Grampos da PF indicam que Cachoeira marcou jantar com governador de Goiás; ouça
Interceptações telefônicas da operação Monte Carlo, da Polícia Federal, gravadas com autorização da Justiça Federal, e às quais o UOL teve acesso, mostram Edivaldo Cardoso, ex-presidente do Detran de Goiás, e Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, combinando um jantar com um governador, cujo nome não é citado.
Segundo relatório da PF apresentado à CPI do Cachoeira, no Congresso Nacional, a confirmação do jantar por uma funcionária do governo de Goiás, e posteriormente pelo ex-vereador Wladimir Garcez, apontado como braço político no esquema do contraventor no Estado, sugerem que o governador citado nas conversas é Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. O governador, por meio de sua assessoria de imprensa, negou o encontro. Cachoeira está preso desde fevereiro acusado de diversos crimes e envolvimento com agentes públicos e privados.
No primeiro diálogo sobre o encontro, em 24 de março de 2011, Cardoso conta a Cachoeira que uma funcionária da Casa Civil de Goiás, conhecida como Glorinha –que seria Glória Miranda Coelho, também chefe do gabinete particular de Perillo–, disse que o governador tinha pré-agendado um jantar em sua casa, e que era para ele “se preparar”. Cachoeira responde: “Oh, doutor, excelente! Valeu”. Glória permanece no cargo, mas não comenta o assunto.
A tentativa de encontro do grupo de Cachoeira com Perillo ocorre pouco tempo depois de concluídas as negociações da casa que pertencia ao governador e que teria sido adquirida pelo contraventor –foi neste imóvel que Cachoeira foi preso em fevereiro.
Em depoimento à CPI do Cachoeira, em junho, Perillo negou que tenha feito negócios com Cachoeira. O governador manteve a versão, difundida por ele desde março, de que tratou da venda da casa apenas com Wladimir Garcez e que não prestou atenção no emitente dos cheques --no caso, um sobrinho de Cachoeira.
Ainda segundo os áudios da PF, o jantar só é confirmado dois dias antes da data marcada. Cachoeira liga para Cardoso. “Ele confirmou, então, quarta-feira?”, pergunta o ex-presidente do Detran, mas é Wladimir Garcez quem responde, ao ser chamado pelo contraventor ao telefone. “Confirmado, viu. Quarta-feira”.
Cachoeira e Cardoso mostram intimidade ao acertarem detalhes do jantar em outro telefonema. “Aí você passa pra ver o que eu devo levar. Champanhe, né?”, diz Cachoeira. Cardoso afirma: “É. Escuta, vamos buscar um cara pra tocar um violão?” Cachoeira responde: “Uai, eu tenho. Leva, né?”. E Cardoso: “Não, eu tenho um cara legal também pra ir, eu acho que ele gosta, seresteiro”. Cachoeira completa: “Ah, leva, né, tá bom?”. "Vou levar, né? Se ele não for, a gente fica lá tomando um vinho e ouvindo uma música, não é não?", responde Cardoso.
No mesmo dia, que seria 30 de março, os dois voltam a se falar. Cardoso combina com Cachoeira quem eles iriam levar ao encontro --e chegam a conclusão de que seria "no máximo umas oito pessoas". Mais tarde, Cardoso pede para Cachoeira levar um vinho e confirma que o jantar seria às 21h. Ambos concordam que é melhor não levar Wladimir Garcez ao encontro, sem especificar o motivo.
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Outro lado
Procurada pela reportagem, a assessoria do governador Marconi Perillo nega a participação no jantar e reafirma que ele “não manteve qualquer relação de proximidade com o sr. Carlos Augusto de Almeida Ramos, investigado pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, e que, nos contatos que tiveram, trataram única e exclusivamente de assuntos relacionados a uma empresa de medicamentos de Anápolis [em Goiás] da qual o empresário é proprietário”.
Somente dois encontros, além de um telefonema que Perillo fez parabenizando Cachoeira por seu aniversário, são confirmados pelo governo. Um deles ocorreu no Palácio do Governo, agendado pelo então senador Demóstenes Torres (ex-DEM, agora sem partido) –que foi cassado acusado de envolvimento com o contraventor–, e o outro na casa do próprio parlamentar.
A reportagem do UOL tentou contato por telefone com Edivaldo Cardoso, mas não obteve resposta.
Acusações contra Perillo
Já acusado de envolvimento com o esquema de Cachoeira, as denúncias contra Perillo se intensificaram nos últimos dias.
Reportagem da revista "Época" afirmou que o governador teria recebido propina para liberar o pagamento de créditos devidos pelo governo do Estado à empreiteira Delta Construções, suspeita de envolvimento no esquema. O acerto teria ocorrido por meio da venda da casa do Perillo. Em nota oficial divulgada na tarde de segunda-feira (16), o governador classificou de “infame e desleal” a reportagem da revista. De acordo com a nota, não cabe a ele, como a qualquer outra pessoa que esteja se desfazendo de um bem, investigar a origem dos recursos usados para o pagamento. Perillo encerra dizendo que “um grupo dentro da CPMI trata de transformá-la em tribunal de exceção com um só alvo: o governador de Goiás, por ser adversário do PT".
Já o jornal “O Globo” teve acesso a novas escutas da Polícia Federal que sugerem que Cachoeira pagava as contas de secretários de Estado de Goiás por meio da Delta. Em algumas gravações, o contraventor se mostra irritado com a dificuldade de emplacar suas indicações na máquina administrativa estatal.
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) protocolou na secretaria da CPI um requerimento solicitando mais uma audiência com o chefe do Executivo goiano.
O requerimento afirma que a venda da casa teria sido feita com sobrepreço de R$ 500 mil, pagos pela Delta, com a finalidade de viabilizar a liberação do pagamento de uma dívida de R$ 8,59 milhões do governo estadual com a empreiteira. Rodrigues aponta que as datas de compensação dos cheques usados no pagamento da casa batem com as liberações das parcelas de pagamento à Delta.
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