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Metroviários de SP aprovam greve nesta quinta-feira, a uma semana da Copa

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

04/06/2014 19h47Atualizada em 05/06/2014 01h20

Em assembleia na noite desta quarta-feira (4), metroviários de São Paulo decidiram entrar em greve por tempo indeterminado a partir de 0h desta quinta-feira (5), a uma semana do início da Copa do Mundo.

A assembleia foi realizada na quadra da sede do Sindicato dos Metroviários, que fica no Tatuapé, zona leste da capital. A paralisação foi aprovada por unanimidade.

O TRT (Tribunal Regional do Trabalho) concedeu uma liminar, em nome da Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado e da Companhia do Metropolitano de São Paulo, que determina que os metroviários mantenham 100% da frota em operação nos horários de pico, e ao menos 70% dos trens em circulação no restante do período. A liminar prevê multa diária de R$ 100 mil ao sindicato caso os termos sejam descumpridos.

Os metroviários, no entanto, dizem que não vão cumprir a decisão porque até o momento em que a greve foi aprovada eles não haviam sido informados da liminar. "Até a hora que assembleia aprovou a greve não tinha chegado nenhuma decisão para nós. Então amanhã vai ter greve", afirmou Altino Melo Prazeres, presidente do sindicato.

Com a greve, deixam de funcionar as linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 5-Lilás. A Linha 4-Amarela, administrada por um grupo privado, irá funcionar normalmente.

Cerca de 4,5 milhões de pessoas usam diariamente o Metrô, que é o principal meio de transporte para o Itaquerão, estádio que abrirá o Mundial no dia 12. O Metrô tem quase 10 mil funcionários, dois terços deles envolvidos diretamente na operação.

A CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), além de manter o funcionamento normal de todas as linhas, anunciou que aumentará o número de trens em circulação em todas as linhas. A empresa informou que a estação Itaquera (linha 11-Coral), que funciona de maneira integrada à estação Corinthians-Itaquera da linha 3-Vermelha do Metrô, permanecerá fechada durante a paralisação dos metroviários.



A SPTrans informou que acionará o Paese (Plano de Atendimento entre Empresas de Transporte em Situação de Emergência), medida que colocará ônibus para circular nos trajetos das linhas de metrô.

Em razão da greve, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) de São Paulo decidiu suspender o rodízio municipal de veículos na capital na quinta. Com a medida, veículos com placas final 7 e 8 podem circular livremente, sem risco de multa. Os agentes da CET também decidiram entrar em greve --por tempo indeterminado--, a partir desta quinta-feira (5).

 


Paralisação havia sido anunciada no dia 27; categoria quer reajuste de 16,5%


A greve havia sido anunciada pela categoria no último dia 27. Desde então, metroviários e a direção do Metrô-SP tentaram chegar a um entendimento. Na tarde de hoje, representantes do sindicato e do Metrô realizaram a terceira reunião de conciliação no TRT (Tribunal Regional do Trabalho), mas novamente não houve acordo.

Os trabalhadores pedem reajuste de 16,5% nos salários e demais benefícios, plano de carreira --em especial para funcionários da segurança e da manutenção--, além de outras reivindicações, como aumento na PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e auxílio-creche.


Inicialmente, o Metrô ofereceu reajuste de 5,2%. Na semana passada, a companhia subiu a proposta para 7,8%. Na reunião de hoje, o Metrô ofereceu reajuste de 8,7%, vale-refeição mensal de R$ 669,16 e vale-alimentação mensal de R$ 290. Juntos, os reajustes resultariam em um aumento de 10,6% a 13,3% nos rendimentos da categoria.

Metrô preocupado

O presidente do Metrô, Luiz Antonio Carvalho Pacheco disse na tarde de hoje que vê "com muita preocupação" uma greve da categoria às vésperas da Copa. Ele ainda criticou o fato de alguns operadores de trens terem usado a comunicação sonora das composições para alertar a população sobre o risco de greve.

"Não é uma atitude correta e, na nossa opinião, fere as condições de paz. Tivemos também que chamar a polícia porque a manifestação dos metroviários na Sé foi tumultuada." O dirigente afirmou que um plano de contingenciamento pode ser adotado em caso de greve, com alguns supervisores tentando operar parte das linhas --medida criticada pelo sindicato, que a acusa de ser arriscada.


Segundo a assessoria do TRT, “as tratativas avançaram”, mas não houve acordo sobre o reajuste salarial, nem sobre o plano de carreira. O tribunal espera que as negociações prossigam até que as partes cheguem a um acordo. 


O TRT-2 invocou novamente a “cláusula de paz” para que os metroviários não realizem greve em respeito à população. Já existe um pedido cautelar para manutenção de efetivo mínimo de funcionários, que só será julgado caso haja interrupção nos serviços.  


Liberação de catracas

Segundo Raquel Amorim, agente de segurança e diretoria do sindicato, não foi colocada em votação, na assembleia de hoje, a proposta de liberação das catracas, em vez da paralisação dos serviços. A sindicalista afirmou que esta proposta já foi rejeitada pela categoria em duas assembleias anteriores.


“A liberação das catracas tem implicações legais. O metroviário pode ser demitido por justa causa ou até ser preso. A categoria tem medo. O nosso foco ao falar de catraca livre é dialogar com o governador Geraldo Alckmin (PSDB), que já se negou a liberar. É ele quem pode autorizar. Nós somos funcionários públicos”, afirmou. 


Ameaça de greve para pressionar

Nos últimos anos, a praxe do Sindicato dos Metroviários tem sido aprovar greves com antecedência para forçar o Metrô a subir as propostas. Nos anos de 20102011 e 2013, a categoria chegou a anunciar a paralisação, mas desistiu diante de propostas melhores.


A exceção ocorreu em 2012, quando os metroviários paralisaram por algumas horas, no período da manhã, o que revoltou o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Naquele ano, a categoria fechou acordo de reajuste de 6,17% e encerrou a greve. 

Desde 2011, o Sindicato dos Metroviários é comandando por dirigentes ligados ao PSTU e ao PSOL. O grupo que está no poder do sindicato derrotou uma chapa ligada ao PCdoB, que estava há anos na direção da entidade.