Eleições no Congresso em resumo: tensão, "traição" e vitória governista
As eleições para o Congresso tiveram discussões, "traição silenciosa" e vitória governista. Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) foram eleitos presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente. Ambos eram os candidatos de Jair Bolsonaro (sem partido).
Na Câmara, a disputa foi mais acirrada, com discussões e mudanças de voto. Lira ganhou de Baleia Rossi (MDB-SP), candidato do então presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ), por 302 votos a 145. Em seu discurso, ele cutucou Maia com o que chamou de "superpoder" e, em seu primeiro ato como presidente, cancelou a votação da Mesa Diretora ao desconsiderar a formação do bloco de Rossi — algo que já havia causado polêmica na parte da tarde.
No Senado, Pacheco derrotou Simone Tebet (MDB-MS), única concorrente, por 57 votos contra 21. Após uma eleição mais tranquila, ele pregou união da Casa, combate à corrupção e independência do Senado.
Lira eleito em primeiro turno
Lira precisava de maioria simples dos 505 deputados presentes para ganhar em primeiro turno, mas conseguiu 302, mais do que o dobro de Rossi, com 145 votos.
Não me confundo com essa cadeira [da presidência] e jamais irei me confundir. Sou um deputado igual a todos, não sou e não serei a cadeira que irei ocupar temporariamente nesta legislatura
Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara
Em meio a uma disputa acirrada que transbordou a Câmara, margeando o Executivo, viu-se também uma transição de votos, o que no Congresso chamam de "traição silenciosa", visto que, nas eleições do Congresso, o voto é secreto.
Na formação dos blocos, Rossi juntou pelo menos 211 parlamentares de dez partidos (PT, MDB, PSDB, PSB, PCdoB, Rede, PV, Solidariedade, Cidadania e PDT) contra 236 de Lira com outros dez partidos (PSL, PP, PL, PSD, Republicanos, PSC, Avante, Patriota, PTB e Pros). Na votação - secreta - o candidato de Maia reuniu menos de 150.
Além de Lira e Rossi, concorreram ainda os candidatos do Novo, Marcel van Hattem (Novo-RS), e do PSOL, Luiza Erundina (PSOL-SP), e os independentes André Janones (Avante-MG), Fábio Ramalho (MDB-MG), General Peternelli (PSL-SP) e Kim Kataguiri (DEM-SP), que protocolou sua candidatura nesta noite. Alexandre Frota (PSDB-SP), por sua vez, retirou a sua em apoio a Rossi.
Lira já havia cutucado Maia em um discurso direcionado ao parlamento. "Por favor, olhem para a cadeira da presidência. Por acaso ali há um trono?", questionou o deputado, ao se referir sobre o "superpoder" de Maia.
Antes de abrir a votação, Maia respondeu com um último discurso emocionado, relembrando sua gestão durante a pandemia e agradecendo aos colegas.
Vitória do Planalto, abraçado ao Centrão
A vitória de Lira, em especial, é considerada uma vitória do Planalto e de Bolsonaro, que abandonou suas críticas ao chamado Centrão e à "velha política" e empenhou seu governo e sua base para negociar e angariar apoiadores para o deputado alagoano.
A intervenção fez tanto efeito que até o DEM, partido de Maia, que antes apoiava Rossi, declarou-se neutro nesta segunda e liberou seus deputados. O movimento quase foi seguido pelo PSDB e pelo Solidariedade, mas acabou não se consolidando.
Isso mostra uma derrota de Maia contra Bolsonaro. Apesar de não ter dado seguimento a pedidos de impeachment, o deputado tornou-se desafeto no Planalto. O presidente conseguiu desarticular o apoio dentro do próprio DEM e fincou suas relações com o Centrão, grupo de partidos sem fortes ligações ideológicas que Bolsonaro tanto criticou durante a campanha de 2018.
Clima tenso na Câmara
Um impasse no registro dos blocos de apoio aos candidatos fez com que a eleição já começasse tensa. O PT protocolou a entrada no bloco de Baleia às 12h06, seis minutos depois do prazo. O partido alegou "problemas técnicos". O grupo de Lira protestou e o tom subiu na reunião de líderes durante a tarde.
Lira e Maia chegaram a discutir. O deputado alagoano disse que Maia estava "atropelando" o processo e o carioca rebateu: "Eu sou presidente da Câmara hoje, eu decido. Amanhã você pode decidir."
O grupo governista deixou a reunião com ameaça de ir ao STF (Supremo Tribunal Federal) para impedir o registro do bloco e depois pareceu voltar atrás, mas, assim que tomou posse, Lira teve como único ato destituir a decisão de Maia e tirar a validade da criação do bloco de Baleia. Isso fez com que os deputados tenham de fazer novos registros para a eleição da Mesa Diretora amanhã.
No Senado, mais tranquilidade
No Senado a eleição foi mais tranquila. Rodrigo Pacheco (DEM-MG) também foi eleito no primeiro turno por 57 votos contra 21 da senadora Simone Tebet (MDB-MS), única concorrente.
Ele era o candidato não só de Bolsonaro como do então presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), desde que o STF decidiu que ele e Maia não poderiam se reeleger. O senador foi responsável pela interlocução entre Pacheco e o governo.
Em um discurso de 16 minutos, considerado conciliador, Pacheco falou em união, combate à corrupção e pregou autonomia do Senado.
Não haverá nenhum tipo de influência externa capaz de influenciar a vontade livre e autônoma dos senadores. A busca do consenso haverá de ser uma tônica, mas há instrumentos e procedimentos próprios da democracia para se extrair uma conclusão. A conclusão que advenha da vontade da maioria.
Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado
Tebet foi a única desafiante de Pacheco. No início da tarde, os outros três concorrentes, Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Lasier Martins (Podemos-RS) e Major Olimpio (PSL-SP), retiraram suas candidaturas em apoio a ela. Só não votaram os senadores Jaques Wagner (PT-BA) e Jarbas Vasconcelos (MDB-PE), por motivo de saúde, e Chico Rodrigues (DEM-RR), licenciado do mandato depois do episódio em que foi flagrado pela Polícia Federal com dinheiro na cueca.
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