Construções sociais baseadas na violência revivem totalitarismo

Breno Rosostolato

Breno Rosostolato

Especial para o UOL

Algo de muito triste está acontecendo no mundo. É como um forte pressentimento de colapso da humanidade. A tragédia, mais do que anunciada, porém, inevitável. Estamos vivendo em absurdos já há algum tempo. Mas tudo bem, a humanidade se sustenta neles. Somos inundados com a violência do dia a dia e ela vem em todas as formas imagináveis.

Fruto de um passado manchado por barbáries, toda violência é resultado de equívocos, distorções e ignorância. Não importa a natureza da violência, intolerância, preconceito, discriminação, ressentimento e segregações não são mero modismo. 

Em construções sociais, a violência reverbera, ecoa. Ainda que possua suas oscilações, ora rústica e embrutecida, como uma briga de torcida, ora mais elaborada, como numa guerra, que conta com uma boa estratégia e planejamento estruturado, não importa: trata-se de uma tradução do momento histórico e da natureza do ser humano em sua faceta bestial.

No dia 5 de janeiro, houve uma passeata, na cidade de Dresden, que contou com a participação de aproximadamente 15 mil manifestantes contra a suposta islamização da Europa. O grupo que organizou o encontro intitula-se como Pegida, sigla alemã para "europeus patriotas contra a islamização do Ocidente", em tradução livre. Desde dezembro do ano passado, as manifestações acontecem regularmente, às segundas-feiras, e vêm ganhando cada vez mais seguidores.

O Pegida não é um partido, mas um movimento populista sustentado pela xenofobia. Ele engloba a ira e o descontentamento contra cidadãos islâmicos, generalizando a ideia de que o terrorismo é típico de todos os muçulmanos que imigram para a União Europeia. O que mais assusta é que o movimento, embora não tenha amparo político, se alimenta de mentalidades, ideias e opiniões bastante preconceituosas e segregadoras.

Martin Meissner/AP
Manifestante segura cartaz pedindo "fim do terror islâmico" durante ato do Pegida

Com um forte aumento de intolerância social, países europeus se veem envoltos em movimentos radicais de alguns partidos. Assim é, por exemplo, o comportamento da francesa Frente Nacional (FN), de Marine Le Pen, que defende a saída da França da União Europeia e, consequentemente, da zona do euro. Além disso, endossa os protestos do Pegida.

Os austríacos, por sua vez, possuem o Partido Libertário da Áustria, cuja ideologia se sustenta no liberalismo e no nacionalismo. No Reino Unido, o Partido da Independência é de direita populista e eurocéptico e, assim como o FN, luta para se retirar do bloco socioeconômico. Já na Suíça, a União Democrática do Centro, aderente ao conservadorismo nacional, prega a redução da imigração e critica severamente o islã.

O surgimento do Pegida é concomitante ao retorno dos movimentos e partidos políticos neofascistas e neonazistas, inflamam o discurso de ódio e o etnocentrismo. Simpatizantes do nazismo crescem cada vez mais na Grécia e na Hungria. O antissemitismo aumenta na Holanda e na própria Alemanha.

O partido grego neofascista, Aurora Dourada, em um de seus manifestos deixa claro sua preocupação pelo controle estatal, sobre a economia e toda a propriedade privada, nele é possível ler: "O Estado deveria ter controle sob a propriedade privada, de forma que ela não seja perigosa para a sobrevivência do povo ou possa manipulá-lo. A economia deveria ser planificada, de forma que sirva à política nacional e assegure a máxima autossuficiência, sem dependência do mercado internacional e controle de qualquer companhia multinacional".

Nas linhas acima, é enfatizada uma política nacional que controla a economia e a subordinação ao mercado internacional é criticada. Isso nos remete ao nacional socialismo, tal qual Hitler e Mussolini pregavam. Inclusive, os seguidores do Aurora Dourada saúdam o ditador alemão como seu mentor.

A música Horst Wessel, hino adotado pelo partido nazista, foi igualmente cantada, em alto e bom tom, do lado de fora do parlamento, em Atenas. O livro Mein Kampf, de Hitler, tornou-se um best-seller na Turquia em 2005.

Seja o fascismo de Benito ou o nazismo de Adolf, as ideologias amparadas no etnocentrismo determinam uma maneira particular de reacender esses sentimentos. A concepção de pertencimento a uma sociedade baseia-se numa imposição à coletividade, na qual todos devem pensar da mesma maneira, por fazer parte de um grupo.

A Aurora Dourada, assim como outros partidos europeus, é mais do que resquício, é a herança de uma ideologia inflamada, fonte para um cenário de segregação, ódio e violência.

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Breno Rosostolato

35 anos, é psicoterapeuta clínico e professor da Faculdade Santa Marcelina (FASM)

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