Jamil Chade

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Em resolução na ONU, mais de 50 países pedem cessar-fogo imediato

Com o Conselho de Segurança bloqueado por uma disputa entre as potências que impede que uma decisão seja tomada, mais de 50 países se unem para apresentar na Assembleia Geral da ONU um projeto de resolução que pede um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, rejeita a evacuação da população e nega a transferência dos palestinos para outro território.

O documento foi entregue nesta terça-feira e servirá de base para o debate que ocorre na quinta-feira, quando a Assembleia se reúne em caráter de emergência. O texto é apoiado por todos os países árabes, além de aliados africanos, asiáticos e mesmo latino-americanos.

A iniciativa ocorre horas depois de o Conselho de Segurança ter vivido uma de suas sessões mais tensas em anos e num reflexo do racha entre potências sobre como lidar com a crise no Oriente Médio.

O governo de Israel já declarou nesta terça-feira, na ONU, que é contra um cessar-fogo e chegou a pedir a renúncia do secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres. O português havia dito que os ataques do Hamas não tinham ocorrido no vácuo e que era importante levar em consideração os 56 anos de ocupação israelense dos territórios palestinos.

A nova iniciativa foi a forma encontrada pelos governos para driblar os vetos que estão sendo impostos no Conselho de Segurança e que impedem a aprovação de resoluções. Dois textos já foram submetidos ao voto — um russo e outro brasileiro — e ambos foram rejeitados pelos EUA.

Nesta semana, o governo americano apresentou uma resolução própria. Mas o governo russo já avisou que irá vetar, alegando que ela "não faz sentido". Os países árabes também denunciam o texto da Casa Branca, alegando que não há um pedido por um cessar-fogo.

Em contrapartida, Moscou anunciou que terá mais um texto de sua autoria. Desta vez, o Kremlin critica o Hamas. Mas deixa de fora o direito de Israel à autodefesa, uma exigência da Casa Branca.

Entre diplomatas, a percepção é que o projeto de Vladimir Putin será, uma vez mais, vetado pelos americanos.

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Para sair desse impasse, o grupo de países quer um voto na Assembleia Geral, onde uma maioria absoluta seria suficiente para aprovar o texto. Uma resolução aprovada fora do Conselho de Segurança apenas tem um caráter de recomendação, mas a aposta é de que uma ampla maioria pode mostrar o isolamento de americanos e israelenses.

Além do cessar-fogo, o texto pede um acesso imediato para a entrega de bens humanitários em Gaza, a liberação de reféns. A resolução, porém, não menciona o Hamas, o que será considerado por americanos e israelenses como inaceitável.

Eis o documento completo:

1. Solicita um cessar-fogo imediato;

2. Exige que todas as partes cumpram imediata e integralmente suas obrigações de acordo com o direito internacional, incluindo o direito humanitário internacional e o direito internacional dos direitos humanos, particularmente no que diz respeito à proteção de civis e objetos civis, bem como à proteção de pessoal e bens humanitários, e que permitam e facilitem o acesso humanitário para que suprimentos e serviços essenciais cheguem a todos os civis necessitados na Faixa de Gaza;

3. Exige também o fornecimento imediato, contínuo, suficiente e desimpedido de bens e serviços essenciais aos civis em toda a Faixa de Gaza, incluindo, entre outros, água, alimentos, suprimentos médicos, combustível e eletricidade, enfatizando o imperativo, de acordo com o direito humanitário internacional, de garantir que os civis não sejam privados de objetos indispensáveis à sua sobrevivência;

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4. Solicita acesso humanitário imediato, total, sustentado, seguro e desimpedido para a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina e outras agências humanitárias das Nações Unidas e seus parceiros de implementação, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e todas as outras organizações humanitárias, defendendo os princípios humanitários e prestando assistência urgente aos civis na Faixa de Gaza, incentiva o estabelecimento de corredores humanitários e outras iniciativas para facilitar a entrega de ajuda humanitária aos civis e saúda os esforços nesse sentido;

5. Solicita também a revogação da ordem de Israel, a potência ocupante, para que os civis palestinos e o pessoal das Nações Unidas, bem como os trabalhadores humanitários e médicos, evacuem todas as áreas da Faixa de Gaza ao norte de Wadi Gaza e se desloquem para o sul de Gaza; recorda e reitera que os civis são protegidos pelo direito humanitário internacional e devem receber assistência humanitária onde quer que estejam, e reitera a necessidade de tomar as medidas adequadas para garantir a segurança e o bem-estar dos civis e sua proteção, em particular das crianças, e permitir sua movimentação segura;

6. Rejeita firmemente qualquer tentativa de transferência forçada da população civil palestina;

7. Solicita a libertação imediata de todos os civis, exigindo sua segurança, bem-estar e tratamento humano em conformidade com o direito internacional;

8. Solicita o respeito e a proteção, de acordo com o direito humanitário internacional, de todas as instalações civis e humanitárias, incluindo hospitais e outras instalações médicas, bem como seus meios de transporte e equipamentos, escolas, locais de culto e instalações das Nações Unidas, bem como todo o pessoal humanitário e médico, jornalistas, profissionais da mídia e pessoal associado em conflitos armados na região;

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