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Na Venezuela, preço de um iogurte equivale a três tanques de gasolina

27.abr.07 - Venezuelana olha prateleiras semivazias em um mercado de Caracas, capital do país - Howard Yanes/AP
27.abr.07 - Venezuelana olha prateleiras semivazias em um mercado de Caracas, capital do país Imagem: Howard Yanes/AP

Carlos Iavelberg

Do UOL, em Caracas

11/03/2013 06h00

Além de ocupar o vazio político deixado por Hugo Chávez, o futuro presidente venezuelano, que será escolhido no dia 14 de abril, terá a difícil missão enfrentar os problemas da economia do país.

Não que ela esteja em recessão. Pelo contrário: em 2012, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 5,6%, segundo o Banco Centra local. O Brasil, por exemplo, cresceu apenas 0,9%. Acontece que a população tem sofrido, principalmente, com a falta de alimentos básicos e a inflação alta.

Em fevereiro, o índice de escassez de alimentos medido pelo BC do país atingiu 19,7%. No mês anterior, ficou em 20,4%, o maior percentual desde 2008. Isso significa que, de cada cem produtos procurados pelos venezuelanos, vinte não estavam nas prateleiras.

"Falta óleo, farinha, arroz, leite e açúcar. É o preço que o país paga por importar tudo e não produzir nada", afirma o taxista equatoriano Luís Bombom, 41, que mora em Caracas há 20 anos.

Com uma indústria quase toda focada na exploração do petróleo --o país é um dos maiores produtores mundiais--, a produção interna de alimentos é insuficiente para abastecer o mercado, o que impulsiona as importações.

"Isso aqui [doce de leite] é colombiano. Isso [batata frita] é americano. Esse chocolate é Nestlé, nem preciso dizer que não foi feito aqui. Tudo o que compramos é importado e caro. Olha esse iogurte, custa 15 bolívares [R$ 4,70, no câmbio oficial]. Com isso encho o tanque do carro três vezes. Isso te parece normal?", reclama a dona de casa Patrícia Lahmann, 55, em um supermercado na região oeste de Caracas.

Um litro de água custa 65 vezes um litro de gasolina

Realmente, a economia venezuelana produz situações surreais para a realidade brasileira. Um litro de gasolina na bomba custa um pouco menos de 0,1 bolívar [R$ 0,03]. Ou seja, para encher um tanque de 45 litros, um venezuelano gasta 4,5 bolívares [R$ 1,40].

Na loja de conveniência desse mesmo posto, uma garrafa de água mineral de 1,5 litro custa 9,79 bolívares [R$ 3,05]. Isso significa que um litro de água custa 65 vezes um litro de gasolina.

"O número de estabelecimentos produtivos despencou, as exportações não-petrolíferas desapareceram e, como consequência, o setor industrial no Produto Interno Bruto diminuiu significativamente. O governo favoreceu as importações em detrimento da produção nacional", criticou em um artigo o economista José Guerra, ligado a partidos de oposição.

A dependência que a economia tem no petróleo só cresceu ao longo do governo Chávez. Em 1999, quando ele assumiu, de cada US$ 100 exportados, US$ 80 vinham da commodity. Em 2011, esse valor era de US$ 95.

Inflação está entre as dez mais altas do mundo

Outro problema que aflige os venezuelanos é a inflação, que está entre as dez mais altas no mundo. Em 2012, o índice medido pelo governo fechou em 20,1%. Só nos dois primeiros meses deste ano, a inflação acumulado é de 5%. Para comparação, em todo o ano passado, o Brasil registrou 5,84% --índice considerado alto por economistas.

Para tentar segurar os preços o governo congelou o valor alguns produtos básicos e mantém o câmbio fixo. A recente desvalorização do bolívar, porém, pode prejudicar o controle da inflação. Em fevereiro, o governo aprovou uma desvalorização no câmbio oficial de 32%: US$ 1 passou de 4,30 a 6,30 bolívares. No câmbio paralelo, porém, US$ 1 pode ser negociado a 20 bolívares.

Como muitos alimentos são importados, um dólar mais caro eleva também o preço para os consumidores venezuelanos.

"Com o câmbio fixo --congelado, melhor dizendo—e inflação alta como a da Venezuela, é impossível desenvolver a indústria e a agricultura. Simplesmente, o aumento do custo da produção local, devido à inflação, elimina a competitividade da economia. Dessa maneira, as importações ficam mais baratas e as exportações mais caras", analisa Guerra.