Esquerda pede impeachment de Derrite; aliados de Tarcísio não assinam

O secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, foi alvo de um pedido de impeachment protocolado nesta sexta (6) por deputados estaduais da oposição na Alesp.

O que aconteceu

Nenhum aliado do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) apoiou a medida. Assinaram o pedido 26 dos 94 deputados estaduais de São Paulo —18 deles são políticos do PT e outros 5, ligados ao PSOL. Andréa Werner (PSB), Marina Helou (Rede) e Leci Brandão (PCdoB) completam a lista (veja a relação completa no fim do texto).

Entregue à presidência da Assembleia, o pedido da oposição será analisado pela procuradoria da Casa. Cabe ao órgão encaminhar o requerimento a comissão de constituição e justiça da casa para emissão de um parecer.

Em caso de parecer favorável, será criada uma comissão para a elaboração de um projeto. O texto tem que ser aprovado com maioria simples em plenário relativo ao impeachment. Não há tempo estimado para conclusão do processo.

Para oposição, Derrite "não reúne as condições" para ocupar o cargo de secretário. Segundo Guilherme Cortez (PSOL), a condução da pasta até aqui foi marcada por casos de abusos policiais. "Os policiais de SP não são funcionários de uma milícia que esteja a serviço do governador Tarcísio", disse.

Maioria aliada de Tarcísio não vê justificativa para demissão de Derrite do cargo. A avaliação é que os casos de violência recentes são isolados. Por outro lado, existe consenso de que abusos aconteceram e práticas precisam ser revistas para evitá-los.

Pedido é o segundo tipo na história. Antes de Derrite, apenas Guilherme Afif foi alvo de uma ação do tipo, em 2013 (por acumular um ministério é uma secretária estadual ao mesmo tempo). Além do impeachment de Derrite, a oposição tem protocolados um pedido de afastamento de Tarcísio e um de abertura de CPI baseados nos casos de violência policial no estado. A apresentação do pedido foi coordenada pelo gabinete de Cortez.

A oposição diz que Derrite comete crime ao não punir policiais envolvidos em atos de violência. Os crimes de responsabilidade são condutas de gestores públicos que ameaçam o bom funcionamento do Estado. Eles são passíveis de perda de cargo e outras sanções. Eles são previstos pela lei federal 1.079 de 1950.

Governador defende Derrite e diz que secretário é "estudioso". Declaração foi dada nesta quinta (5) em resposta à pergunta sobre permanência de secretário no cargo após a revelação dos vários casos de violência policial. Na mesma entrevista, Tarcísio admitiu que tinha "visão equivocada" do uso de câmeras por policiais.

Continua após a publicidade

Base aliada tem maioria na casa. Último teste de força do governador na Alesp, a proposta de emenda à constituição que transferiu R$ 11 bilhões do orçamento da educação para saúde foi aprovada com 59 votos no último dia 27. Na ocasião, 19 deputados de PDT, PSB, PSOL e PT votaram contra o texto.

O que diz a oposição

Não acreditamos em hipótese alguma numa autocrítica do Tarcísio [em relação às câmeras corporais).
Carlos Giannazzi (PSOL), deputado estadual

Isso é um processo de higienização social que está acontecendo aqui no estado de São Paulo.
Ediane Maria (PSOL), deputada estadual

Nossa Constituição diz que o direito à vida é inviolável. Então, não há de se aceitar que exista em São Paulo o direito para matar.
Reis (PT), deputado estadual

Casos dominaram manchetes no último mês

No domingo (1º), um PM jogou um homem de uma ponte na zona sul da capital paulista durante abordagem. O agente foi preso na manhã desta quinta e, segundo Tarcísio, será expulso da corporação.

Continua após a publicidade

Na quarta (4), uma idosa e seu filho foram agredidos por um policial em Barueri. No dia 20, o universitário Marco Acosta foi morto por um PM na Vila Mariana. Em 5 de novembro, um menino foi morto durante uma operação em Santos. Dois dias antes, um jovem foi morto com 11 tiros por um PM de folga.

São Paulo teve 580 mortes cometidas por agentes de segurança até setembro. O número é o maior desde 2020, quando houve 824 mortes e o uso de câmeras corporais foi adotado pela PM. Em 2024, 552 das 580 mortes contabilizadas foram cometidas por policiais militares.

A PM de São Paulo matou uma pessoa a cada dez horas neste ano. Levantamento do UOL com base em dados da Secretaria da Segurança Pública mostra que o número é mais que o dobro do que o de 2022, ano anterior à gestão de Tarcísio.

Quem assinou o pedido de impeachment

  1. Ana Perugini (PT)
  2. Andréa Werner (PSB)
  3. Beth Sahão (PT)
  4. Carlos Giannazi (PSOL)
  5. Donato (PT)
  6. Ediane Maria (PSOL)
  7. Eduardo Suplicy (PT)
  8. Emídio de Souza (PT)
  9. Enio Tatto (PT)
  10. Guilherme Cortez (PSOL)
  11. Jorge do Carmo (PT)
  12. Leci Brandão (PCdoB)
  13. Luiz Claudio Marcolino (PT)
  14. Luiz Fernando T. Ferreira (PT)
  15. Márcia Lia (PT)
  16. Professora Bebel (PT)
  17. Marina Helou (Rede)
  18. Maurici (PT)
  19. Monica Cristina Seixas Bonfim (PSOL)
  20. Paula Nunes dos Santos (PSOL)
  21. Paulo Batista dos Reis (PT)
  22. Paulo Roberto Fiorilo (PT)
  23. Rômulo Fernandes (PT)
  24. Simão Pedro (PT)
  25. Teonilio Barba (PT)
  26. Thainara Faria (PT)

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.