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"Mulher do vestido vermelho" vira símbolo dos manifestantes turcos

Do UOL, em São Paulo

04/06/2013 09h21

A foto de um policial vestindo máscara de gás espirrando gás lacrimogêneo no rosto de uma jovem ainda não identificada, na praça Taksim, em Istambul, virou símbolo dos manifestantes contrários ao governo islâmico-conservador do premiê Recep Tayyip Erdogan.

Mapa da região

Replicada nas redes sociais e em cartazes levados às ruas da Turquia, a imagem da “mulher do vestido vermelho”, como ficou conhecida, já é um ícone da onda de protestos.

“Essa foto resume a essência dos protestos. Ela mostra a violência da polícia contra manifestantes pacíficos, pessoas que estão apenas tentando proteger seus valores”, afirmou a estudante de matemática Esra, entrevistada pela agência Reuters, durante um protesto.

Várias versões da imagem circulam pelos protestos. Uma das mais replicadas, mostra a manifestante em um tamanho muito maior do que o policial e diz: “quanto mais você espirra o gás, maior ficamos”.

Segundo o jornal Hurriyet Daily News, o fotógrafo responsável pela imagem, Osman Orsal, ficou ferido na perna quando trabalhava em um dos protestos em Istambul.

Os Estados Unidos e a União Europeia já expressaram preocupação com a ação repressiva da polícia com os manifestantes, descritos pelo premiê Erdogan como pessoas que estão “lado a lado com o terrorismo”.

Muitas mulheres estão indo às ruas protestar contra Erdogan. Talvez como a jovem do vestido vermelho, elas temem que a Turquia conservadora do atual governo, representada pelo véu islâmico, possa deixá-las em segundo plano.

“Eu respeito mulheres que usam o véu, é direito delas, mas também tenho meus direitos. Não sou de esquerda, nem anticapitalista. Apenas quero ser uma mulher de negócios e viver em uma Turquia livre”, disse Esra.

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Segunda morte

Um jovem de 22 anos, identificado como Abdullah Comert, morreu com um tiro na cabeça durante uma manifestação realizada no sul da Turquia, informou nesta terça-feira (4) o canal NTV.

"Abdullah Comert estava gravemente ferido (...) por disparos realizados por uma pessoa não identificada" e morreu no hospital, revelou a NTV, que cita um comunicado do governo da província de Hatay, próxima à fronteira com a Síria.

O governo também assinalou que a autoridade judicial responsável já empreende uma investigação "em grande escala" para determinar as causas do incidente.

Segundo Hasan Akgol, parlamentar do principal partido de oposição, Comert era membro da Ala Jovem do Partido do Povo Republicano.

Este foi o segundo óbito ligado à onda de manifestações que sacode a Turquia para protestar contra o governo do premiê Recep Tayyip Erdogan.

Quinto dia de protestos

Milhares de pessoas tomaram mais uma vez, na madrugada desta terça-feira (4), a praça Taksim de Istambul, enquanto a polícia interveio para dispersar manifestações que se aproximavam de gabinetes do chefe de governo em Istambul e em Ancara.

A polícia utilizou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar centenas de manifestantes em Ancara e Istambul, informaram testemunhas e um canal de televisão.

Em Ancara, no bairro de Kavaklidere, a polícia disparou balas de borracha contra os manifestantes, segundo a CNN-Turquia. Em Istambul, os policiais dispararam dezenas de bombas de gás lacrimogêneo em cerca de 500 manifestantes no bairro de Gümüssuyu, onde barracas tinham sido montadas.

Vice-premiê pede desculpas

O vice-primeiro-ministro turco, Bülent Arinç, pediu desculpas nesta terça-feira aos manifestantes feridos pela repressão policial durante os protestos, considerados "justos e legítimos", que afetam a Turquia há cinco dias.

Ao mesmo tempo, Arinç pediu aos cidadãos turcos que interrompam ainda nesta terça as manifestações.

"Peço desculpas aos que sofreram a violência por serem sensíveis às questões ambientais", disse Arinç, que criticou a intervenção policial com gás lacrimogêneo para dispersar um protesto contra a remodelação de um parque no centro de Istambul.

"Mas não acredito que devamos pedir desculpas aos que provocaram danos nas ruas e tentaram bloquear a liberdade das pessoas", completou Arinç.

"O que fez com que as coisas saíssem de controle foi a utilização de gás lacrimogêneo pelas forças de segurança, por uma ou outra razão, contra pessoas que tinham inicialmente exigências legítimas", disse.

Origem da onda de violência

Os protestos começaram após a intenção do governo do islâmico Recep Tayyip Erdogan de remodelar o parque central Gezi, um dos poucos espaços verdes do centro de Istambul.

O objetivo seria a construção de um centro comercial, projeto rejeitado pela própria comissão municipal, mas defendido em público pelo primeiro-ministro.

No entanto, os manifestantes estão, na verdade, descontentes com o governo de Erdogan que, cada vez mais, busca islamizar a sociedade turca. O Partido do Desenvolvimento e Justiça, que tem Erdogan como principal líder, está no poder há dez anos e tem buscado impor um governo moralista. (Com Reuters, Efe e AFP)