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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Ucrânia diz estar em guerra e nega neutralidade sugerida por Rússia

Do UOL*, em São Paulo

16/03/2022 04h54Atualizada em 16/03/2022 14h49

Enquanto as negociações por um plano de paz para o conflito entre Rússia e Ucrânia chegam ao terceiro dia seguido nesta quarta (16), autoridades de Kiev seguem relatando bombardeios russos. Nesta tarde, um míssil teria destruído um teatro que abrigava refugiados em Mariupol, no sudoeste do país.

A Rússia declarou que uma "neutralidade" da Ucrânia poderia ser uma saída, mas a posição foi descartada pelo governo do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky —que, em fala ao Congresso dos Estados Unidos, comparou a situação vivida pela Ucrânia com o atentado terrorista de 11 de setembro.

No entanto, de acordo com o jornal Financial Times, um possível plano de paz está avançando entre os dois países. Segundo a publicação, que conversou com envolvidos, trata-se de um plano provisório com 15 pontos, incluindo um cessar-fogo e a retirada russa do território ucraniano, desde que a Ucrânia declare neutralidade e estabeleça limites para suas forças armadas.

Mais cedo, o porta-voz russo, Dmitri Peskov, disse que os negociadores conversam sobre um compromisso para a neutralidade da Ucrânia que tenha como modelo a Suécia e a Áustria. Mykhailo Podolyak, negociador ucraniano e conselheiro presidencial, rejeitou essa possibilidade. "A Ucrânia está agora em estado de guerra direta com a Rússia. Portanto, o modelo só pode ser ucraniano e apenas sobre garantias de segurança legalmente verificadas. E sem outros modelos ou opções", afirmou.

A invasão russa ao território ucraniano chegou ao 21º dia, com novos ataques pelo país, inclusive a capital, Kiev. Nesta quarta, o governo ucraniano disse que não abriu corredores humanitários para evacuação, alegando que não recebeu resposta das propostas de rotas enviadas à Cruz Vermelha. Dessa forma, a Ucrânia diz que não conseguiria transportar as pessoas com segurança. A ONU (Organização das Nações Unidas) estima que a invasão russa irá colocar 90% dos ucranianos para baixo da linha da pobreza.

Negociações, dia 3

Ainda hoje, as delegações de Rússia e Ucrânia vão ter o terceiro dia seguido de negociações a respeito do conflito entre os países. Zelensky avalia que as conversas parecem "mais realistas" agora, mas pediu mais tempo para o diálogo. O ministro de Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, declarou que há "alguma esperança de compromisso".

Sobre as negociações, Podolyak diz que a Ucrânia quer "garantias de segurança absolutas", com compromisso dos signatários delas de não "ficarem de fora no caso de um ataque à Ucrânia, como hoje". Ele completa dizendo que a "Ucrânia nunca foi um estado militarista que ataca ou planeja atacar seus vizinhos". "Ao contrário desses vizinhos. É por isso que hoje a Ucrânia quer ter um grupo realmente forte de aliados com garantias de segurança claramente definidas."

Podemos e devemos lutar hoje, agora. Podemos e devemos defender nosso Estado, nossa vida, nossa vida ucraniana. Podemos e devemos negociar uma paz justa, mas justa para a Ucrânia, garantias reais de segurança que funcionarão
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, em declaração nesta quarta

Ontem, Zelensky indicou que a Ucrânia pode não entrar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), um dos pontos usados como justificativa pelos russos para invadir o território ucraniano. A Otan tem reunião hoje para tratar de estratégia em relação ao conflito entre Rússia e Ucrânia. O grupo diz que irá continuar fornecendo armas aos ucranianos.

Possível plano de paz

O acordo proposto, que os negociadores ucranianos e russos discutiram na íntegra pela primeira vez na segunda-feira (14), envolveria Kiev renunciando às suas ambições de ingressar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e prometendo não abrigar bases militares estrangeiras ou armamento em troca de proteção de aliados, como EUA e Reino Unido, e Turquia.

O jornal ressalta que o status dos territórios ucranianos tomados pela Rússia em 2014, como a península da Crimeia, pode ser um obstáculo para o acordo.

Embora Moscou e Kiev tenham dito publicamente que houve progresso nas negociações, autoridades ucranianas estão céticas de que Vladimir Putin está comprometido com a paz. A avaliação, diz o Financial Times, é de que a Rússia está ganhando tempo para reagrupar suas forças e retomar a ofensiva.

Ataques seguem ocorrendo

Mesmo em meio às negociações, investidas do Exército russo seguem ocorrendo. Hoje, um ataque a civis que fugiam de Mariupol deixaram mortos e feridos, incluindo crianças, segundo o Exército ucraniano.

