Os parâmetros entre a guerra do narcotráfico e os investimentos estrangeiros no México
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Nicholas Kamm/AFP
Integrantes da "Caravana pela Paz" protestam perto da Casa Branca, em Washington, nos Estados Unidos, contra o narcotráfico e a violência no México. Imagem de 10 de setembro de 2012
Aproxima-se o momento de fazer as contas de custos e resultados da guerra contra o narcotráfico de Felipe Calderón. Muitos são conhecidos: 60 mil mortos, mais de US$ 60 bilhões gastos em segurança além do que já se gastava antes, aumento dos sequestros, extorsão, assaltos e roubos; violações aos direitos humanos e a deterioração da imagem do México no mundo, tudo isso quanto aos custos. No tocante a resultados, alguns também já são conhecidos: o número de chefões capturados ou executados; o crescimento dos efetivos da Polícia Federal; apreensões de armas, aviões, veículos e, em medida muito menor, de cocaína, heroína, maconha e metanfetaminas. Mas entre os custos ocultos há um que, apesar das declarações do governo e do otimismo de certos observadores externos e empresários internos, não foi detectado com precisão.
Refiro-me ao montante do IED (investimento estrangeiro direto) no México. Não é fácil estabelecer uma relação direta entre a guerra e o valor do IED. Muitos fatores intervêm, mas pareceria que são todos favoráveis a um maior volume de IED no México: a quantidade de dinheiro que circula pelo mercado mundial de capitais, a falta de oportunidades atraentes em outras regiões do mundo, a relativa estabilidade política mexicana e o bom desempenho de nossa macroeconomia seriam prognósticos de bons resultados.
Mas estes não existem, sobretudo se compararmos com anos anteriores, como se deve fazer a comparação, quer dizer, como porcentagem do Produto Interno Bruto (PIB) do México, e não só em termos absolutos. Analisar dessa forma o IED também nos dá uma ideia de como estamos distantes da porcentagem do PIB necessária para complementar o investimento público e privado nacionais imprescindíveis para elevar o ritmo de crescimento de 3% ou 3,5% em média dos últimos 15 anos para os 5 ou 5,5% que todos desejamos.
Em 1981, o pico do boom petroleiro mas com uma economia fundamentalmente fechada, o IED alcançou 1,2% do PIB (todos os dados citados se baseiam em dólares correntes para cada ano). Em 1990, devido à crise da dívida e ao estancamento da economia mexicana, caiu 0,9% e começou a se recuperar só a partir de 1994, quando entrou em vigor o TLC e aumentou para 2,6%. O ano de 1995 foi, com exceção de 2001, o melhor ano de todos, em parte devido à queda do PIB de 6%: o IED representou 3,3% do PIB. Nos anos seguintes se manteve estável e foi de 3,1% do PIB em 2000; chegou a 4,8%, número recorde, em 2001 - devido em parte ao bônus democrático de Fox e em parte à compra do Banamex pelo Citibank.
Até 2007 se manteve em 3%, mas a partir de 2008 (estranhamente o ano em que realmente começa a violência) começa a baixar: 1,8% em 2009, recupera-se ligeiramente para 1,9% em 2010 devido à compra da FEMSA pela Heineken; mas em 2011 cai para 1,7% e para 2012 é estimado em 1,6% do PIB. No próximo ano certamente haverá um novo pico graças à aquisição da Modelo pela InBev; mas nos três casos (Banamex, FEMSA e Modelo) trata-se de ativos já existentes e "one time only". A tendência é evidente. Hoje estamos pouco acima de onde estávamos em 1981 e abaixo do período 1995-2007.
Se o México precisa elevar sua taxa de investimento (formação de capital) para cerca de 25 pontos do PIB, em vez dos cerca de 20 que temos hoje (a China está em mais de 40), esses 5 pontos adicionais só podem provir de duas fontes importantes: o investimento privado nacional e o IED. O setor público deve investir mais em infraestrutura e energia, mas dificilmente contará com os recursos. Em vez de aumentar o IED como porcentagem do PIB, como ocorreu até 2007, vamos em pique desde 2008. Isso tem algo a ver com a guerra?
Jorge Castañeda
Jorge Castañeda foi chanceler do México e é autor de uma das mais extensivas biografias já publicadas sobre Che Guevara.