Motta promete tarifa zero no fim de semana e critica Paes: 'Oportunista'
O candidato do PSOL à Prefeitura do Rio de Janeiro, Tarcísio Motta, fez duras críticas ao atual governo municipal e afirmou que o prefeito e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PSD) é "oportunista". Ele participou nesta terça-feira (6) de sabatina promovida pelo UOL e pelo jornal Folha de S. Paulo.
O que aconteceu
Motta afirmou que, há anos, o Rio de Janeiro "investe no que dá errado" e chamou o prefeito Eduardo Paes de "camaleão". Ele acusou o adversário de sempre "mudar de lado, de acordo com seus interesses".
O candidato disse que é o PSOL, e não a candidatura de Paes, quem representa o programa de esquerda do presidente Lula. Na disputa, o atual prefeito tem o apoio do PT.
Nós entendemos que, para enfrentar o ódio, a mentira, a intolerância dessa extrema direita, não é possível que a gente não faça um debate, o debate de democracia, o debate da justiça social. E, esse tipo de debate, o [prefeito] Eduardo Paes não fará. É por isso que nós defendemos e construímos uma candidatura de esquerda e portanto seguiremos firmes em defender um programa de esquerda, que é o programa que o presidente Lula defendeu nas urnas e nas ruas, em 2022
Tarcísio Motta (PSOL), em sabatina UOL e Folha
Tarcísio Motta acusou Eduardo Paes de "servir à máfia" do transporte. Na visão dele, o candidato à reeleição endividou a prefeitura e não aplica critérios de subsídios às empresas, como havia se comprometido.
O candidato prometeu, caso eleito, colocar em prática o projeto Sextou Carioca, que vai garantir a tarifa zero na cidade aos finais de semana. Ela deve der implantada de forma gradual, começando pelos domingos, e abranger toda a população, disse.
Violência no Rio
O candidato do PSOL afirmou que a segurança está longe de ser uma prioridade da gestão Paes. "A gente não tem no Rio de Janeiro um plano municipal de redução violência, um plano municipal de segurança pública, que é uma determinação legal e já deveria existir. A prefeitura não produz dados sobre o seu próprio território. A gestão integrada da segurança é uma bagunça, sem nenhum tipo de planejamento. Isso é uma ineficiência absurda".
O estado do Rio de Janeiro aposta em uma lógica de guerra às drogas, que é uma guerra aos pobres, e isso dá errado há 30, 40 anos. Por que é que se segue investindo no que dá errado? Porque dá voto. Porque eles ganham voto usando o pânico e o medo do morador
Uma das saídas para o problema, segundo Tarcísio Motta, seria que a prefeitura agisse sobre o que leva um jovem entrar para o mundo do crime. "Segurança Pública e violência são um problema multidimensional", afirmou, destacando a importância de dar alternativas e oportunidades a esse adolescente.
O candidato do PSOL também afirmou que é "preciso tirar o poder político das milícias" que controlam regiões da cidade. "Por que a milícia hoje consegue fazer grilagem de terra e consegue expandir os seus domínios em territórios periféricos da cidade do Rio de Janeiro? Porque tem poder político junto à prefeitura e ao governo do estado", afirmou.
Nós vamos enfrentar as milícias. Porque, se de um lado nós temos um grupo político que homenageia, tenta naturalizar e até legalizar a milícia, que é o bolsonarismo do ódio, da violência e da intolerância, do outro lado nos temos o Eduardo [Paes] que bota milicianos no seu secretariado
Tarcísio Motta (PSOL), em sabatina UOL/Folha
Motta frisou durante a entrevista que sua candidatura é um projeto oposto ao de Alexandre Ramagem (PL), apoiado por Bolsonaro no Rio. Ramagem foi chefe da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) no governo do ex-presidente. Hoje deputado federal, ele é o principal alvo do inquérito que apura as supostas espionagens paralelas feitas pela agência.
Ao falar sobre o caso Marielle Franco, Tarcísio Motta afirmou não ter "nenhuma dúvida" de quem foram os mandantes do assassinato. Os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão e o delegado Rivaldo Barbosa foram implicados no processo pela delação de Ronnie Lessa, executor confesso do crime. Já sobre as críticas de criminalistas —que apontam lacunas em provas da delação— o candidato disse que elas se explicam "pela forma como o chefe da Polícia Civil atuou para impedir que esses elementos de corroboração existissem".
