Apesar de vitória de Maduro, chavismo tem pior resultado da história
A vitória apertada de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais venezuelanas de domingo (14) foi o pior resultado da história do chavismo. Desde a ascensão de Hugo Chávez ao poder em 1998, a diferença de 1,77 ponto percentual de Maduro (50,75%) em relação a Henrique Capriles (48,98%) foi a menor registrada.
A diferença nas urnas de pouco mais de 236 mil votos é explicada por dois fatores: a organização da oposição na Venezuela e a deterioração do modelo político de Chávez, avalia Argemiro Procópio, professor titular de relações internacionais da UnB (Universidade de Brasília). “Chávez era um brilhante orador, mas o venezuelano é confrontado com uma situação de violência e problemas econômicos e isso começa a refletir nas urnas.”
A expectativa, segundo ele, era que a imagem de Chávez (morto em 5 de março) de fato influenciasse na vitória de Maduro, consagrado seu sucessor, mas o resultado tímido é “mais do que um recado”. “Simboliza o desgosto da população. O Maduro não é nem cópia, é uma caricatura de Chávez.”
Segundo ele, Maduro precisará fazer amplas reformas no país. “A Venezuela é um país dependente do petróleo, que flutua conforme o mercado internacional. Se a Venezuela despencar, vai ser uma catástrofe para o Brasil, porque é um parceiro importante.”
Leonardo Valente, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é mais cauteloso em falar em enfraquecimento do chavismo. “A oposição já vinha se fortalecendo, com uma tendência de crescimento nas urnas. O resultado do domingo é um processo natural de desgastes que os governos têm. Tudo vai depender de como Maduro irá conduzir o governo.”
Na sua opinião, entre os principais desafios do novo presidente estão manter os programas para as classes mais baixas e passar a governar para a classe média. "Ele precisará investir em políticas urbanas, de modernização do país."
Para Marcelo Serpa, professor de comunicação política e eleitoral da UFRJ, a vitória tímida de Maduro pode ser resumida em uma frase: “Ele não é o Chávez”. “Foi um resultado apertado, mas não surpreendeu. Estamos vivendo um chavismo sem o Chávez. Maduro sobreviveu ao mito, mas o mito é o mito”, explica.
Serpa, que é autor do livro "Eleições Espetaculares: como Hugo Chávez conquistou a Venezuela” (ed. Contra Capa), afirma ainda que Maduro é mais novo no cenário político e relativamente desconhecido em relação a Chávez. “Em uma pesquisa feita meses atrás, apenas cerca de 65% dos entrevistados sabiam quem ele era, mesmo sendo o vice-presidente.”
Segundo ele, a pequena margem de vitória, porém, não coloca em questão a legitimidade do pleito, como questionado pelo candidato derrotado, que pediu a recontagem dos votos.
“O buraco é mais embaixo. O que pode acontecer é que, como na Constituição há a figura do referendo revogatório, a oposição poderá pedir a revogação do mandato de Maduro depois de dois anos de governo. Então, Maduro terá que fazer dois anos de governo pensando em eventualmente ter a sua gestão avaliada pelo povo venezuelano.”
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