atenagos ao UOL. "Não vai ter dia em que vai terminar essa tragédia. Ela termina, mas o sofrimento do povo vai ficar pro resto da eternidade. Isso vai ser uma história para os mais novos contarem futuramente."

Segundo o último boletim do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil de Minas Gerais, divulgado na noite de quinta-feira, ao menos 110 pessoas morreram na tragédia de Brumadinho.