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Retrospectiva 2012: 11 de setembro voltou a marcar os EUA com ataques a consulados e embaixadas

Imagem sem data mostra o embaixador norte-americano na Líbia, Christopher Stevens, que morreu em um ataque contra o prédio do consulado dos Estados Unidos em Benghazi, na Líbia - Departamento de Estado dos EUA/Efe
Imagem sem data mostra o embaixador norte-americano na Líbia, Christopher Stevens, que morreu em um ataque contra o prédio do consulado dos Estados Unidos em Benghazi, na Líbia Imagem: Departamento de Estado dos EUA/Efe

Do UOL, em São Paulo

30/12/2012 06h00

A memória dos norte-americanos já estava marcada pelo 11 de setembro desde 2001, quando sofreu os ataques às Torres Gêmeas. Em 2012, uma onda de protestos e ataques a embaixadas e consulados dos Estados Unidos fez as más lembranças voltarem.

Ao todo, foram mais de 50 mortos, entre eles, o embaixador do país na Líbia, Christopher Stevens. Ele foi assassinado com outros três funcionários da embaixada em um ataque em Benghazi. A princípio, a alegação foi a revolta pela divulgação de um trecho do filme "A Inocência dos Muçulmanos" na internet. Mas depois o ato foi classificado como terrorismo.

A produção independente retrata Maomé como ladrão e pedófilo. Uma das sequências inclui uma referência a Maomé sancionando o abuso de crianças e em outra ele revela ser homossexual. Muitos personagens recitam versos supostamente tirados do livro sagrado Corão, mas claramente inventados, falando de matar e extorquir pessoas. A sátira irritou muçulmanos e desencadeou protestos violentos.

No dia seguinte ao atentado em Benghazi, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, condenou a violência e afirmou que a justiça seria feita. O presidente da Líbia, Mohamed Magarief, disse na TV “não ter dúvidas” de que o ataque foi planejado, pois o filme estava na internet havia pelo menos seis meses. 

“Reações, se genuínas, deveriam ter acontecido seis meses antes. Ou seja, foram adiadas para 11 de setembro. Eles escolheram esta data para passar uma mensagem”, disse Magarief. O governo líbio pediu perdão pelo ocorrido.

Os Estados Unidos abriram uma investigação, mas ainda não identificaram os responsáveis por atear fogo na sede do consulado.

As manifestações se espalharam por países como Egito, onde os protestos foram mais violentos, Iêmen, Líbano, Tunísia, Turquia, Afeganistão, Paquistão, Sudão, Nigéria e Índia. 

Em alguns lugares, incluindo o Brasil, o YouTube foi obrigado a retirar o vídeo do ar para evitar propagar a violência. O presidente do Egito, Mohamed Mursi, chegou a apoiar os protestos dizendo que "se desejamos coexistir e prosperar, devemos fazer isso convivendo, em vez de tentar dominar uns aos outros".

No Líbano, os manifestantes colocaram fogo em um restaurante da rede KFC e em outro da Hardee's na cidade de Trípoli. Uma pessoa morreu e 25 ficaram feriadas no ataque, que foi realizado no dia da visita do papa Bento 16 ao país.

Na Europa

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Poucos dias depois do início dos protestos, a França também foi alvo de manifestações devido a um cartum novamente satirizando Maomé. Os desenhos foram publicados na revista “Charlie Hebdo” e fazem uma sátira contextualizando os protestos após a divulgação do filme.

O diretor da revista, Stephane Charbonnier, disse que a publicação não tinha a intenção de “colocar mais fogo” nos protestos, “mas de usar a liberdade de expressão para comentar o noticiário de uma forma satírica”. “O objetivo é rir”, declarou o jornalista Laurent Leger.

“Queremos rir dos extremistas, de todos os extremistas. Eles podem ser muçulmanos, judeus, católicos. Todo mundo pode ser religioso, mas não podemos aceitar os pensamentos e atos extremistas", completou ele.

Mesmo assim, o governo optou por fechar as embaixadas da França em 20 países para evitar protestos. 

Uma semana depois, na Espanha, a revista "El Jueves" também publicou uma charge sobre Maomé na qual muçulmanos se questionavam se alguém sabia de fato a aparência do profeta. Segundo o editor, a publicação optou pela charge para assumir um lado humorístico em uma questão polêmica.

Condenados

Mais de três meses após a onda de protestos, sete envolvidos na produção do filme "A Inocência dos Muçulmanos" foram condenados à morte por um tribunal no Cairo, Egito.

"As sete pessoas acusadas foram condenadas por insultos à religião islâmica através da participação na produção e distribuição de um filme que insulta o islã e seu profeta", disse o juiz Saif al-Nasr Soliman ao anunciar a condenação no dia 28 de novembro.

O autor do filme, Basseley  Nakoula, 55, condenado em 2009 por fraude bancária, foi preso no dia 27 de setembro em Los Angeles por violação de sua liberdade condicional. Atualmente, ele cumpre pena de prisão de um ano e não falou com a imprensa desde então.