Peña, o narco e Obama

Jorge Castañeda

Jorge Castañeda

  • Kevin Lamarque/Reuters

    O presidente do México, Enrique Peña Nieto (à esq.), observa o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (à dir.), durante entrevista coletiva na Casa Branca

    O presidente do México, Enrique Peña Nieto (à esq.), observa o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (à dir.), durante entrevista coletiva na Casa Branca

Nos últimos dias se iniciou de maneira balbuciante e atrapalhada uma discussão necessária sobre a evolução da violência no México nos primeiros meses do mandato de Enrique Peña Nieto. O governo sugeriu que já começou a diminuir o número de mortos nos primeiros quatro meses da administração. Os meios de comunicação que retomaram sua contagem, como este e outros, dão a entender o contrário: que o número de execuções diárias e semanais durante este quadrimestre permanece mais ou menos idêntico ao do período equivalente de 2012, ou aos últimos quatro meses do governo de Felipe Calderón, corrigindo as variações sazonais.

Na realidade, não teremos durante algum tempo uma fonte absolutamente confiável para comparar os dados deste mandato de seis anos com o anterior, porque não fica claro se as coisas estão sendo contadas da mesma maneira; e a mídia continuará sendo provavelmente o melhor indicador, mas com as inevitáveis interseções devido à escassez de recursos disponíveis para esse propósito.

O importante, entretanto, não deveriam ser se caíram ou não os níveis de violência medidos, seja por homicídios dolosos em geral, por homicídios diretamente ligados ao crime organizado e/ou à guerra contra as drogas. O interessante seria um simples silogismo que, caso comprovado, resultaria irrefutável. Para nós que sempre pensamos, desde o início do sexênio de Calderón, que a declaração de guerra foi o que levou à violência, e não o contrário, fica evidente que se a guerra for suspensa a violência diminuirá. Ao inverso, se a guerra continuar, continuará a violência, a menos que se pense-- como insinuaram alguns--, e talvez tenham razão, que a violência começou a cair porque se ganhou a guerra.

Ora, se nos colocarmos na primeira hipótese e partirmos da tese de que se a guerra acabar a violência diminuirá, bastaria saber se a guerra está terminando para poder prever com certa certeza se a violência vai diminuir, e em particular o número de mortes, que é o melhor indicador que se tem a respeito e, é claro, o mais prejudicial para a sociedade.
O que sabemos? Em primeiro lugar, de acordo com um artigo do jornal "Reforma" de 21 de abril, no qual aparecem os números apresentados pela Sedena ao público via Transparencia, diminuiu em 36% o número de seus efetivos mobilizados no combate ao crime organizado. Passaram de praticamente 50 mil elementos em média mensal em 2010 e 2011 para 32 mil no primeiro quadrimestre deste ano no que se refere ao Exército, e com reduções no referente à Armada e à Polícia Federal. Sabemos por conversas que eu mesmo, colegas e coautores meus tivemos com pelo menos quatro governadores - três deles do PRI - que efetivamente o Exército está desmontando barreiras nas estradas, retirando-se para os quartéis próximos das cidades, mas não patrulha mais estradas e povoados, e concentra sua atividade, assim como a Marinha e a Polícia Federal, em atacar o grupo mais violento de cada entidade, seja esse qual for.

Trata-se um pouco da estratégia sugerida por Mark Kleiman em um artigo de "Foreign Affairs" publicado há quase dois anos. Sabemos também que em alguns Estados com rotas sem perigo iminente, as autoridades estão deixando passar a "mercadoria" rumo aos EUA.

Entende-se que o governo de Peña Nieto não o diga. À diferença de Calderón, quando cacarejar tudo era uma parte intrínseca e necessária do esquema, se Peña Nieto escolheu essa outra estratégia o importante é ficar calado, não para que se fale menos da violência, mas para não expor uma estratégia na minha opinião correta, mas inconfessável. Inconfessável diante de quem? Diante de muita gente, mas sobretudo diante do visitante de luxo que receberá na próxima: Barack Obama. Porque essa estratégia é publicamente inaceitável para Obama, embora compartilhe a ideia que há por trás dela.
 

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Jorge Castañeda

Jorge Castañeda foi chanceler do México e é autor de uma das mais extensivas biografias já publicadas sobre Che Guevara.

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