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'Surda' a protestos, China contempla risco de descontrole em Hong Kong

Um manifestante atinge um recorte com o rosto do chefe do executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, durante protesto próximo a escritórios do governo no distrito financeiro central de Admiralty, em Hong Kong (China) - Tyrone Siu/Reuters
Um manifestante atinge um recorte com o rosto do chefe do executivo de Hong Kong, Leung Chun-ying, durante protesto próximo a escritórios do governo no distrito financeiro central de Admiralty, em Hong Kong (China) Imagem: Tyrone Siu/Reuters

29/09/2014 20h44Atualizada em 30/09/2014 08h14

Durante todo o dia houve uma atmosfera carnavalesca. Estudantes distribuíram garrafas de água, biscoitos, pão e bananas para os colegas participantes do protesto.

Eles também ajudaram os manifestantes a escalar barricadas. Os autofalantes entravam em ação constantemente.

E o protesto foi ganhando maiores proporções. Milhares de manifestantes paralisaram um dos mais importantes centros financeiros do planeta, forçando empresas a fechar e fazendo bolsas de valores caírem.

Em meio a arranha-céus brilhantes, os participantes do protesto exibiam cartazes exigindo democracia.

Moeda de troca

Essa é a maior campanha por desobediência civil em Hong Kong em anos. Alguns manifestantes carregavam guarda-chuvas decorados com a palavra "revolução".

A ação foi significativa, até para os padrões de Hong Kong, onde as pessoas têm direitos como liberdade de expressão garantidos – ao contrário do que acontece na China continental.

"Nós queremos que Pequim cumpra sua promessa e deixe as pessoas de Hong Kong controlarem a cidade", afirmou o técnico de informática Joe Cheung, de 41 anos.

"Não estamos preocupados com o que vai acontecer. Lutaremos até o fim. Precisamos defender nossa cidade".

Alguns manifestantes se prepararam até para a violência. Organizadores prepararam tendas de primeiros socorros.

A polícia queria tirar os manifestantes do distrito de negócios da cidade, mas ao contrário apenas aumentou o clima de provocação.

"Não posso acreditar que eles usaram gás lacrimogênio", afirmou Gary Loong, de 32 anos, que se uniu à multidão depois de sair do trabalho.

"Nós não queremos derramamento de sangue. Mas temos que fechar o distrito de negócios pois essa é a nossa única moeda de barganha".

Inimigo público

Quando a noite caiu, aplausos ecoaram na multidão. Muitos trabalhadores de escritórios se uniram aos manifestantes ou se juntaram em pontes para assistir às cenas memoráveis.

Em diversas ocasiões, muitas pessoas levantaram seus telefones celulares com as luzes acesas. As únicas vaias foram proferidas pela multidão quando manifestantes levantaram um grande retrato de C.Y. Leung, o chefe executivo da região administrativa de Hong Kong.

Para os manifestantes, ele é o inimigo público número um e deve renunciar.

Mas muitos outros moradores de Hong Kong não estão nas ruas e dizem acreditar que os manifestantes estão exagerando nas reivindicações contra Pequim. Eles também dizem temer que protestos crescentes podem levar à instabilidade e à fuga de capitais.

Mas apesar do grande desafio lançado pelos manifestantes, não há sinais de que Pequim está escutando. As manifestações são vistas como ilegais.

E como ninguém parece disposto a recuar, o perigo é que os protestos saiam do controle.