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Janones adota tática bolsonarista e espalha fake news; veja principais

Em live no Facebook, Janones disse que Collor será ministro se Bolsonaro for reeleito - Reprodução/Facebook
Em live no Facebook, Janones disse que Collor será ministro se Bolsonaro for reeleito Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Pulo

12/10/2022 04h04Atualizada em 12/10/2022 08h57

Apoiador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o deputado federal André Janones (Avante-MG) acentuou nos últimos dias uma estratégia típica de aliados e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL): a disseminação de notícias falsas. Com a aproximação do segundo turno das eleições, o congressista tem espalhado uma série de mentiras e exageros contra o atual chefe do Executivo e seu governo.

Em publicações no Twitter e no Facebook desde 2 de outubro, Janones afirmou que Bolsonaro pode transformar o senador Fernando Collor (PTB) em ministro para confiscar aposentadorias e extinguir o Auxílio Brasil. Além disso, escreveu que o presidente "fez um pacto com seita maçônica" para vencer a eleição e tem um acordo para não extraditar o ex-jogador Robinho em troca de apoio.

Como Janones tem atuado? Janones foi pré-candidato à Presidência e vinha tendo cerca de 2% nas pesquisas de intenção de voto até que, no início de agosto, abriu mão da disputa para apoiar Lula. A partir dali, passou a ser uma das principais referências da campanha digital do petista, apesar de não integrar formalmente a equipe.

Antes do primeiro turno, o parlamentar já havia sido punido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por atribuir ao PL, partido de Bolsonaro, a decisão de derrubar o piso salarial nacional da enfermagem, o que foi na verdade uma medida do STF (Supremo Tribunal Federal). Com o início do segundo turno, contudo, o parlamentar aumentou o volume dos ataques.

Janones reconhece abertamente estar em uma guerra digital com os bolsonaristas, que são frequentemente punidos pelo TSE pela divulgação de fake news. Nas redes, ele tem afirmado que sua estratégia é fazer o bolsonarismo "provar do próprio veneno".

Apenas na última semana, os apoiadores do presidente foram obrigados a apagar conteúdos que associavam Lula ao satanismo, à manipulação de urnas eletrônicas e à morte do ex-prefeito Celso Daniel.

Também foram barradas pela Justiça Eleitoral publicações sobre uma falsa distribuição de "kits eróticos" pelo PT no Ceará e um falso plano para assassinar Bolsonaro, além de um vídeo em que o deputado eleito Nikolas Ferreira (PL-MG) relaciona Lula ao fechamento de igrejas e ao incentivo do uso de drogas por crianças e adolescentes.

O que significa a tática de Janones? Para a cientista política Tathiana Chicarino, professora da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), o parlamentar mineiro tem desempenhado papéis que a campanha oficial de Lula não assume. Enquanto a retórica do petista aposta em um discurso de esperança, Janones se aproxima do bolsonarismo ao apelar para o medo.

Nesta eleição, nós temos uma mobilização muito grande de afetos, de sentimentos que mexem com o coletivo. A campanha de Bolsonaro só incita afetos negativos: medo, ojeriza, quase um pavor na perspectiva da vitória do adversário. A eleição está marcada por isso"
Tathiana Chicarino, professora de sociologia e política na FESPSP

No Twitter, a postura de Janones divide opiniões de eleitores de Lula. Enquanto alguns consideram que ele se "rebaixa" ao nível dos oponentes, outros consideram que é necessário jogar com as mesmas armas para vencer as eleições.

Veja as fake news divulgadas por ele nos últimos dias e o que o deputado disse ao UOL sobre cada uma delas:

Collor será ministro e vai confiscar poupança

No último dia 7, Janones anunciou no Twitter que faria uma transmissão ao vivo no Facebook para apresentar uma "bala de prata" contra Bolsonaro. Na live, ele afirmou que o senador e ex-presidente Collor poderá se tornar ministro de Bolsonaro em caso de reeleição.

Como consequência, segundo o deputado, benefícios sociais e aposentadorias seriam confiscados. "O Collor tá voltando como ministro da Previdência, muito provavelmente, e os benefícios sociais que o povo brasileiro conquistou com tanta luta, como o Auxílio Brasil e talvez até mesmo as aposentadorias e as pensões, começam a correr risco", disse Janones.

No vídeo, Janones diz que a derrota eleitoral de Collor seria um indício de que Bolsonaro, se vencer, "deve nomeá-lo como ministro". Como "provas", o parlamentar mostrou fotos de ambos lado a lado em eventos políticos recentes.

É verdade que Collor é apoiador de Bolsonaro, tem frequentado palanques do presidente no Nordeste e vem buscando aproximação com o Planalto ao longo de seu mandato no Senado, que se encerra em janeiro de 2023.

Não há, todavia, nenhum indício concreto de que ele estará em um eventual novo governo bolsonarista ou de que fará qualquer confisco. Em entrevista a um podcast após a disseminação do vídeo, Bolsonaro negou a intenção de colocar Collor na Esplanada, dizendo que Janones tirou a informação "da cabeça dele".

O que diz Janones? "Eu opinei, assim como o Bolsonaro, de forma legitima, quando diz que José Dirceu será ministro em caso de vitória de Lula. É a mesma base, a gente vê a relação próxima, eles estão sempre juntos e o Collor abriu mão de um mandato para servir palanque ao Bolsonaro, isso não foi de graça."

