Vale diz que acabará com barragens e paralisa operações em 10 minas
Após o rompimento de barragem da Mina do Córrego do Feijão, a Vale anunciou nesta terça-feira (29), por meio de seu diretor-presidente, Fabio Schvartsman, que interromperá as atividades de mineração em locais próximos a barragens de rejeitos como as de Mariana e Brumadinho.
O executivo afirmou também que acabará com 19 estruturas como essas - as chamadas "barragens a montante", em um processo que deverá se estender entre três e cinco anos, a depender da localidade.
"A resposta da Vale [em relação a Brumadinho] foi de olhar em seu próprio portfólio de barragens. Verificamos que temos 19 barragens que utilizam o método a montante. Dessas, 9 já estão sendo descomissionadas. As outras 10 estavam em projeto de descomissionamento também, mas agora decidimos que não podemos mais conviver com esse tipo de barragem.", disse Schvartsman.
Enquanto as barragens são extintas, disse Schvartsman, as operações de mineração estarão interrompidas. O executivo explicou que, ainda que as barragens não recebam mais rejeitos, atividades de mineração nas proximidades podem causar interferências nas estruturas.
Para realizar as obras, a Vale vai paralisar temporariamente a produção nas unidades:
- Abóboras, Vargem Grande, Capitão do Mato e Tamanduá, no complexo Vargem Grande
- Jangada, Fábrica, Segredo, João Pereira e Alto Bandeira, no complexo Paraopeba
Impacto
Com isso, a empresa deixará de produzir 40 milhões de toneladas de minério de ferro, segundo o presidente da empresa. O volume representa a 10% da produção anual do minério - exportado principalmente para a China.
A decisão implicará na interrupção de dez barragens da Vale, todas em Minas Gerais, segundo o anúncio de Schvartsman. Ele afirmou que as barragens úmidas, como a de Brumadinho, já não são utilizadas pela empresa.
"Esse é o único jeito de fazer esse descomissionamento. Se não for assim, aí temos um risco sério de desmoronamento", afirmou o presidente.
A Vale já descomissionou 9 das 19 barragens 'úmidas', ou seja, estas estruturas já deixaram de existir; as outras dez passarão por um licenciamento ambiental e, a partir disso, começarão a ser totalmente desativadas.
"Com isso elas vão deixar de existir e serão integradas ao meio ambiente. Vamos devolver à natureza, elas deixarão de ter qualquer característica de barragem", afirmou Fabio Schvartsman.
Uma dessas 19 barragens que estão passando por esse processo de desativação era justamente a de Brumadinho, que rompeu e deixou pelo menos 84 mortos. Segundo o presidente, em até 45 dias a mineradora vai apresentar planos para o licenciamento ambiental. A partir disso, as barragens serão desativadas em um período de 1 a 3 anos.
"Haverá paralisação de um, dois ou três anos, a depender de cada barragem. Mas estimamos que em até três anos todas essas barragens serão entregues à natureza", afirmou Fabio Schvartsman.
Schvartsman disse que a interrupção das atividades afetará a atividade econômica e o emprego nas regiões em que estão. "É um assunto que teria que ser tratado com cuidado", disse o líder da empresa. O plano foi produzido três dias após a queda da barragem em Brumadinho e apresentado nesta terça-feira (29) para os ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia.
Em relação aos rejeitos de minério que serão "devolvidos", Fabio Schvartsman afirmou que as estruturas serão transformadas em "tijolos, ou alguma outra coisa" ou "podem ser cobertas."
A Vale deve investir pelo menos R$ 5 bilhões nesse processo de desativação das barragens, e o plano será realizado por uma empresa terceirizada. "A partir do dia que conseguirmos as licenças ambientais, aproximadamente dois meses depois vamos parar nossas operações", afirmou Schvartsman.
'Laudos internacionais'
"É fundamental ressaltar que temos laudos e auditorias que comprovam a segurança dessas barragens. Nossas estruturas estão em perfeito estado. Resolvemos não aceitar esses laudos e agir de outra maneira", afirmou o presidente da Vale.
Nesta terça, dois engenheiros que atestaram a estabilidade da barragem de Brumadinho e três funcionários da Vale responsáveis pelo local e seu licenciamento foram presos.
Questionado se o governo federal exerceu alguma pressão para destituir a atual diretoria da empresa, Schvartsman afirmou que a discussão com os políticos foi "estritamente técnica". "Em nenhum momento ouvi falar de intervenção, não houve qualquer tipo de pressão", argumentou.
"Frise-se que boa parte dessa diretoria ainda não estava na empresa quando houve o desastre de Mariana. A maioria de nós está aqui há menos de um ano e meio", argumentou Schvartsman.
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