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Suposto líder de ocupação nega cobrança de aluguel e diz que seu crime era "ajudar as pessoas"

Do UOL, em São Paulo

04/05/2018 22h24

Ananias Pereira dos Santos, apontado por moradores do prédio Wilton Paes de Almeida como líder do movimento que ocupou o edifício, afirmou nesta sexta-feira (4), em entrevista ao SBT, que não era chefe do grupo, negou que tenha sido o primeiro a ocupar o imóvel e ainda rechaçou que cobrasse aluguel dos antigos residentes, contrariando versões de diversos moradores.

Foi a primeira entrevista de Santos à TV aberta desde que o prédio desabou, na madrugada de terça-feira (1º). Moradores relataram que ele e outro suposto líder do MLSM (Movimento de Luta Social por Moradia) teriam fugido no momento do incêndio, que precedeu o desabamento. Ao SBT, ele negou a acusação.

“Não sumi, eu não estava aqui. Jamais imaginaria... Minha mãe mora no interior”, disse Santos. “Parece que a responsabilidade está sendo minha, parece que eu coloquei fogo, parece que eu queria matar os outros”.

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Ele disse que não foi o primeiro a ocupar o prédio, usado havia dez anos pelo movimento. “Era um prédio que não tinha recurso nenhum para as pessoas que moravam lá. Inclusive, quem ocupou esse prédio não fui nem eu. Quem ocupou esse prédio foi o Valmir”, disse ele, sem dar mais detalhes sobre quem seria Valmir. “Aí ele conversou com a gente, chamou a gente pra dar uma força pra ele. Depois que ele sumiu, que eu não sei pra onde ele foi, a gente começou a ajudar as famílias”.

Ananias Pereira dos Santos negou ser o líder do grupo. “Não sou líder do movimento. Tem gente que não tem o que comer, a gente corre atrás de cesta básica, manda pra lá. Tem gente que não tem um remédio. A gente faz isso também. Inclusive, eu vejo na televisão que o pessoal só pega coisas ruins. Por que não faz entrevista com os nossos moradores mesmo? Porque aquelas entrevistas que estão saindo não são dos nossos moradores”, declarou.

Alegando trabalhar com “eventos” em feiras gastronômicas, Santos disse morar de aluguel em uma casa, cujo contrato estaria no nome de seu advogado. “Eu tenho dez barracas, é o bem que eu tenho. Eu sou um lutador, luto para sobreviver”.

Embora não se assuma líder da ocupação, Ananias Pereira dos Santos admitiu a cobrança de uma “taxa de contribuição” aos moradores. Mas negou chamar de aluguel, falou que o valor não passava de R$ 150 e que a maioria dos moradores não pagava. Em relatos ao longo da semana, os residentes disseram que pagavam entre R$ 150 e R$ 500 de aluguel e que sofriam humilhações e ameaças se não pagassem.

“Isso é tudo mentira, não é aluguel, ninguém nunca teve contrato assinado para pagar aluguel, por isso que fico estressado. Que aluguel? Uma contribuição que você... Você precisa pagar condomínio, porque você precisa ter água, ter luz, porque nada vem de graça. O pessoal tem que dar ajuda de custo sim, eles dão sim, mas não todos, e não passa de R$ 150. E poucas pessoas que pagam. A gente arrumava a rede de esgoto, porque sempre dava problema, trocava cano, comprava fio”, justificou.

Santos disse estar chateado com a tragédia, afirmou que não tem conseguido comer e que quer provar que não cobrava aluguel.

“Tô sabendo que tô sendo investigado, mas acho errado falar aluguel, ninguém cobra aluguel. Eles podem investigar a hora que quiser, até porque eu quero uma prova de que eu cobrei aluguel de alguém. Quem ocupou o prédio não fui eu. Então, qual é a minha responsabilidade? Ajudar as pessoas é crime? Se isso for crime, pode me prender. Porque o único crime que eu fiz foi isso”, disse. “Preciso dar uma resposta pra eles, preciso mostrar que não sou isso que as pessoas estão falando”.

Cobrança de aluguéis

Nesta noite, a Secretaria Estadual de Segurança Pública informou que, por determinação do do secretário Mágino Alves Barbosa Filho, o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) instaurou um inquérito para investigar a cobrança de aluguéis de moradores de ocupações.

Apontado como um dos líderes do movimento pelos residentes, Ricardo Luciano, conhecido como "Careca", negou a cobrança de aluguel e disse que havia uma contribuição "voluntária" de R$ 50 para que fosse realizada a manutenção e limpeza do edifício.

Ananias Pereira dos Santos compareceu ao 3º Distrito Policial de São Paulo na noite desta sexta e prestou depoimento por cerca de duas horas e meia (entre 21h e 23h30) na condição de testemunha. Questionado por que não se apresentou antes à polícia, ele não quis explicar o motivo e disse que seu advogado se declararia sobre isso.

"Ele só apareceu aqui... A minha condução era para ser na terça-feira. Por conta da mídia, pelo que vocês estão fazendo, a gente decidiu vir hoje", disse Roberto Ramos, que defende Ananias, sem deixar claro se seu cliente se apresentaria na última terça (1º), dia do desabamento do prédio, ou na próxima.

O advogado afirmou ainda que a polícia abriu um inquérito nesta sexta para apurar questões "relacionadas à [energia] elétrica" do edifício. Segundo ele, por enquanto não está sendo questionado se Ananias é de fato líder do movimento que ocupou o Wilton Paes de Almeida.

(Com informações de Ana Carla Bermúdez)