Collor e Bolsonaro - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Collor é próximo de Bolsonaro, mas não há indícios de que seria ministro em um eventual novo governo
Imagem: Reprodução/Facebook

Auxílio Brasil será extinto no ano que vem

Desde agosto, ainda antes do início oficial da campanha, Janones afirmou em mais de uma ocasião que o Auxílio Brasil será extinto no ano que vem se Bolsonaro vencer a eleição. No dia 10 daquele mês, ele fez uma transmissão ao vivo com o título "urgente ao vivo: você vai perder seu auxílio! Só vocês e Deus podem me ajudar a impedir".

O Auxílio Brasil, no entanto, não pode ser extinto a partir de janeiro, porque está previsto em lei. A dúvida é em relação ao valor: no Orçamento de 2023 enviado ao Congresso em agosto, o governo propõe um valor médio de R$ 405,21. Bolsonaro e o Planalto, contudo, têm afirmado que vão buscar "soluções" para manter o valor nos R$ 600 que são pagos hoje.

O que diz Janones? "Eu nunca disse que o Auxílio Brasil não será mais pago, eu apresentei emenda para que o auxílio de R$ 400 fosse permanente. Eu disse que o Auxílio emergencial, que na EC [emenda constitucional] tem seu último pagamento confirmado para 26 de dezembro de 2022, no valor de R$ 200, acaba neste ano (como está no texto da lei)."

Janones, no entanto, faz confusão entre os dois benefícios. O auxílio emergencial foi pago por ocasião da pandemia, entre abril de 2020 e dezembro de 2021. Quando ele fez a live em agosto deste ano, portanto, o único benefício em vigor — que ele afirmou que acabará no ano que vem — é o Auxílio Brasil.

Bolsonaro "fez pacto com seita maçônica"

Na manhã de 4 de outubro, dois dias após o primeiro turno, viralizou nas redes sociais um vídeo de 2017 em que Bolsonaro discursa em uma loja maçônica, em 2017. As imagens foram compartilhadas com o objetivo de atingir os eleitores evangélicos bolsonaristas, já que as principais igrejas cristãs no Brasil se opõem à maçonaria.

No mesmo dia em que o vídeo se espalhou, Janones fez uma transmissão ao vivo em frente ao templo de Salomão, em São Paulo, com o título: "Bolsonaro faz pacto com seita maçônica pra vencer eleição". Na live, contudo, ele contradisse o título da publicação, ao dizer que não sabe o que Bolsonaro fez na maçonaria.

"A gente não sabe o que o Bolsonaro negociou lá na maçonaria para eles apoiarem ele. Então, não estou dizendo que ele fez isso. Mas eu não posso garantir, por exemplo, que ele não negociou em nome dos próprios eleitores", afirmou. Não há notícias, no entanto, que apontem que o presidente tenha feito qualquer acordo com os maçons em 2018 ou voltado a falar com eles em 2022.

O que diz Janones? "Sobre a relação do Bolsonaro com a maçonaria, eu não fiz afirmações, disse que tenho dúvidas sobre o que eu ouvi falar; o vídeo dele na maçonaria já estava sendo divulgado e os próprios pastores e padres, falam da distância que os cristãos devem manter de maçonaria."

Janones Salomão - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
André Janones fez live em frente ao Templo de Salomão, em São Paulo, para associar Bolsonaro à maçonaria
Imagem: Reprodução/Facebook

Bolsonaro fez acordo para impedir extradição de Robinho

Chegou ao Brasil no dia 4 de outubro a notícia de que o Ministério da Justiça da Itália pediu a extradição do ex-jogador Robinho, condenado no país europeu em todas as instâncias por um estupro coletivo contra uma mulher albanesa, cometido em 2013.

No mesmo dia, Janones publicou no Twitter que, "segundo informações", Bolsonaro impediria a extradição do ex-atacante em troca de apoio na campanha. "A garantia de que Robinho continuará impune, faria parte de um acordo selado em troca do apoio do ex jogador ao atual presidente", escreveu. A postagem teve mais de 73 mil curtidas e 13 mil compartilhamentos.

Robinho é, de fato, apoiador de Bolsonaro. No dia 30 de setembro, na última semana antes do primeiro turno, o ex-atleta publicou no Instagram uma foto antiga, de quando ainda jogava pela seleção brasileira, fazendo com as mãos um 22, número de urna do atual presidente.

Não existe, no entanto, nenhum indício de acordo entre eles. Embora possa ser preso se sair do país, Robinho não pode ser extraditado porque a Constituição proíbe a medida para brasileiros natos. O que os italianos podem pedir é que Robinho cumpra pena no Brasil. A defesa de Robinho sustenta, contudo, que no caso do ex-jogador o Código Penal não permitiria a efetivação da prisão.

Nos dias seguintes à postagem, Janones não voltou a citar um "acordo" entre os dois, mas fez outras publicações impulsionando a frase "estuprador apoia Bolsonaro", em alusão à adesão política de Robinho.

O que diz Janones? "Eu, como jornalista registrado, ouvi de fontes que o jogador havia procurado o presidente alegando estar o apoiando inclusive em suas redes sociais, e pediu ajuda do presidente por conta do pedido de extradição. Foi orientado que a Constituição Federal não permite a extradição de brasileiros, [Robinho] ficou agradecido e manteve o apoio."

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado na primeira versão do texto, o senador Fernando Collor é do PTB, e não do PDT. O texto foi corrigido.