Após 7 dias de espera, pedreiro enterra filha de 16 anos em Brumadinho
A espera havia terminado. Depois de sete dias sem saber se a filha Camila, 16, seria encontrada em meio à lama da barragem da Vale em Brumadinho (MG), o pedreiro Wilson Joaquim da Fonseca Silva, 48, agora sabia onde ela estava.
Na última sexta-feira (1º), seu corpo chegou em um caixão fechado ao cemitério Parque das Rosas, no subúrbio da cidade. Ele não podia ver seu semblante adolescente, nem tocar a sua mão, mas finalmente estava perto dela de novo.
Era a despedida da menina que decidiu trabalhar como camareira para ajudar nas contas de casa depois do infarto do pai, um mês antes. Estava em serviço na Pousada Nova Estância quando o vazamento de resíduos levou tudo embora.
Na hora da eclosão da barragem, na sexta-feira (25), o pedreiro fazia compras com a esposa em Brumadinho. Não conseguiu voltar para casa porque os acessos ao bairro onde mora estavam fechados. Desde então, tem usado roupa emprestada e ficado na casa de um parente.
Às 13h05, o caixão de Camila foi colocado sob uma tenda de lona branca, na entrada do cemitério, onde Wilson, a avó Geralda, os dois irmãos e alguns parentes aguardavam para velá-la.
O padre de plantão - desde o dia 25, todo velório público e cemitério de Brumadinho tem um sacerdote de prontidão para encomendar os corpos - se pôs a falar de amor, de saudade e de um lugar no céu que para Camila estava reservado.
O irmão, com um ramalhete de rosas brancas, não continha o choro. Da mesma forma que a irmã, um de cada lado do caixão. A mãe não teve condições de acompanhar. Wilson, junto à cabeceira, mantinha uma das mãos sempre à testa, como que segurando sua dor.
Exatamente 10 minutos depois, após um pai-nosso, um cântico e o sinal da cruz, os coveiros quiseram retirar o caixão, para desespero dos irmãos, que pediam pelo amor de Deus para que a deixassem ali só mais um instante.
O padre interveio e ajudou a convencer que havia chegado a hora. Todos seguiram em um cortejo de poucos metros até uma das covas abertas no gramado.
Ladeada por coroas de flores e sob um sol escaldante, a família dava o último adeus a Camila. A avó chorava e pedia para a neta não deixá-la. Wilson estava ao lado, mais uma vez com a mão à cabeça.
Às 13h22, o sepultamento foi feito.
Wilson continuava tão triste quanto estava na quarta-feira (30), quando a reportagem do UOL presenciou seu desabafo enquanto aguardava por informações de Camila no posto de informações montado pela Vale. Na ocasião, ele dizia que não queria dinheiro da mineradora, apenas a filha de volta.
Dois dias depois, porém, a dor da perda se misturava a uma sensação de alívio. De alguma maneira, ele tinha Camila de volta.
Ao lembrar-se da filha, do quanto ela se importava com ele e com a família, Wilson conseguia pôr um sorriso tímido de volta no rosto. "Depois do infarto, ela me falava todo dia: 'pai, deixa de me dar susto'", relembra.
Ele se perguntava, encostado no portão do cemitério, por que Deus o havia preservado da morte por três vezes, incluindo um infarto e uma pneumonia muito forte, e permitia que levassem sua Camila tão cedo e daquela maneira.
Dizia, contudo, que de uma coisa estava certo. Que para a casa onde eles moravam, ele não iria retornar. "Tudo lá vai me fazer lembrar dela de um jeito triste. Vou alugar uma casinha aqui em Brumadinho e tentar começar de novo", desabafa.
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