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À CPI, jornalista diz ter recebido dinheiro de caixa dois de Perillo com recursos da Delta

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

27/06/2012 18h20

Por mais de sete horas, o jornalista Luis Carlos Bordoni contou aos parlamentares nesta quarta-feira (27), na CPI do Cachoeira, que recebeu recursos de fontes não declaradas à Justiça Eleitoral, mais conhecidos como caixa dois, na campanha de 2010, em que prestou trabalho de comunicação para o atual governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

Bordoni afirmou que fez o último contrato de trabalho “de forma verbal” com o governador goiano. A proposta inicial do jornalista era cobrar R$ 200 mil, mas acabou aceitando uma contraproposta de R$ 120 mil, mais bônus de R$ 50 mil caso o então candidato ganhasse.

A primeira divergência entre a versão dele e a do governador goiano foi de como recebeu pelo trabalho. Perillo disse que o financeiro de sua campanha pagou R$ 33 mil à empresa Art Mídia e não fez nenhum pagamento pessoalmente ao jornalista.

Já Bordoni afirma que recebeu R$ 40 mil das mãos de Perillo, R$ 30 mil do financeiro da campanha e um terceiro pagamento no valor de R$ 10 mil feito por Jayme Rincón, que era tesoureiro da campanha. Depois disso, os demais R$ 90 mil foram pagos por meio de dois depósitos na conta da filha dele, Bruna Bordoni, pelas empresas Alberto & Pantoja Construções e Décio e Rafael Construção e Terraplanagem.

O jornalista justificou que pediu ao assessor Lúcio Fiúza que depositasse o dinheiro na conta da filha porque era ela quem pagava suas contas. “Ela é quem paga a minhas contas, é ela quem dirige o meu carro, é ela quem cuida de mim”, afirmou o jornalista, que sofre do Mal de Parkinson.

Ainda com relação ao pagamento, Bordoni disse que não tem como provar os valores recebidos em dinheiro, que utilizou a empresa Art Mídia apenas a pedido da campanha de Perillo e que aquele montante não era o total acordado entre eles, mas parte do pagamento.

Para exemplificar a sua dedicação a Perillo, Bordoni contou que chegou a responder a processo por injúria e difamação movido por dois procuradores e uma juíza de Goiás porque tinha dito que eles usavam seus cargos para prejudicar Perillo. O jornalista foi condenado a 12 anos de detenção, mas o processo foi anulado por prescrição pelo Tribunal Regional Federal da 1² Região.

Com relação a Carlinhos Cachoeira, Bordoni disse que não o conhece, que nunca o viu, mas avalia que a irritação do contraventor contra ele seria pelas críticas que fez em um programa de TV que apresentava em Goiás sobre o alto valor cobrado pela Delta nos equipamentos de fiscalização eletrônica (pardais). Ele disse que foi pego de surpresa ao saber da relação do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) com Cachoeira.

Explicações para o fisco

Bordoni admitiu que o pagamento em dinheiro que recebeu de Perillo não foi declarado à Receita Federal. Por conta disso, o deputado Carlos Sampaio pediu que a CPI contatasse a Receita para apurar “crime contra a ordem tributária”. Em resposta, o jornalista disse estar "pronto para responder à Receita o que me couber".

O relator da CPI do Cachoeira, Odair Cunha (PT-MG), chegou a dizer para Bordoni que, "se achar que tem tributo a pagar, pode fazê-lo".

Bordoni afirmou ainda que recebeu pagamento de caixa dois em todas as campanhas das quais participou. "Dinheiro por fora, nós recebemos em todas as campanhas". Segundo Bordoni, um instituto de pesquisa também foi pago com dinheiro da Alberto & Pantoja.

Relações com o poder

Em seu depoimento, Bordoni afirmou que Perillo mentiu em mais de uma vez quando depôs na CPI. Entre os pontos que rebateu, está a relação de Perillo com Cachoeira. Segundo o jornalista, o relacionamento entre os dois era próximo e a ex-chefe de gabinete, Eliane Pinheiro, e o ex-vereador Wladimir Garcez eram "braços políticos de Cachoeira" dentro do Palácio das Esmeraldas, sede do governo estadual goiano.

Ele disse que só chegaram no nome dele porque a filha Bruna foi contratada pelo senador Demóstenes para ser assessora parlamentar dele em 2005. Ela foi nomeada, mas não chegou a assumir porque estava doente, com hepatite C, segundo Bordoni. Como havia gravado um programa para Demóstenes em 2002 sem cobrar nada, a nomeação da filha foi uma maneira de o senador retribuir o trabalho.

O jornalista voltou a trabalhar na campanha de 2010 de Demóstenes, pelo qual foi pago. Ele também participou das campanhas da senadora Lúcia Vânia (PSDB-GO) em 2010, do deputado federal Sandes Júnior (PP-GO) em 2008 e do ex-governador de Goiás Alcides Rodrigues, em 2006. Bordoni admitiu que os R$ 50 mil recebidos em 2008 pelo trabalho feito a Sandes Junior não foram declarados.

Ele informou ainda que a mãe dela, Sonia Vaz Monteiro, trabalha no governo do Perillo, mas ele não soube informar qual função desempenha, apenas que não trabalha diretamente com o governador.

Outros depoentes

Além de Bordoni, foi chamada para depor nesta quarta-feira a ex-chefe de gabinete de Perillo, Eliane Pinheiro, suspeita de repassar informações policiais a Cachoeira e o tesoureiro da campanha tucana em 2010. No entanto, ela ficou menos de um minuto na CPI: disse que foi orientada por seu advogado a não falar e foi dispensada.

O presidente da Agetop (Agência Goiana de Transportes e Obras), Jayme Rincón, acusado de receber R$ 600 mil de uma empresa do contraventor, também deveria depor nesta quarta, mas enviou um atestado médico à comissão dizendo que sofre de aneurisma e há o risco de sofrer hemorragia cerebral se submetido a situação de estresse.

O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), disse que irá convocar Rincón para uma perícia médica no Senado, mas ainda sem data definida.

Amanhã, quinta-feira (28), estão previstos outros três depoimentos de pessoas ligadas ao governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Os convocados são o ex-chefe de gabinete de Agnelo, Claudio Monteiro; João Carlos Feitosa, o Zunga, que atuou na campanha do governador e foi subsecretário de Esportes do governo de Agnelo; e Marcello de Oliveira Lopes, o Marcelão, ex-assessor de Agnelo.