Josmar Jozino

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Reportagem

Caso Gritzbach: Quem são e como agiam alvos de delator do PCC, segundo a PF

Um relatório da Polícia Federal com mais de 700 páginas detalha a atuação de cada um dos oito alvos investigados no bojo da Operação Tacitus, deflagrada na terça-feira (17) para desarticular uma organização criminosa voltada à lavagem de dinheiro e crimes contra a administração pública.

Os alvos foram denunciados à Corregedoria da Polícia Civil e ao Ministério Público Estadual pelo empresário Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, assassinado a tiros em 8 de novembro deste ano no aeroporto internacional de Guarulhos.

Os acusados são um delegado, quatro investigadores, um advogado e dois empresários. Até a conclusão deste texto, apenas o investigador Rogério de Almeida Felício não havia sido preso.

Veja as principais acusações envolvendo cada um deles.

Ademir Pereira de Andrade

É um importante empresário na engrenagem de lavagem de dinheiro do PCC (Primeiro Comando da Capital), por meio da negociação de imóveis —principalmente no bairro do Tatuapé, em São Paulo, e na Riviera de São Lourenço, em Bertioga (SP).

Segundo a PF, o empresário teria ligações com Kauê do Amaral Coelho, 33, apontado como o olheiro que viu Gritzbach sair do terminal 2 do aeroporto e que avisou os dois homens que executaram a vítima. Ademir teria dezenas de imóveis, sendo mais de 40 apenas no Tatuapé. A PF diz que ele e Kauê já foram defendidos pelos mesmos advogados.

Eduardo Lopes Monteiro

É investigador e possui parentesco com a atual corregedora-geral da Polícia Civil do Estado de São Paulo, Rosemeire Monteiro de Francisco Ibañez.

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Gritzbach acusou Eduardo e o delegado Fábio Baena Martin de diversos crimes funcionais. Os dois policiais teriam tratado a prisão de Gritzbach de maneira comemorativa com os termos "cana de bi", "cana de milhões" e "estamos ricos" —em referência à possibilidade de extorqui-lo.

Gritzbach afirmou que foi encaminhado ao DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), porém não foi interrogado sobre o duplo homicídio que lhe haviam imputado como mandante. Vinícius era acusado de mandar matar Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, e Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue, no Tatuapé, na zona leste da capital paulista, em 2021.

O empresário alegou também que a equipe do DHPP não procedeu de maneira legal e formal à apreensão de seus objetos pessoais: 15 relógios de alto valor, joias, telefones celulares, computadores, cheques e R$ 20 mil que guardava em uma bolsa.

Segundo Gritzbach, a equipe policial devolveu ao seu advogado Ivelton Salotto, no mesmo dia da prisão, seu telefone celular, seu computador, os cheques e apenas dez relógios. Os policiais civis não teriam restituído cinco relógios, as joias e a quantia total em dinheiro que havia na bolsa.

Fábio Baena Martin

É delegado. De acordo com o relatório, ele e Eduardo Monteiro teriam recebido, cada um, R$ 5 milhões para não prenderem Rafael Maeda Pires (vulgo Japa) e Danilo Lima de Oliveira (vulgo Tripa), ligados ao PCC. Os dois policiais também foram acusados de pedir R$ 40 milhões a Gritzbach para livrá-lo do inquérito de duplo homicídio.

Marcelo Roberto Ruggieri, vulgo Xará

É um investigador condenado por utilizar o cargo público para interesses privados. Ele foi considerado culpado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por advocacia administrativa, após ter ajudado Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, a emitir uma segunda via do documento de identidade com nome falso.

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Na ocasião, em abril de 2021, Ruggieri pediu o documento para Cara Preta alegando que seria para um parente, que estaria precisando da identidade para uma viagem. Nessa empreitada, teria recebido ajuda do policial Rodrigo Pires. Ambos teriam voltado diversas vezes ao local até que a documentação ficasse pronta.

