Yoani e as reações pró-Castro no México

Jorge Castañeda

Jorge Castañeda

  • 10.mar.2013 - Imelda Medina/Reuters

    Mexicanos protestam contra a presença da blogueira cubana Yoani Sánchez em encontro da Sociedade Interamericana de Imprensa, em Puebla

    Mexicanos protestam contra a presença da blogueira cubana Yoani Sánchez em encontro da Sociedade Interamericana de Imprensa, em Puebla

Obviamente aconteciam coisas mais importantes no México e no mundo do que a visita a nosso país de Yoani Sánchez, a dissidente cubana.

Além disso, se não fosse pelos enlouquecidos e anacrônicos funcionários e auxiliares da embaixada cubana que a interpelaram em Puebla e no Senado, nem sequer teríamos nos inteirado de que a famosa blogueira e colunista de "El País" havia passado pelo México em sua volta do picadeiro com o novo passaporte.

Com a esperada e feliz exceção de Ciro Gómez Leyva, Francisco Garfias e Carlos Puig, não vi colunas na imprensa mexicana comentando sua presença ou seus pontos de vista --e isso que nossa "comentocracia" costuma ter algo a dizer sobre absolutamente tudo o que se possa imaginar.

Dito isso, para os que não nos desviamos do assunto, sim, convém refletir sobre três aspectos do giro internacional de Sánchez e, em particular, de sua visita ao México. Em primeiro lugar, como já se disse, tanto no Brasil como agora em Puebla e na Câmara alta do Congresso apareceram as miniturbas pró-Castro para lhe lançar apelidos, papeizinhos, bandeirinhas e outras bobagens.

O interessante do caso não é que ainda existam semelhantes idiotas, mas que a embaixada de Cuba e, portanto, o governo da ilha, pense que ganha algo fustigando os dissidentes que eles mesmos enalteceram e agora deixaram sair mais ou menos livremente do país. Parece incrível que Havana possa imaginar por um só instante que os malucos em questão reflitam "o repúdio do povo do México" (ou do Brasil, da Espanha, dos EUA ou de qualquer país do mundo) aos "mercenários", à "gente do imperialismo", aos "vende-pátrias", aos "lacaios pró-ianques". O nível de ócio, insensibilidade e ignorância que mostra uma decisão desse tipo (confirmada pela revista brasileira "Veja", mas obviamente não investigada por qualquer veículo no caso do México) é inacreditável.

Em segundo lugar, é preciso ressaltar, como já o fez Carlos Puig em particular, o silêncio ensurdecedor dos três partidos políticos e do governo de Enrique Peña Nieto em torno da presença no México da que é hoje a única dissidente cubana conhecida e de alguma maneira tolerada pelo regime dos Castro. Nobres exceções a esse desdém são Roberto Gil Zuarth, Mariana Gómez del Campo e Manuel Camacho Solís, que tiveram o mérito de convidá-la ao Senado; confirmações lamentáveis do desdém são os demais senadores diretamente envolvidos em política externa e, é claro, a Secretaria de Relações Exteriores e a Presidência.

Poderão alegar que só Vicente Fox e o que aqui escreve recebiam outros dissidentes cubanos como o falecido Oswaldo Payá; talvez, mas talvez fosse bom Enrique Peña Nieto lembrar como se sentiu quando, há três ou quatro anos, Felipe Calderón interveio diante da presidência brasileira para impedir que o então governador do Estado do México fosse recebido no Palácio do Planalto. Ou se pressiona para que haja uma oposição política em Cuba ou se fala com a oposição individualizada existente: é a única atitude democrática possível.

Por último, gostaria de repetir a Yoani Sánchez o que me permiti sugerir-lhe no ar com Ciro Gómez Leyva, na rádio Fórmula: não vale a pena insistir tanto em explicar a procedência dos recursos com que são pagas suas viagens e estadias. Para os stalinistas tropicais, nunca haverá fonte de financiamento legítimo e aceitável para uma causa ilegítima e inaceitável. Não tem sentido perder tempo com isso; é melhor falar do calvário cubano, e não do dinheiro obtido por bem.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Jorge Castañeda

Jorge Castañeda foi chanceler do México e é autor de uma das mais extensivas biografias já publicadas sobre Che Guevara.

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