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Tragédia em Brumadinho

E quando acabarem os R$ 80 milhões da Vale?, diz prefeito de Brumadinho

Avimar de Melo Barcelos (PV) diz que repasse da Vale é insuficiente para despesas do município - Luciana Amaral / UOL
Avimar de Melo Barcelos (PV) diz que repasse da Vale é insuficiente para despesas do município Imagem: Luciana Amaral / UOL

Luciana Amaral

Do UOL, em Brumadinho (MG)

08/02/2019 04h01

Enquanto Brumadinho (MG) ainda tenta entender a dimensão dos danos causados pela lama que vazou da barragem da Vale há duas semanas (há ao menos 157 mortos e 182 desaparecidos), já é grande também a preocupação com o futuro da cidade.

"Além das arrecadações indiretas da gente, que foram todas afetadas, através da Vale que estourou a barragem dela, a Justiça já fechou mais duas minerações dentro do município que geravam emprego e renda", disse ao UOL Avimar de Melo Barcelos (PV), prefeito do município de 40 mil habitantes.

Mapa Brumadinho - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL
Extremamente dependente dos impostos advindos da mineração, como a CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais), Brumadinho não tem alternativas, até agora, para garantir sua saúde financeira. O turismo gerado pelo Instituto Inhotim, na cidade, não representa uma parcela significativa para bancar as despesas, diz o prefeito.

Além disso, um dos compromissos firmados pela Vale para amenizar os efeitos da catástrofe -- pagamento de R$ 80 milhões, divididos ao longo de dois anos, o que corresponde a pouco mais de R$ 3 milhões por mês -- não é suficiente para as despesas atuais da cidade e deixa dúvidas sobre como se manter depois. 

"E logo depois que acabar esses R$ 80 milhões?", pergunta-se o Neném da Asa - como Barcelos também é conhecido, por ser dono da faculdade Asa, a única da cidade.

Em breve entrevista nesta quinta, Barcelos falou sobre a situação financeira de Brumadinho, um suposto silêncio do governo estadual, seu sentimento de falta de apoio do governo federal e, ainda, sobre como está sendo cobrado pela população por uma verba prometida que não recebeu.

Confira os principais trechos da conversa:

A Vale prometeu pagar R$ 80 milhões ao longo de dois anos. É suficiente?

Não, de forma nenhuma. Além das arrecadações indiretas da gente, que foram todas afetadas, através da Vale que estourou a barragem dela, a Justiça já fechou mais duas minerações dentro do município que geravam emprego e renda. Os caminhoneiros estão todos parados, a situação está complicada. E logo depois que acabar esses R$ 80 milhões? 

Quanto a Vale pagava por ano, mais ou menos, de CFEM?

Mais ou menos R$ 50 milhões por ano. Ela está oferecendo R$ 80 milhões. Seria [necessário] mais ou menos R$ 100 milhões durante dois anos. 

Qual o impacto da tragédia para as finanças do município?

Se eles não continuarem nos ajudando após esses dois anos, nós não vamos conseguir trabalhar mais. A nossa cidade vai fechar. 

O governo estadual já entrou em contato com o senhor?

Não, não fizeram contato de nada ainda. (...) Às vezes vai liberar o dinheiro daqui a três anos, quatro anos. Aí o município já faliu. Nós queremos ajuda do governo do estado e do governo federal. Que eles venham nos procurar também. Saber o que estamos precisando, o que pode ser feito. Porque eu estou te falando...Ddaqui a dois anos nós não temos mais o que fazer com a cidade. Quase 50% da nossa arrecadação advém do minério. E, desses 50%, 40% é a Vale. 

De quanto foi a arrecadação total do município no ano passado?

R$ 167 milhões. Vamos por uns R$ 80 milhões que vêm da mineração. Aí é praticamente R$ 50 milhões da Vale e R$ 30 milhões das outras mineradoras.

O porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, anunciou que o governo federal ia liberar R$ 800 milhões para ações de emergência em Brumadinho. O senhor diz que não recebeu o dinheiro. Se sentiu enganado? Ele enganou as pessoas?

Não vou dizer que ele enganou. Às vezes ele se equivocou mesmo, mas ele fala isso para a população e a população vem toda em cima de mim falar: "olha, o senhor está com R$ 800 milhões. O senhor está reclamando de quê? Tem que reclamar de nada não". Muita gente me ligou falando. "O governo federal determinou que vai depositar R$ 800 milhões na conta de Brumadinho", sendo que o depósito é para a pasta do governo federal toda para isso. Para a Defesa Civil toda. Não vou falar que eu me senti enganado, mas a população se sentiu enganada também. 

O senhor acha que a população foi enganada pelo governo federal?

Pelo governo federal, exatamente. Não se pode falar um negócio desses. Porque senão ele atrapalha até eu com a população, né? Meu convívio com a população. "O senhor está enganando a gente. O senhor está enganando isso e tal". Até você provar, principalmente, para as pessoas que são menos instruídas, você não consegue provar isso. Ela não entra no site da prefeitura, ela não entra em nada. Então, se ela vê na televisão, ela fala que o município está milionário.

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Muita gente te ligou?

Muita gente. Dia e noite. Nós estamos em luto mesmo na nossa cidade, muito triste mesmo. 

Moradores do Parque da Cachoeira (um dos bairros mais destruídos pela lama) falam que a prefeitura não fazia muita coisa lá. Antes não havia nem médico, e agora tem campanha de vacinação...

Em toda tragédia que acontece, realmente o número de efetivos, veículo, inclusive da Vale...nós temos 300 pessoas da Vale ajudando. Não é que colocamos efetivo a mais. Temos efetivo dos funcionários da Vale que estão lá. Mas nossa obrigação é ter médico duas vezes por semana, porque lá é interior, lá eles custam ir num médico. O enfermeiro vai com o médico. Temos dois auxiliares de enfermagem que ficam lá. Então, a atenção é muito boa, tá certo? Eu acho que não é verdade isso. A gente sempre deu uma atenção. Nós somos considerados na região metropolitana entre as três melhores redes de saúde. A saúde nossa, o atendimento nosso, é VIP. Tem gente que vem de outras cidades.

Estou falando do relato dos moradores.

Eu sei. Mas, às vezes, as pessoas reclamam também, sabe...tem muita coisa e reclama ainda. Mas nós temos uma atenção muito especial lá para o Córrego do Feijão. Tanto que a nossa secretária de Ação Social que faleceu era de lá. Então, ela exigia tudo para lá a todo momento.

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