Gabinete dividido, pró-educação, briga com Ciro: como Tabata atua na Câmara
No segundo mandato como deputada federal, Tabata Amaral (PSB) tenta se viabilizar à disputa pela Prefeitura de São Paulo, polarizada até o momento pelo atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), e pelo também deputado Guilherme Boulos (PSOL). Na Câmara, ela se projetou como defensora da educação, teve uma saída conturbada do PDT e algumas vitórias no plenário.
O que aconteceu
Prioridade para o partido e padrinho de peso. O PSB nunca comandou a capital paulista e vê a pré-candidatura de Tabata como prioritária. Ela é apoiada por correligionários graúdos, como o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ex-governador Márcio França, hoje ministro de Lula.
Datena vai ser o vice? Ainda não está definido seu colega na chapa. Mas o PSB negociou a filiação do apresentador José Luiz Datena e depois sua migração para o PSDB, de olho numa aliança para ter mais tempo na TV e verbas para a campanha. Ele já recebeu elogios de Tabata, mas ainda não bateu o martelo.
"Insistente", "acelerada": a Tabata parlamentar. Colegas de bancada afirmam que Tabata sempre faz várias coisas ao mesmo tempo, em um ritmo "acelerado", e defende suas posições com muita veemência. Em reuniões do partido, chega a repreender colegas que a interrompem, pedindo respeito. Ela também insiste para que seus projetos sejam pautados pelos líderes.
Resolvedora de problemas. Ao UOL, a deputada afirmou que sua postura "vem sendo sempre de muito diálogo e a de trabalhar para resolver problemas concretos". Ela destaca a aprovação e relatoria de vários projetos ao longo dos cinco anos de mandato e diz se orgulhar de sua trajetória na Câmara.
Eu tinha receio de chegar no Congresso e não conseguir ter uma atuação relevante, não conseguir aprovar projetos estruturantes, mas graças a Deus a gente vem acumulando, enquanto equipe, enquanto time, muitos projetos de lei, bastante estruturantes, que já estão sendo implementados e que de fato mudam o futuro da educação brasileira
Tabata Amaral, ao UOL
Cotidiano extenuante. Ex-funcionários do gabinete de Tabata relataram sobrecarga na rotina de tarefas em razão da personalidade rigorosa da deputada. Afirmaram que a parlamentar gosta do Legislativo, é viciada em trabalho e aplica a mesma lógica para os assessores.
Muita pressão. A alta demanda e cobranças por produtividade geravam crises de ansiedade na equipe, segundo os ex-assessores. Apesar de não ser um ambiente agressivo, eles disseram que não havia tolerência para erros. Tabata é defensora da saúde mental e fundadora da Frente Parlamentar Mista para Promoção da Saúde Mental.
"Trabalho muito sério e comprometido". Ao UOL, a deputada afirmou que ela e sua equipe trabalham muito porque essa é a forma de "honrar os quase 400 mil votos" recebidos na última eleição. "Inclusive não é raro que outros parlamentares elogiem nosso time e apontem a nossa equipe como a melhor do Congresso", declarou.
Equipe dividida com mais congressistas. Desde 2019, a deputada mantém com outros seis parlamentares uma equipe conjunta de assessoria técnica no Congresso. A iniciativa é conhecida como Gabinete Compartilhado e conta com processo seletivo nacional, que recebe milhares de inscrições. Atualmente, são nove assessores especialistas nas áreas de políticas públicas, fiscalização, dados, meio ambiente e educação.
Mais assessores no gabinete. Tabata conta ainda com 21 secretários parlamentares em seu gabinete na Câmara. Um deles, Ícaro Santana, também é analista de fiscalização no Gabinete Compartilhado.
Centenas de projetos. A deputada é autora de 1.544 propostas, sendo coautora na maior parte delas. Das ideias em que é a autora principal, conseguiu a aprovação de sete no plenário da Câmara, com temas que incluem educação, sua principal bandeira, mudanças climáticas e regras para a administração pública. Entre as aprovações, destacam-se a que cria uma bolsa para evitar a evasão escolar de estudantes do ensino médio, instituída pelo governo Lula como Programa Pé-de-Meia, e a que tipifica e criminaliza a corrupção sexual.
