Josmar Jozino

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Acusado de matar PM no Guarujá nunca foi 'sniper do tráfico', diz advogada

Apontado por policiais como "sniper do tráfico", Erickson David da Silva, 28, o Deivinho, segundo sua advogada, "mal sabe atirar, nunca pegou em arma de precisão e não passava de olheiro (vigia) de uma biqueira (ponto de venda de drogas) no Guarujá (SP)".

Deivinho é acusado de matar o soldado da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) Patrick Bastos Reis, 30, em 27 de julho deste ano. O policial militar fazia patrulhamento com outros colegas de farda na Vila Zilda e estava na viatura da Rota quando foi atingido por disparo de pistola 9 mm.

Quatro dias depois do crime, policiais civis da Baixada Santista apreenderam uma pistola 9 mm e projéteis do mesmo calibre em um beco da comunidade Vila Júlia. Os investigadores atribuíram a arma e os disparos a Deivinho e ele acabou preso.

Exames residuográficos apontaram que Deivinho não tinha sinais de pólvora nas mãos. Laudos periciais da Polícia Científica também constataram que a bala que matou o soldado Reis não saiu da pistola 9 mm apresentada pelos policiais civis.

Depois da morte do soldado, 600 policiais foram deslocados à Baixada Santista para participar da Operação Escudo. As ações deixaram ao menos 28 mortos. Segundo o governo paulista, não houve abuso policial.

Vigilância em troca de drogas

De acordo com a advogada Karina Renata Rodrigues, o rapaz é viciado em drogas, trabalhava como olheiro na comunidade em troca de entorpecentes e recebia R$ 50 por dia. A defensora disse que Deivinho é muito pobre, morava em casa humilde e que a mãe dele ganhava mais do que o filho fazendo faxina diária.

Deivinho e o irmão Kauã Jazon da Silva, 20, também acusado de envolvimento no crime, estão presos na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP). O presídio é um forte reduto do PCC (Primeiro Comando da Capital) e abriga prisioneiros considerados de altíssima periculosidade.

Karina afirma que Deivinho nunca segurou um fuzil, um rifle ou qualquer arma de precisão e, portanto, jamais poderia ser chamado de "sniper".

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Qual dono do tráfico seria doido a ponto de deixar armas tão caras nas mãos de um olheiro pobre e viciado?
Karina Renata Rodrigues

Família de Deivinho deixou a casa onde morava  na Vila Júlia (Guarujá) após a prisão dele por temor de violência policial
Família de Deivinho deixou a casa onde morava na Vila Júlia (Guarujá) após a prisão dele por temor de violência policial Imagem: Arquivo pessoal

Sniper é a denominação de atirador profissional, de elite, que geralmente fica escondido buscando atingir o alvo com uma arma de precisão. Karina assegura que esse não era e jamais foi o perfil do cliente dela. "É uma acusação injusta, descabida e vergonhosa", desabafou.

A criminalista também defende Kauã e diz que a situação dele é ainda pior do que a de Deivinho, porque ele é dependente químico, mais viciado do que o irmão, sendo inclusive conhecido como "noia" na comunidade, e nunca teve envolvimento com o crime.

Na avaliação de Karina, os laudos periciais indicam que Deivinho é inocente, não matou o soldado Reis. A defensora espera que os clientes sejam soltos o mais rápido possível. "Os dois irmãos não integram facção criminosa e foram parar direto na P-2 de Venceslau. Podem ser devorados", afirmou.

O que diz a Secretaria da Segurança Pública

A SSP (Secretaria Estadual da Segurança Pública) informou por nota que todas as circunstâncias relacionadas à morte do soldado Reis seguem em investigação minuciosa pela Delegacia do Guarujá.

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A pasta diz ainda que os laudos periciais e toda a documentação referente ao caso são analisados pela autoridade policial e também pela PM, por meio de Inquérito Policial Militar, para auxiliar no esclarecimento dos fatos.

A nota acrescenta que "é importante ressaltar que a possível arma utilizada no crime não foi apreendida com o criminoso, foi encontrada na mesma comunidade [Vila Zilda], assim como outras 118 armas apreendidas durante a operação".

Segundo a SSP, "o indiciado [Deivinho] foi preso dias após o crime, em São Paulo, e a prisão não está embasada no armamento apreendido, mas nas provas testemunhais de outros criminosos que o apontaram como autor do crime".

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