Migração para os EUA volta a crescer
Tudo indica que no transcorrer do primeiro semestre deste ano Obama enviará ao Congresso dos EUA uma iniciativa de reforma migratória integral. Nesse caso, obrigará o novo governo do México a tomar uma de suas primeiras decisões substantivas em política externa. O dilema e suas derivadas são mais ou menos bem conhecidos porque correspondem a dois caminhos que foram seguidos durante os dois governos anteriores. Enrique Peña Nieto pode apoiar/incentivar/pressionar/sugestionar os poderes Executivo e Legislativo dos EUA, assim como setores da sociedade americana, a favor de uma reforma, insistindo em que toda reforma envolve algum tipo de acordo e de cooperação com o México; ou pode deixar que as coisas fluam por si mesmas e não intervir.
Caso faça o primeiro, o que Peña Nieto insinuou durante sua visita a Washington, e que me surpreenderia agradavelmente que fizesse, deve optar entre proceder em público ou em privado; com os governos centro-americanos, e em menor medida do Caribe; e em aliança com determinados setores nos EUA (latinos e anglos, republicanos e democratas, conservadores e liberais) ou só.
Alguns comentaristas que acompanham esses temas no México sugeriram que graças às revelações de um estudo em particular de Jeffrey S. Passel, do Centro Hispânico Pew, divulgado em meados de 2012, a reforma migratória americana perdeu importância. Chegou-se ao "zero líquido": o fluxo não documentado líquido de mexicanos emigrando para os EUA desapareceu. O ex-presidente Calderón inclusive se vangloriou disso em uma de suas íntimas visitas aos EUA. Eu mesmo, em um artigo publicado nestas páginas em 7 de junho de 2012, afirmei que outra parte da reforma pode ser considerada quase consumada, já que ao longo dos últimos três ou quatro anos houve um aumento espetacular no fluxo migratório documentado, ou autorizado, de mexicanos para os EUA. Parece-me que o segundo continua sendo verdadeiro, mas aleatório; e há razões para pensar que o primeiro já não é totalmente verdadeiro, se é que o foi algum dia.
Um novo estudo de Roberto Suro e René Zenteno, ''Mexican Migration Beyond the Downturn and Deportations’' [Migração mexicana além da recessão e deportações], que utiliza dados do Colegio de la Frontera Norte, em Tijuana, e do Thomás Rivera Policy Institute, em Los Angeles, afirma que no início ou em meados de 2012 os fluxos migratórios não autorizados para o norte voltaram a subir, enquanto os fluxos para o sul diminuíram: "O resultado é que o tamanho da população mexicana nascida nos EUA se recuperou completamente das perdas que sofreu durante a recessão". As dimensões dessa população, que inclui mexicanos com e sem papéis, se manteve no mesmo nível - aproximadamente 11,7 milhões de pessoas - que alcançaram antes da recessão de 2008-2009.
Os autores consideram que a razão da retomada dos fluxos para o norte e da queda de retornos voluntários e obrigatórios para o sul tem a ver fundamentalmente com a situação econômica nos EUA, e muito pouco com o panorama econômico no México ou com a política de endurecimento migratório dos governos Bush e Obama. Suas conclusões são confirmadas por dados da Conapo citados por "Reforma" em 29 de novembro passado, que estimou em 467 mil os mexicanos que migraram para os EUA em 2012, com ou sem papéis.
Se sabemos que essa população só aumenta com a chegada de novos imigrantes, e não por crescimento natural, já que toda criança nascida nos EUA é automaticamente computada como americana, e lembramos que o mesmo universo só diminui por falecimentos, deportações do interior ("removals") e retornos voluntários, podemos concluir que em um nível inferior ao ano pico de 2007, mas de toda maneira elevado, se mantém um fluxo migratório mexicano para os EUA, legal ou ilegal, e que se a economia americana continuar se recuperando esse fluxo continuará aumentando. É nesse contexto que Peña Nieto deverá tomar sua decisão.
Jorge Castañeda
Jorge Castañeda foi chanceler do México e é autor de uma das mais extensivas biografias já publicadas sobre Che Guevara.