Bebês degolados e crianças em jaulas: o que se sabe sobre casos da guerra

Desde ontem, diversos veículos jornalísticos no mundo inteiro noticiam que o Hamas teria matado 40 bebês, inclusive decapitados. A origem da informação é de uma TV israelense, porém o Exército de Israel não confirma o fato.

Na noite desta quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chegou a dizer a líderes da comunidade judaica que viu fotos de "terroristas decapitando crianças". Horas mais tarde, porém, funcionários da Casa Branca recuaram e disseram não ter visto fotos, nem confirmaram o incidente de maneira independente.

Mais cedo, o grupo extremista Hamas já havia negado a notícia.

Há também uma imagem de crianças dentro de uma gaiola que circula na internet como se fossem pequenos israelenses sequestrados pelo Hamas. Embora não tenha sido possível identificar o contexto original do vídeo, sabe-se que ele não está relacionado com o conflito Israel-Hamas e que havia sido publicado nas redes sociais antes da ofensiva do Hamas no último sábado.

O que se sabe sobre os bebês decapitados

A versão que circulou mundialmente era o relato, não confirmado oficialmente, de que 40 bebês teriam sido degolados. Nesta terça-feira, o Exército israelense levou jornalistas estrangeiros para uma das regiões atingidas pelo ataque do Hamas, o Kibbutz Kfar Aza (leia aqui, em inglês e aqui).

Informação teve origem em uma emissora pró-governo israelense. A repórter Nicole Zedek, da i24News (veja aqui), um veículo internacional com sede em Israel, afirmou que um representante do Exército israelense disse a ela que ao menos 40 bebês teriam sido mortos e que alguns deles teriam sido decapitados (veja entre o minuto 1:20 e 1:40 aqui). Segundo o Haaretz, principal jornal israelense, o i24 News tem postura pró-Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense (veja aqui, em inglês).

A história então se espalhou pelo mundo com repercussão na imprensa internacional e brasileira, mas com distorções. Veículos do Reino Unido, como o The Independent e a BBC, que enviaram correspondentes para Israel, relatam que o major do Exército israelense David Ben Zion declarou que o Hamas matou famílias inteiras, inclusive bebês, e que algumas das vítimas teriam sido decapitadas (veja aqui e aqui). Os jornais não citam número, nem que as vítimas decapitadas seriam bebês.

O Sky News, também do Reino Unido, teve um correspondente no local e reportou que não havia evidências sobre o fato (veja aqui). Um único post com essa desinformação em português no Instagram chegou a ter mais de 900 mil visualizações em 24h.

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A Folha noticiou nesta quinta ter recebido três fotos que mostram bebês degolados e com os corpos calcinados. Segundo o jornal brasileiro, Tel Aviv pretende com a divulgação fazer frente à acusação em redes sociais de que as IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla inglesa) haviam inventado a história.

O que dizem o Exército e o governo de Israel

Exército israelense não confirma história de 40 bebês decapitados. Em comunicados oficiais, as Forças de Defesa de Israel não citam — nem confirmam, nem desmentem — que 40 bebês teriam sido decapitados (veja aqui).

Ao UOL Confere, a assessoria de comunicação do Exército israelense disse apenas que "não pode confirmar nenhum número". E que "o que aconteceu em Kibbutz 'Kfar Azza' é um massacre em que mulheres, crianças e idosos foram brutalmente assassinados, segundo o modo de ação do Estado Islâmico. Estamos cientes dos atos hediondos de que o Hamas é capaz" (em tradução livre).

No Twitter, o governo de Israel repercutiu a reportagem do i24 News e escreveu "40 bebês mortos". O governo de Israel publicou em suas redes sociais imagens que seriam de bebês mortos pelo Hamas e disse que o primeiro-ministro Netanyahu as mostrou ao secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken.

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Porta-voz do primeiro-ministro israelense, Tal Heinrich disse hoje que crianças e bebês foram encontrados com suas "cabeças decapitadas" após o ataque terrorista do Hamas no fim de semana, informou a CNN Internacional (leia aqui, em inglês). Na mesma notícia, a CNN informa que o Hamas classificou as notícias como falsas.

A agência de notícias estatal da Turquia, Anodolu, publicou uma matéria em que informa que o Exército de Israel não confirma que bebês tenham sido decapitados (leia aqui, em inglês). O Check News, serviço de checagem do Libération, da França, também esclareceu a história (veja aqui, em francês).

Crianças em gaiolas

Um vídeo que mostra ao menos cinco crianças em uma gaiola tem sido compartilhado na internet em diversos países e idiomas com a alegação de que seriam vítimas israelenses de sequestro do Hamas.

Agências de checagem, no entanto, identificaram que o conteúdo tinha sido publicado nas redes sociais dias antes do ataque do Hamas, em 7 de outubro.

Nos Estados Unidos, a desinformação foi desmentida pelo Snopes (aqui), pelo Check Yout Fact (aqui) e pelo Lead Stories (aqui).

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O Lead Stories identificou que o vídeo original, publicado em árabe, utilizava uma trilha sonora de vídeos engraçados. "O post original não sugere que as crianças são israelenses, sequestradas, reféns ou estariam à venda, e não há provas de que seja esse o caso", afirma a checagem.

Em Israel, o vídeo foi desmentido pelo The Whistle (veja aqui, em hebraico); na França, o canal France 24 verificou o vídeo (aqui); o site árabe Misbar também publicou checagem (aqui).

No Brasil, o Estadão Verifica desmentiu o boato (aqui).

Veja o que já checamos sobre o conflito Israel-Hamas

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