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'Terra dos golpes': Como os militares moldaram a política tailandesa

22/05/2014 12h41Atualizada em 23/05/2014 12h44

O golpe de Estado realizado nesta quinta-feira na Tailândia não é nenhuma novidade no país do Sudeste Asiático. Basta uma rápida análise para verificar que os militares têm tido, com frequência, um papel crucial na política do país. Já ocorreram 11 golpes e sete tentativas desde o fim da monarquia, em 1932, o que dá à Tailândia o duvidoso título de país mais propenso a golpes do mundo.

O direito do Exército de intervir na política da Tailândia é até protegido por lei. Por exemplo: ao anunciar a lei marcial, na terça-feira, o general Prayuth Chan-Ocha citou legislação de 1914 que dá aos militares a autoridade para declarar o estado de exceção durante uma crise.

Intervenções

A Tailândia vive sob um regime constitucional há mais de 80 anos. Mas, na maior parte deste tempo, membros do Exército, e não os civis, ocuparam cargos de liderança. 

O primeiro golpe ocorreu em junho de 1932, com uma revolta sem derramamento de sangue que aboliu a monarquia absoluta tailandesa e introduziu a primeira eleição parlamentar do país.

Seis anos depois, o líder militar Luang Phibun Songkram se transformou no primeiro-ministro do país.

Depois de um curto governo civil que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial, os militares lançaram um golpe em 1947 e permaneceram no poder até 1973.

Após 1973, foram apenas três anos de governo civil seguida de uma violenta repressão a protestos estudantis no país. Com isso, os governo voltou para as mãos dos militares.

Mais golpes e coalizões de governo instáveis se seguiram até 1992, quando manifestantes pró-democracia tomaram as ruas da da capital, Bangcoc, exigindo a volta do governo civil ao país.

O rei Bhumibol Adulyadej entrou nas negociações e pediu a reconciliação entre os generais e os líderes pró-democracia. Veio um acordo, e o líder do Partido Democrático, Chuan Leekpai, assumiu o poder.

O golpe seguinte e o atual

O golpe seguinte - que mudou o quadro político da Tailândia - está na origem do atual impasse no país. Em 2006, o extravagante primeiro-ministro Thaksin Shinawatra foi derrubado depois de ser acusado de corrupção e abuso de poder.

O Exército logo cedeu o poder a um governo civil, mas desde então tem havido uma quebra de braço entre os que apoiam Thaksin e, por extensão, o governo atual - que até recentemente foi liderado pela irmã dele, Yingluck Shinawatra - e os que querem pôr fim à influência dele na política tailandesa.

No começo do mês, em meio à escalada da violência entre os dois lados, o Exército avisou que "poderia precisar (...) restaurar a paz e ordem". O general Prayuth Chan-Ocha disse, na ocasião, que os soldados poderiam ter que acabar com a violência "usando força total".

No começo da semana ele declarou lei marcial, dando a si mesmo poderes para proibir reuniões públicas, restringir a movimentação de pessoas, conduzir buscas, impor toque de recolher e deter suspeitos.

E, nesta quinta-feira, mais um golpe de Estado entrou para a conturbada história tailandesa. O general Chan-Ocha fez um pronunciamento em rede nacional de televisão divulgando a tomada de poder e prometeu restaurar a ordem e fazer reformas políticas.

No pronunciamento, o general afirmou que foi motivado pela "violência em Bangcoc e muitas partes do país, que resultou na perda de vidas inocentes e de patrimônio, e que poderia aumentar". O militar ainda pediu que as pessoas não entrassem em "pânico e continuassem com suas vidas normalmente".

Ainda não se sabe se os militares vão mesmo fazer as reformas políticas prometidas, mas, o Exército voltou nesta quinta feira a mostrar sua força na política da nação.