Relação dos EUA com Rússia "atingiu uma parede", diz Obama na Suécia
O presidente dos EUA, Barack Obama, disse nesta quarta-feira (4) que não foi "por capricho" que o relacionamento dos EUA com a Rússia esfriou.
"O 'reset' nas relações com a Rússia não foi do nada. Não há dúvida de que atingimos uma parede em termos de avanços", afirmou Obama em Estocolmo, capital sueca, durante uma entrevista coletiva ao lado do premiê da Suécia, Fredrik Reinfeldt.
Nos últimos meses, Moscou e Washington se estranharam por causa da entrada do ex-consultor de inteligência americano Edward Snowden na Rússia. O americano é responsável pelo vazamento de documentos que revelam a existência de um amplo programa de monitoramento da NSA, sigla em inglês da Agência Nacional de Segurança dos EUA. O presidente russo, Vladimir Putin, concedeu a ele o asilo, desde que o americano deixe de divulgar informações que prejudiquem o governo americano.
Segundo Obama, no passado houve avanços que os EUA obtiveram em parceria com a Rússia. Como exemplos, ele citou a redução dos arsenais nucleares de Moscou e a entrada do país na Organização Mundial do Comércio, o que beneficiou tanto a Rússia quanto seus parceiros comerciais - entre eles os EUA.
O presidente americano disse que não descarta que EUA e Rússia continuem a ter interesses mútuos, "mesmo que tenhamos diferenças profundas". Para que voltem a ter boas relações, Obama disse que os dois devem ser "cândidos" ao tratar de suas diferenças.
Síria
"Uma área onde nós divergimos é a Síria, com quem a Rússia tem longas relações", disse Obama. Segundo ele, devido às relações de longa data que Moscou tem com o governo sírio, é difícil para a Rússia reconhecer o "comportamento terrível" de Assad.
"Mesmo se você tem dúvidas sobre os opositores da Síria - e nós temos - e sobre a integridade territorial da Síria, se você quer acabar com a violência e matança lá, você tem de fazer uma transição retórica. Até aqui, Putin rejeitou essa lógica."
Obama disse que uma resolução diplomática para a guerra na Síria é difícil, principalmente pela resistência da Rússia, que vota sempre a favor do país árabe.
"Fomos diversas vezes ao Conselho de Segurança buscar resoluções para a Síria, mas a Rússia resistiu até mesmo às mais modestas. Se eu tenho esperança de que Putin mude de ideia quanto a alguns desses pontos? Estou sempre esperançoso."
O presidente dos EUA afirmou que uma ação internacional seria mais rápida se a Rússia apoiasse a intervenção por meio da ONU.
Dois anos e 100 mil mortos
A guerra na Síria já dura mais de dois anos e deixou milhares de mortos --mais de 100 mil, segundo a ONU. Começou na esteira da Primavera Árabe, onda de levantes populares que pediu mudanças no governo em países como Tunísia, Líbia e Egito.
Como em outros países, a reação do governo sírio foi reprimir com violência os protestos por democracia. Desde o início, a postura do regime do presidente vitalício Bashar Assad foi desqualificar os opositores como meros terroristas e culpá-los pelas mortes ocorridas nos confrontos.
No dia 21 de agosto, a guerra síria ganhou outra dimensão quando gás tóxico foi usado para bombardear uma área de Damasco, causando a morte de pelo menos 355 pessoas, segundo a ONG Médicos Sem Fronteiras. A ONG estima ter realizado mais de 3.600 atendimentos de pessoas que inalaram gás. A oposição fala em mais de mil mortos no ataque e acusa o regime Assad pela matança; o governo sírio culpa os rebeldes pelo massacre e afirma que achou um depósito com produtos químicos usado pela oposição.
Há tempos, a comunidade internacional condena o confronto na Síria e pede seu fim. Só após o ataque com gás, o Ocidente decidiu intervir independentemente da ONU. Devido à pressão internacional, um time de inspetores da ONU foi enviado ao país para investigar o local do suposto ataque. A equipe, porém, não conseguiu chegar à região: um comboio da organização teve de recuar porque foi recebido a tiros quando se aproximava da área.
Fim da linha
Há um ano, o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que o uso de armas químicas na guerra da Síria seria cruzar uma "linha vermelha". Já houve relatos de uso de armas químicas no conflito antes - em maio deste ano, o jornal francês "Le Monde" relatou o uso de armas químicas no país.
Foi só após o ataque de Damasco, porém, que os EUA passaram a afirmar que a Síria passou do limite. O secretário de Estado americano, John Kerry, diz que os EUA não têm dúvidas de que o governo sírio atacou com gás seus cidadãos e destruiu as evidências. O presidente Barack Obama pediu o aval do Congresso para uma intervenção na Síria - que não envolverá o envio de tropas dos EUA, afirma o governo.
França e Reino Unido também condenaram o ataque e prometeram apoio - militar, no caso francês - aos rebeldes que lutam contra Assad. Porém, o Parlamento britânico rejeitou o plano de atacar a Síria, e o o premiê, David Cameron, recuou da intervenção.
O país mais frontalmente contrário à intervenção é a Rússia, que acusa o Ocidente de não ter provas do envolvimento do governo sírio no ataque de Damasco. Desde antes, porém, Moscou, que interga o Conselho de Segurança da ONU, votou contra intervir na guerra síria. A Rússia sempre defendeu uma solução diplomática para o conflito. China e Irã, em menor escala, também são contra.
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