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Para fugir de "rolezeiros", blocos de SP deixam região da Faria Lima

Região da avenida Faria Lima, nas proximidades do largo da Batata, ficou tomada de foliões no sábado de Carnaval - Osmar Portilho/UOL
Região da avenida Faria Lima, nas proximidades do largo da Batata, ficou tomada de foliões no sábado de Carnaval Imagem: Osmar Portilho/UOL

Nathan Lopes e Patricia Larsen

Do UOL, em São Paulo

03/03/2019 18h02Atualizada em 03/03/2019 19h54

Em razão de confusões registradas nos primeiros dias de folia, os blocos "Me Lembra Que Eu Vou" e "Não Serve, Mestre" vão deixar a região do largo da Batata, na avenida Faria Lima, na zona oeste de São Paulo, e seus desfiles de Carnaval serão realizados amanhã em um outro local. Segundo os organizadores, o novo local será um trecho entre rua Henrique Schaumann, também na zona oeste, até a avenida Rebouças.

Na terça-feira (5), o "Bloco da Latinha Mix", previsto para iniciar as 14h30 na Faria Lima, passou para a avenida Pedro Álvares Cabral, a cerca de seis quilômetros de distância.

A prefeitura confirmou a informação no início da noite deste domingo. "Devido aos incidentes ocorridos ontem e hoje no largo da Batata, quando foram realizados eventos não oficiais, a Secretaria Municipal das Subprefeituras decidiu remanejar, por questão de segurança", diz a nota da prefeitura. 

Reuniões de representantes da administração municipal com organizadores dos blocos foram realizadas ao longo da tarde de hoje. A prefeitura entrou em contato com os organizadores dos blocos por volta da hora do almoço deste domingo para questionar a viabilidade da mudança.

Após blocos na Faria Lima, PM dispersa foliões na noite de sábado

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A prefeitura teria alegado aos organizadores que cerca de sete em cada dez atendimentos médicos na região do largo da Batata foram relacionados a casos de violência. "Vamos ter que mudar aí por conta da exigência da prefeitura sobre casos de violência", comentou Fábio Lopes, presidente do "Não Serve". "Está complicado [na região da Faria Lima]. Muita briga, relato de esfaqueamento."

A polícia chegou a usar bombas para dispersar foliões nas noites de sábado e de hoje. Neste domingo, os artefatos foram utilizados em pelo menos três oportunidades para conter distúrbios.

Procurada, a PM (Polícia Militar) disse que ainda não possui um levantamento sobre ocorrências na região do largo da Batata durante o Carnaval. A reportagem do UOL, porém, notou aumento no policiamento na região em relação aos desfiles de sábado. Uma nova estratégia de segurança também foi notada, deixando os foliões mais concentrados na área do metrô rumo a Pinheiros.

Esquina da avenida Faria Lima com rua dos Pinheiros na noite deste domingo - Osmar Portilho/UOL - Osmar Portilho/UOL
Esquina da avenida Faria Lima com rua dos Pinheiros na noite deste domingo
Imagem: Osmar Portilho/UOL

Folião ou rolezeiro?

"A gente não consegue ver a divisão entre folião e rolezeiro", disse ao UOL o organizador do "Me Lembra", Zé Cury. "Não está sendo Carnaval lá", disse, referindo-se à região do largo da Batata. Lopes concorda. "O folião mesmo tá fugindo daqui", avalia o presidente do "Não Serve".

"A gente percebeu que esse pessoal do batidão está se organizando para ocupar o largo para detonar", comenta Cury.

O novo local de desfile dos blocos fica a pouco menos de dois quilômetros de caminhada do largo da batata e já contato com estrutura de banheiros químicos. Os horários dos blocos estão mantidos. O "Não Serve" sairá às 13h e o "Me Lembra", às 15h. 

A mudança deve afetar o público dos blocos. O "Não Serve" deixou de lado a previsão de receber 30 mil foliões. Agora, não espera nem mil pessoas. Já o "Me Lembra" não estima. "Vai ser um teste", diz Cury, que estima ter entre 40 mil e 50 mil foliões em seu bloco. 

Os organizadores lamentam que um planejamento de meses para a folia deste ano seja deixado de lado a um dia do desfile de 2019, mas acreditam que a medida representa segurança para seu público. "Tenho menos de 24 horas para mudar um negócio que eu demorei dez meses para fazer. Não podemos colocar a integridade física das pessoas em risco", comenta Lopes. 

O presidente do "Não Serve" ainda precisa entrar em tratativas com os patrocinadores dos blocos após a decisão de mudança do local. "Estamos numa negociação ferrenha. Toda ativação estava programada para se fazer aqui [na Faria Lima]", disse, temendo sofrer processo por quebra de contrato. 

Tanto Lopes quanto Cury concordam que o problema não é o local, mas o esquema de segurança. "O problema não é o lugar, é você disponibilizar segurança pública suficiente", disse o presidente do "Não Serve", sugerindo que a PM faça um trabalho para coibir ações de violências nos blocos.

São Paulo