A reforma diária vai?

Jorge Castañeda

Jorge Castañeda

  • Vanessa Carvalho/AE

    Presidente do México, Enrique Peña Nieto, em visita ao Brasil em setembro de 2012

    Presidente do México, Enrique Peña Nieto, em visita ao Brasil em setembro de 2012

Vários analistas detectaram, com certa estranheza, uma tendência que aparece em diferentes pesquisas realizadas sobre os primeiros meses do governo de Peña Nieto. Certamente há mais; as que pude revisar incluem a que apareceu em "Reforma" nesta segunda-feira (1), a da GEA-ISA, comentada por Guillermo Valdés em "Milenio" ontem (3), e duas de Roy Campos - Consulta Mitofsky - resumidas pelo próprio Campos em seu artigo de "El Economista". Suponho que Roy levantou duas pesquisas querendo medir "o efeito Gordillo", isto é, a diferença entre a pesquisa dos 90 dias de gestão e outra, para cem dias, que medisse o impacto da detenção. Nos outros dois casos também parece haver uma ligeira defasagem de datas com as realizadas há seis, 12 e 18 anos: a maioria era publicada muito perto dos três meses de governo, e portanto eram levantadas uma semana antes desse período; entretanto, ao ser feita a da GEA-ISA entre 9 e 11 de março e a da Reforma entre 15 e 17 de março, ambas incorporam as consequências do "caso Elba" de 26 de fevereiro.

O primeiro resultado surpreendente é que em todas tanto a qualificação como a aprovação do EPN são significativamente menores que a de Fox em fevereiro de 2001 (Reforma 70% vs. 50%; Mitofsky-90 dias 70% vs. 53%; ou Mitofsky-100 dias 70% e 59%; e GEA-ISA 73% vs. 55%). As comparações com Zedillo e Calderón também são favoráveis a esses dois, inclusive no caso de Zedillo, que sofreu os efeitos do erro de novembro. Uma medição adicional de Mitofsky - se o presidente segura as rédeas do país - deu 50% a Fox em fevereiro de 2001 e 40% a EPN em fevereiro de 2013, embora essa cifra se eleve para 53% depois da prisão de Elba. Sobre a credibilidade do presidente, a Mitofsky deu 66% a Fox em fevereiro de 2001 e 49% a EPN antes de Elba e 53% depois; à pergunta da Reforma "Quando EPN faz pronunciamentos à nação para explicar seus atos de governo, o quanto você acredita nele?"; 51% pouco ou nada, 45% muito ou alguma coisa. Quanto à simpatia partidária, GEA-ISA mostra que a do PAN não se moveu desde junho de 2012 (18%-19%), nem a do PRI que se mantém ao redor de 35%; e 14% para o PRD com uma queda a partir de setembro.

Reforma mostra que a opinião pública é favorável a EPN na maioria de seus atos de governo (com exceção da forma como se conduziu a explosão da Pemex). Mas o que indica uma forte dose de ceticismo é que os desfavoráveis superam ou são iguais aos favoráveis em pobreza, política interna, segurança pública, economia, emprego e sobretudo corrupção.

A Reforma também pesquisou o que chama de líderes de opinião. Os dados mostram uma opinião muito mais positiva deles que a do público em geral. Talvez uma explicação seja que depois da Cruzada contra a Fome e a prisão de Elba o Pacto pelo México foi considerado o feito mais importante de EPN.

De minha parte, escutei três explicações dessa contradição entre o que pensam os líderes de opinião ou a "comentocracia" e o público em geral; nenhuma me satisfaz. A primeira: EPN se esforçou para conquistar o círculo vermelho, deixando para depois o verde. Se revisarmos as campanhas de spots no rádio e televisão, e o fluxo ininterrupto de eventos com o presidente, não é o caso. A segunda: como em parte por lei e em parte por decisão a imagem de EPN não aparece nos spots, é difícil que iguale a popularidade de Fox, cujo rosto aparecia na tela, ou a de Calderón no primeiro ano; não é impossível, mas se for verdade também não tem remédio. A terceira: nenhum dos anúncios feitos até agora traz benefícios imediatos para a população, e existe um grande ceticismo diante do PRI.

Fico com o abismo que sempre existiu entre opinião publicada e opinião pública no México, e as dúvidas que possa gerar a versão peñista, segundo Joel Ortega Juárez, da canção de Carlos Puebla: "A reforma diária vai; de qualquer maneira vai".

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Jorge Castañeda

Jorge Castañeda foi chanceler do México e é autor de uma das mais extensivas biografias já publicadas sobre Che Guevara.

UOL Cursos Online

Todos os cursos