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Quero receberCaso Janones
Motta foi questionado sobre a conduta do seu companheiro de partido Guilherme Boulos, candidato em São Paulo, no caso Janones. Boulos foi relator do caso no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados que apurou as suspeitas de "rachadinha" de André Janones (Avante-MG), no início de junho, e votou para arquivar o processo de cassação contra o colega.
O candidato justificou a decisão de Boulos com o que chamou de "uma lacuna corporativa da Câmara dos Deputados". "A ação do Boulos, a decisão dele em não admitir o processo, estava baseada em algo que também foi usado para não abrir os processos de uma série de pessoas da direita que também haviam —supostamente, porque o processo nem foi aberto— cometido crimes antes dos mandatos atuais de deputado federal", disse o candidato, defendendo que o regulamento precisa ser modificado.
O argumento é o mesmo que foi usado por Boulos, focado apenas na jurisprudência do Conselho de Ética. Segundo essa regra, um deputado só pode ser punido no colegiado por um crime cometido naquela mesma legislatura. Como a suposta rachadinha de Janones ocorreu na legislatura passada (2019-22), ele não poderia ser punido no atual mandato, segundo Boulos.
A candidatura de Motta foi oficializada pelo PSOL em 1º de agosto. A vice na chapa é a deputada estadual Renata Souza, também do PSOL. Fazem parte da coligação a Rede Solidariedade —que compõe uma federação com o partido— e o PCB.
Em pesquisa Datafolha divulgada no início de julho, Tarcísio Motta aparece em segundo lugar, com 9% das intenções de voto. Ele está empatado tecnicamente com Alexandre Ramagem (PL), com 7%. O atual prefeito e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PSD), tem liderança isolada na disputa até o momento, com 53%, e seria eleito já no primeiro turno.
Em um patamar mais baixo, eles são seguidos por Juliete Pantoja (Unidade Popular) e Cyro Garcia (PSTU), ambos com 3%; Rodrigo Amorim (União) e Marcelo Queiroz (PP), com 2%; e Dani Balbi (PC do B), com 1%. Carol Sponza (Novo) foi citada na pesquisa, mas não alcançou 1% das intenções de voto. A margem de erro do levantamento é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.
Apesar da liderança de Paes na pesquisa, Motta se disse confiante com uma possível chegada ao segundo turno. Ele negou que a votação do PSOL esteja concentrada apenas na zona sul da capital fluminense, mais rica, e destacou o número de eleitores já consolidados na zona norte e o crescimento do partido na zona oeste —uma das prioridades atuais da campanha, segundo ele.
Formado em história, Motta foi dirigente do Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro. Filiou-se ao PSOL em 2005, ano de fundação do partido.
Em 2022, foi eleito com quase 160 mil votos ao cargo de deputado federal. Antes do atual mandato, foi vereador na Câmara do Rio de Janeiro por dois mandatos, entre 2016 e 2023, quando saiu para assumir o cargo de parlamentar na capital federal.
Sabatinas UOL e Folha
A sabatina foi conduzida por Diego Sarza, com participações dos jornalistas Ruben Berta, colunista do UOL, e Italo Nogueira, da Folha de S. Paulo. Nesta quarta (7) será a vez do candidato do PL, Alexandre Ramagem. O prefeito do Rio de Janeiro e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PSD) também foi convidado, mas não quis participar.
A série de sabatinas está ouvindo os principais pré-candidatos de 18 cidades do país. As entrevistas são sempre ao vivo, com transmissão pela Internet, nos sites e nos perfis das redes sociais do UOL e da Folha de S. Paulo.
Além do Rio de Janeiro, já passaram pelas sabatinas pré-candidatos de oito cidades:
Belo Horizonte: com Fuad Noman (PSD) e Rogério Correia (PT);
Salvador: Bruno Reis (União) e Kleber Rosa (PSOL);
Porto Alegre: Thiago Duarte (União Brasil) e Maria do Rosário (PT);
Recife: João Campos (PSB), Gilson Machado (PL) e Daniel Coelho (PSD);
São Paulo: Pablo Marçal (PRTB), Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB) e José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB);
Curitiba: Ney Leprevost (União), Eduardo Pimentel (PSD) e Luciano Ducci (PSB);
Fortaleza: José Sarto (PDT) e Capitão Wagner (União Brasil) e
Maceió: Rafael Britto (MDB) e Lobão (Solidariedade).
As convenções partidárias tiveram início em 20 julho e o prazo para oficialização das candidaturas terminou nesta segunda-feira (5). As eleições municipais ocorrem em 6 de outubro, com segundo turno marcado para o dia 27.
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