Em depoimento no dia 16 de julho, Gritzbach contou que vendeu um apartamento para Marcelo, que colocou o imóvel em nome do filho. O responsável pelos pagamentos teria sido Rafael Maeda, o Japa. Os pagamentos teriam sido realizados por meio de TED e na conta da construtora, feitos em nome de uma terceira pessoa.

Robinson Granger, vulgo Molly

É apontado como um dos maiores articulares das ações ilícitas do PCC e suspeito de participação no assassinato de Gritzbach.

Após ser sequestrado pelo Tribunal do Crime do PCC, em janeiro de 2022, Gritzbach voltou para casa, onde teria ligado para Robinson, pedindo que fosse ao seu encontro, em seu prédio, para saber o que estava acontecendo.

Ao chegar ao local, Robinson teria dito ao empresário que a ação não passava de um mal entendido e que seria esclarecida. Na sequência, Robinson teria descido para a garagem do prédio, onde estava Rafael e Didi. A dupla ameaçou Gritzbach e o acompanhou até o apartamento dele, em busca de informações e documentos.

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Há indícios, segundo a PF, de que Robinson atuaria no tráfico de drogas, com viagens frequentes aos principais países produtores de cocaína, como Bolívia, Colômbia e Peru.

Marcelo Souza, vulgo Bombom

É investigador de polícia. Bombom e Marcelo Ruggieri, o Xará, seriam responsáveis por fazer os acertos de membros do PCC com policiais corruptos.

O relatório da PF, aponta como "clara" a relação "promiscua" que o Xará mantinha com membros da alta cúpula do PCC —com destaque para Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta, e Rafael Maeda, o Japa.

Rogério de Almeida Felício

É investigador. O relatório aponta indícios de crimes funcionais praticados por ele, pois há fotografias em que é possível observá-lo usando relógios dos modelos e marcas de Vinícius Gritzbach. Há também áudios do investigador Eduardo Lopes Monteiro e do delegado Fábio Baena Martin mencionando provavelmente os relógios e um sítio que teriam sido subtraídos do delator Gritzbach.

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Rogério é atualmente casado com Danielle Bezerra dos Santos, ex-mulher de Felipe Geremias dos Santos (vulgo Alemão), apontado em diversas investigações policiais como Sintonia do PCC. Eles são também sócios em duas empresas.

A condição financeira de Rogério, segundo o relatório, é incompatível com a realidade de um policial civil a partir de "várias operações financeiras suspeitas". Para a PF, assim como Eduardo e Baena, Rogério estaria envolvido em casos de corrupção relacionados ao PCC.

Bombom e Xará eram "as pessoas que faziam os acertos" —em alusão à corrupção dentro das estruturas da Polícia Civil do Estado de São Paulo. Bombom teria confessado, em ligação a Gritzbach, que preferiria "fazer um acerto" com o empresário do que agir contra ele.

Ahmed Hassan Saleh, vulgo Dr. Mudi

É advogado. Segundo o relatório da PF, ele recebeu R$ 400 mil do alto escalão do PCC para influenciar as eleições municipais em São Paulo. É apontado como um dos indivíduos mais importantes na lavagem de dinheiro do PCC.

Ahmed Saleh , Silvio Luiz Ferreira (vulgo Cebola), Robinson Granger de Moura, Rafael Maeda e Ademir Pereira foram delatados por Gritzbach como responsáveis por possíveis processos de lavagem de dinheiro, realizados, principalmente, por meio da aquisição e locação de imóveis.

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Gritzbach expõe diversos negócios imobiliários que teriam servido de lavagem de dinheiro em prol de Cara Preta, membro da cúpula do PCC. Entre eles, há contratos celebrados pela Porte Engenharia e Urbanismo e a empresa administrada por Ahmed Hassan Saleh, a AHS Empreendimentos.

Saleh, além de ter sido um dos alvos da delação, teria ameaçado Gritzbach de morte, oferecendo a quantia R$ 3 milhões por sua cabeça a policiais civis corruptos.

Reportagem

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