Um comboio de civis que saiu de Mariupol para Zaporizhzhia foi alvo de vários foguetes Grad por volta das 15h30 (10h30 de Brasília), informou o Exército no Telegram, postando uma foto de uma criança ferida e ensanguentada.

Ao fim da tarde no horário local, um bombardeio russo matou três pessoas e deixou cinco feridas em um centro comercial em Kharkiv, no noroeste do país, segundo as autoridades ucranianas. O galpão, de 3.600 m², foi inteiramente destruído.

Discurso aos EUA

"Lembrem-se do 11 de setembro quando pensarem na Ucrânia", disse Zelensky em discurso a congressistas dos Estados Unidos nesta quarta-feira. O presidente ucraniano também cobrou novas sanções dos americanos contra a Rússia e uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia para impedir novos ataques.

Ataque a Kiev

Capital da Ucrânia, Kiev está sob um toque de recolher de 35 horas após uma série de ataques que atingiu civis ontem (15). Hoje, um prédio residencial foi atingido por um bombardeio. Segundo informações iniciais do serviço de emergências da Ucrânia, até o momento, ao menos duas pessoas ficaram feridas.

idosos - Reprodução/Facebook/DSNSKyiv - Reprodução/Facebook/DSNSKyiv
Idosos são atendidos por equipes de resgate após prédio ser atacado em Kiev, capital ucraniana
Imagem: Reprodução/Facebook/DSNSKyiv

Por volta das 6h, hora local (1h, em Brasília), o serviço de emergências da Ucrânia foi acionado a respeito do ataque a um edifício residencial de 12 andares atingido por um bombardeio no distrito de Shevchenko, na capital. Partes dos andares mais altos desmoronou; outros, ficaram em chamas.

Imagens das equipes de resgate mostram que idosos estavam no prédio atacado. Ao menos 37 pessoas foram evacuadas, segundo o serviço de emergências, que apontou haver pelo menos dois feridos entre elas.

Desde as 20h de ontem (15h, em Brasília), Kiev está sob toque de recolher. A medida se estende até as 7h de amanhã (1h, em Brasília).

Segundo Valery Zaluzhny, comandante das Forças Armadas da Ucrânia, a defesa de Kiev é tarefa estratégica, sendo defendida por diversas formações militares. Zaluzhny também diz que os próprios cidadãos estão se unindo em massa à defesa da capital.

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Prédio ficou destruído e em chamas após ataque nesta quarta
Imagem: Reprodução/Facebook/DSNKyiv

Sem corredores

Vice-primeira-ministra da Ucrânia, Iryna Vereshchuk disse que o governo não recebeu "uma resposta às propostas enviadas ontem ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha para abrir hoje os corredores humanitários".

"Durante os últimos dias dos corredores, os ocupantes [russos] começaram a bombardear comboios humanitários com ônibus, reunindo lugares nos assentamentos onde a evacuação foi planejada", disse Vereshchuk. "Os ocupantes também estão fazendo reféns. Em tais condições, não podemos transportar pessoas com segurança."

Estação atacada

Uma estação de trem na cidade de Zaporizhzhia, a 550 quilômetros a sudeste de Kiev, foi atacada hoje após um bombardeio, informaram as autoridades locais. Um jardim botânico também foi atingido. Zaporizhzhia recebeu centenas de milhares de moradores da cidade portuária de Mariupol, cercada pelas tropas russas.

luhansk - Reprodução/Facebook/MNS.GOV.UA - Reprodução/Facebook/MNS.GOV.UA
O serviço de emergências da Ucrânia publicou fotos de áreas destruídas por ataques na região de Luhansk. "Dezenas de casas foram incendiadas em Severodonetsk, Rubizhne e Lysychansk durante a noite", disse o serviço, que atribui os ataques a forças russas.
Imagem: Reprodução/Facebook/MNS.GOV.UA

Ofensiva em Luhansk e Donetsk

O Ministério da Defesa da Rússia disse hoje que a ofensiva continua na área de Luhansk, região separatista, a cerca de 730 quilômetros a leste de Kiev. Os russos também dizem que estão "desenvolvendo a ofensiva" na área de Donetsk, também separatista e próxima de Luhansk.

Já as Forças Armadas da Ucrânia, sem entrar em detalhes, dizem que "conseguiram infligir golpes devastadores em grupos de tropas de ocupação nos territórios temporariamente ocupados da Ucrânia e, em algumas áreas, contra-atacar".

Ministro da Cultura e Política de Informação da Ucrânia, Oleksandr Tkachenko reforça que, "infelizmente, a guerra não acabou". "Mas já transformamos a 'blitzkrieg de três dias' de Putin em três semanas de inferno para seus soldados e oficiais. Então com certeza vamos vencer!"

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

(Com Reuters, AFP e DW)