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Morte de jovem árabe em 'vingança' acirra tensão entre israelenses e palestinos

Isabel Kershner e Jodi Rudoren

Em Jerusalém (Israel)

03/07/2014 06h02

O corpo de um adolescente árabe raptado foi encontrado em uma floresta de Jerusalém na manhã de quarta-feira (2), provocando ultraje entre os palestinos e ameaçando uma escalada ainda maior das tensões no conflito entre israelenses e palestinos. A morte parece ter sido um assassinato por vingança israelense pelo sequestro e morte de três adolescentes israelenses na Cisjordânia ocupada, no mês passado.

O pai do jovem raptado, Muhammad Hussein Abu Khdeir, 16 anos, disse que a polícia identificou o corpo por meio de testes de DNA.

A descoberta do corpo ocorreu cerca de uma hora depois dos palestinos terem dito que um adolescente árabe foi forçado a entrar em um carro no bairro de Beit Hanina, em Jerusalém Oriental. Micky Rosenfeld, um porta-voz da polícia, disse que foram montados bloqueios de estrada na área para localizar o veículo. O corpo foi descoberto pouco depois em uma floresta próxima da entrada de Jerusalém. Rosenfeld disse que a polícia está investigando tanto os motivos criminais quanto os nacionalistas do assassinato.

Líderes palestinos consideraram Israel responsável, enquanto líderes israelenses pediram moderação até que os fatos fiquem mais claros, em um esforço para acalmar o clima carregado.

O ministro da Segurança Interna israelense, Yitzhak Aharonovich, pediu aos moradores que "baixem o volume" em relação à suspeita de um ataque por vingança por judeus.

"Há tentativas de fazer uma conexão entre os dois incidentes e nós ainda estamos checando todas as direções", ele disse à "Rádio Israel". "Há muitas possibilidades, criminais e nacionalistas, e tudo está sendo examinado de modo responsável."

O corpo encontrado na floresta foi levado ao Instituto Forense Abu Kabir de Israel.

Abbas pede providências a Israel
Os parentes do jovem raptado disseram que ele saiu da loja de aparelhos e utensílios de cozinha de seu pai por volta das 3h30 da manhã e estava sentado em um muro di lado da mesquita com outros adolescentes, aguardando pela oração da manhã que dá início ao jejum diário durante o mês sagrado muçulmano do Ramadã.

Mahmoud Abu Khdeir, o imã da mesquita e primo do adolescente, disse que os outros jovens saíram para buscar comida para a refeição tradicional antes do amanhecer quando um carro Hyundai cinza encostou às 3h45 da manhã e seus ocupantes forçaram Muhammad a entrar no carro.

"Ele foi raptado e morto pelos colonos e a polícia sabe disso muito bem", disse o imã. A polícia disse que está revendo as imagens das câmeras de segurança ao longo da rua; o imã disse que elas foram usadas no passado para identificar e prender palestinos que atiravam pedras.

"Eles estão tentando diz que se trata de um assassinato em nome da honra, mas isso não é verdade", disse.

O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, exigiu que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, "condene o rapto e assassinato" de Muhammad "da mesma forma como condenamos o rapto e assassinato" dos três adolescentes israelenses, segundo a "WAFA", a agência de notícias oficial palestina. Nabil Abu Rudeineh, o porta-voz de Abbas, pediu que Israel prenda os responsáveis e faça com que respondam por isso, segundo a "WAFA".

"Nos próximos dias, não dá para esperar o que acontecerá – a situação ficará cada vez pior", disse Ayed Abu Eqtaish, que trabalha na seção palestina da Defesa da Criança Internacional. "A ocupação e o ciclo de violência deveriam ser encerrados para garantir que não haja mais perda de vidas."

Netanyahu falou antes do meio-dia com Aharonovich, o ministro da Segurança Interna, e pediu que "os investigadores ajam o mais rápido possível para descobrir quem está por trás do assassinato desprezível", segundo uma declaração do gabinete do primeiro-ministro. Netanyahu pediu a todos os lados que não façam justiça com as próprias mãos, dizendo: "Israel é um estado de direito e todos estão obrigados a agir segundo a lei".

Da esq. à dir.: Eyal Yifrah, 19, Naftali Fraenkel, 16, e Gilad Shaar, 16, que desapareceram em 12 de junho - Montagem/Reuters - Montagem/Reuters
Eyal Yifrah, 19, Naftali Fraenkel, 16, e Gilad Shaar, 16, jovens israelenses achados mortos após serem sequestrados em 12 de junho na Cisjordânia
Imagem: Montagem/Reuters

Segurança é reforçada
À medida que a notícia do assassinato se espalhava, a polícia aumentou sua presença em Jerusalém. Choques ocorreram entre jovens palestinos e as forças de segurança israelenses ao longo da principal via que liga os bairros de Beit Hanina e Shuafat. Dezenas de adolescentes, alguns usando estilingues, atiravam pedras contra os policiais, que respondiam com gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral.

Os abrigos nas paradas da linha do veículo leve sobre trilhos de Jerusalém, que passa por bairros árabes e judeus, foram destruídos e a fumaça dos pneus incendiados pairava sobre a área. A polícia impediu judeus de entrarem no Monte do Templo, na Cidade Velha de Jerusalém, para evitar distúrbios.

O prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, condenou o assassinato do adolescente em uma declaração.

"Trata-se de um ato horrível e bárbaro que fortemente condeno", ele disse. "Nós não somos assim e estou plenamente confiante de que nossas forças de segurança levarão os perpetradores à Justiça. Eu peço a todos que exerçam moderação."

Yishai Fraenkel, o tio de um dos três adolescentes israelenses assassinados, disse ao site de notícias "Ynet" que "não há diferença entre sangue e sangue".

"Assassinato é assassinato", Fraenkel foi citado como tendo dito. "Independente de qual seja a nacionalidade e a idade, não há justificativa, não há perdão ou penitência para qualquer assassinato."

As tensões já estavam altas desde que três adolescentes israelenses foram raptados enquanto caminhavam de volta para casa da escola deles na Cisjordânia, em 12 de junho, e a suspeita recaiu sobre militantes palestinos. Os corpos deles foram encontrados em um campo na área de Hebron, 18 dias depois, e foram levados para um enterro conjunto na cidade de Modiin, na metade do caminho entre Tel Aviv e Jerusalém, na terça-feira (1º).

Durante os funerais, centenas de manifestantes de extrema direita se reuniram em Jerusalém para exigir que o governo vingasse as mortes. Cantando "Morte aos Árabes", eles tentaram atacar transeuntes árabes que tiveram que ser libertados pela polícia. Mais de 40 manifestantes foram presos.