Propostas em defesa das mulheres. Em 2020, a deputada chegou a elaborar um projeto para que o governo realizasse a distribuição gratuita de absorventes. O conteúdo foi incorporado a um projeto mais antigo da ex-deputada Marília Arraes (Solidariedade-PE), sendo aprovado pelo Congresso em setembro de 2021.
O texto acabou vetado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL), o que gerou críticas da parlamentar. À época, ela afirmou que a decisão não causava surpresa já que se tratava de um governo que desprezava "os direitos de mulheres e meninas". O veto foi derrubado pelo Congresso em março de 2022.
Relatora de políticas de combate à violência contra a mulher. Ao longo dos dois mandatos, foi designada para relatar 46 propostas, das quais 18 foram aprovadas no plenário. A maior parte está relacionada a políticas de enfrentamento à violência contra a mulher.
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Quero receberEu acredito que esse trabalho concreto, que depende de muito diálogo, eu aprovei muitos projetos, tanto no governo Bolsonaro quanto no governo Lula, ele fala da importância de a gente levar para a política um diploma de realidade, um conhecimento de causa e uma disposição de, de fato, mudar a vida das pessoas
Tabata Amaral, ao UOL
Poucas faltas. Como é comum na rotina dos parlamentares, Tabata fica em Brasília de terça a quinta, quando retorna a São Paulo. A deputada tem poucas ausências no plenário: 13 faltas em um total de 491 sessões, de fevereiro de 2019 a abril de 2024. Ela também frequenta algumas festas promovidas pelos colegas, ainda mais se puserem para tocar música sertaneja, seu gênero musical favorito.
A trajetória de Tabata
Da periferia ao Congresso. A parlamentar costuma destacar sua trajetória: saiu da Vila Missionária, na periferia da zona sul de São Paulo, para cursar ciência política e astrofísica na Universidade Harvard e chegou ao Congresso mesmo sem ter o perfil tradicional —em sua maioria, formada por homens, ricos, mais velhos e de família com histórico na política.
Estreia entre os eleitores. Eleita pela primeira vez em 2018, com 264.450 votos, aos 24 anos, foi a segunda mulher mais votada em São Paulo. Foi reeleita em 2022, com ainda mais votos: 337 mil. Foi aluna do RenovaBR, movimento que prepara e seleciona novos quadros para a política brasileira.
"Velha" x "nova" política. Quando chegou a Brasília, Tabata se dizia representante da "nova" política. Teve seu primeiro embate com o "sistema" ao pedir um dos apartamentos funcionais da Câmara. No dia em que iria se mudar, encontrou o filho do então deputado Hildo Rocha (MDB-MA). Ele se recusou a entregar a chave do imóvel, conforme ela em uma publicação nas redes sociais.
Enquadro a ministro deu visibilidade. Outro momento de grande repercussão no começo do primeiro mandato foi quando a deputada fez duros questionamentos ao então ministro da Educação, Vélez Rodríguez, durante reunião da comissão de Educação na Câmara. A parlamentar apontou a falta de projetos e de planejamento para a área e sugeriu: "Mude de atitude ou saia do cargo".
A polêmica da previdência. Eleita para a Câmara pelo PDT, Tabata costumava se definir como "progressista de centro-esquerda". Desagradou parte de seu campo político e eleitorado ao votar favorável à Reforma da Previdência do governo Bolsonaro, em 2019, o que até hoje é lembrado por seus opositores. O posicionamento também rendeu um processo interno no partido e um desafeto importante na sigla: Ciro Gomes.
Fim da briga no TSE. Em julho de 2021, Tabata conseguiu autorização do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para deixar o PDT sem perder o mandato, o que aconteceu meses depois, ao se filiar ao PSB. Atualmente, é vice-líder do partido de Alckmin na Câmara.
Deputado elogia e minimiza críticas. O atual líder do PDT na Câmara, Afonso Motta, afirmou que, apesar da divergência sobre a previdência, Tabata é "dedicada, correta e de muito trabalho". Segundo ele, a parlamentar trouxe uma grande contribuição para a bancada, especialmente no tema da educação.
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