Brasil contra México, uma batalha de gigantes
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Presidente Dilma discursa na ONU em reunião de 2011
O Brasil tem a maior economia da América Latina; o México tem a segunda maior. O Brasil está na moda agora; o México não está.
Analistas financeiros, acadêmicos e a mídia veem o Brasil como sendo uma história de sucesso; o México, como um fracasso.
O Brasil espera pela Copa do Mundo de futebol de 2014, pelos Jogos Olímpicos de 2016 e pelas riquezas das recém-descobertas reservas em alto-mar do chamado petróleo pré-sal.
O México, por outro lado, é visto como uma zona de guerra: economicamente estagnado; presa da violência das drogas, instabilidade e violações de direitos humanos; politicamente paralisado; e gradualmente cada vez mais dependente dos Estados Unidos, apesar dos ocasionais impulsos anti-ianques dos mexicanos.
É claro que essa comparação irrita os mexicanos e agrada os brasileiros. Durante os anos 90, a narrativa era exatamente a oposta, gerando ira dos brasileiros e arrogância dos mexicanos.
Os líderes empresariais mexicanos e membros da "comentocracia" ficam incomodados com o contraste com o Brasil –e também invejosos. Para um setor da esquerda política e intelectual do México, as realizações do Brasil são uma arma para atacar o governo mexicano: veja quão bem o Brasil de esquerda está se saindo; vamos fazer o mesmo.
Enquanto isso, qualquer comparação favorável com o México incita as ambições regionais e internacionais do Brasil: que melhor motivo para sustentar a liderança do Brasil do que evitar um declínio como o do México, com sua história de fracassos e sua saída virtual da América Latina? O México está pendendo para o norte, não para o sul.
Para o restante do mundo, os brasileiros estão vivendo um conto de fadas; os mexicanos, uma história de horror.
Na verdade, os números não corroboram. Uma surpresa é que no ano passado a economia do México cresceu mais do que a brasileira: 4% do produto interno bruto em comparação a 3% no Brasil. Para 2012, o México espera um crescimento de 3,5%; o Brasil, 3%. Se os Estados Unidos sustentarem sua recuperação e a China e a Europa sofrerem reveses, é possível que a economia do México supere em crescimento a do Brasil pelo segundo ano consecutivo.
Os dados mostram que o famoso milagre brasileiro está começando a perder força. A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, sentiu a necessidade de reduzir os excessivos gastos pré-eleitorais ordenados por seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. E a taxa de inflação do Brasil é quase o dobro da taxa do México.
É verdade que a classe média brasileira cresceu e atualmente representa uma maior proporção da população do que no México. E desde 2000, o Brasil tem se saído melhor do que o México na redução da pobreza. Nós veremos se as recentes estatísticas econômicas do México reverterão a tendência.
O México tem se saído melhor do que o Brasil em índices como educação, meio ambiente e saúde, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU de 2011: no geral, o México ocupou o 57º lugar entre os países; o Brasil ficou em 84º.
No ano passado, o produto interno bruto per capita do México foi estimado em US$ 15.100; o do Brasil, US$ 11.600. As estatísticas mais recentes (2008-2009) para o chamado coeficiente de Gini, que mede a desigualdade entre ricos e pobres, mostram que o México é ligeiramente mais igual do que o Brasil.
Como o mundo avalia os dois países é, em parte, uma questão de relações públicas. Os dois últimos governos do Brasil e o seu atual elaboraram um programa magistral de autopromoção internacional.
Os dois últimos governos do México se saíram modestamente bem na proclamação das realizações do país. Mas sob o atual presidente Felipe Calderón, a imagem do México parece incansavelmente sombria.
O governo Calderón se concentrou excessivamente na guerra contra o crime organizado. Os resultados –cerca de 47 mil mortos em cinco anos, segundo as estatísticas oficiais– criaram uma percepção de catástrofe no México que não reflete a realidade econômica e social do país.
Por um lado, o México está melhor posicionado do que o Brasil para aproveitar as tendências atuais na economia global. A principal exportação do México é de produtos manufaturados (quase três quartos do total de suas exportações), principalmente para os Estados Unidos. Uma economia americana mais saudável aumenta a demanda pelas exportações mexicanas, que por sua vez criam empregos mexicanos.
O Brasil, por sua vez, se apoia mais nos commodities (café, minério de ferro e soja) do que em manufaturados. Os commodities representam quase 45% das exportações do Brasil.
A China se tornou a maior cliente do Brasil. Mas a economia superaquecida da China está exibindo sinais de esfriamento. E os preços de alguns commodities exportados pelo Brasil também esfriaram.
A posição do México no setor manufatureiro e sua integração com a economia da América do Norte parecem boas apostas.
Em breve, os pontos de vista do mundo a respeito do Brasil e do México vão mudar. Um novo presidente mexicano tomará posse em 12 de dezembro –presumivelmente alguém com uma nova abordagem em relação à guerra contra as drogas.
Em 2014, a Copa do Mundo exporá as deficiências do Brasil em infraestrutura, comunicações, turismo e até mesmo segurança, revelando a realidade por trás da reputação.
Durante as duas últimas décadas, Brasil e México se comportaram de modo mais ou menos igual em termos de suas políticas econômicas, sociais e políticas, apesar da atual nostalgia no México pelo Partido Revolucionário Institucional; e, no Brasil, arrogância a respeito do Partido dos Trabalhadores. Os dois países apresentam histórias de relativo sucesso –e decepções recorrentes.
Nenhum país conquistou uma vantagem permanente sobre o outro, exceto em dois reinos onde os brasileiros são infinitamente melhores do que os mexicanos: futebol e vanglória.
Jorge Castañeda
Jorge Castañeda foi chanceler do México e é autor de uma das mais extensivas biografias já publicadas sobre Che Guevara.