Prefeitos de Pernambuco acusam Dilma de frear crescimento do Nordeste
A Amupe (Associação Municipalista de Pernambuco) elevou o tom das críticas ao governo Dilma Rousseff e passou a cumprir um papel de "oposição" à política econômica federal. A Amupe acusa o governo de frear o crescimento do Nordeste com medidas que prejudicariam as prefeituras da região.
A entidade é comandada por Patriota Filho (PSB), prefeito de Afogados da Ingazeira (377 km do Recife) e aliado de primeira hora do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Nessa segunda-feira (22), em uma nova nota pública, a entidade afirma que a crise dos municípios com a queda de repasses federais este mês os deixou à beira de “convulsão social”, agravada pela seca que atinge mais de 1.100 municípios no Nordeste. Um protesto já foi marcado para o próximo mês, com promessa de greve das prefeituras da região.
A nota da Amupe foi a segunda em menos de 20 dias com críticas a Dilma. No dia 3, a entidade acusou o governo federal de favorecer as montadoras do Sudeste e promover a desigualdade regional ao estender a redução do IPI (Imposto Sobre Produtos Industrializados).
Cotado como candidato à presidência em 2014, Campos tem rodado o país dando palestras e pregando exatamente o que pedem os prefeitos pernambucanos: um novo pacto federativo, com melhor distribuição de recursos entre União, Estados e municípios. Também tem feito criticas à política econômica de Dilma.
Medidas insuficientes
Na nota divulgada nessa segunda-feira, a Amupe criticou as “importantes, mas insuficientes [medidas] para amenizar os graves impactos na economia dos municípios causados pela seca e pela queda nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios [FPM].”
“O acelerado ritmo de desenvolvimento que vivenciava o Nordeste foi fortemente afetado em sua linha ascendente. Só a junção de forças dos entes federativos na busca de soluções conjuntas tornará possível uma solução para a crise instalada”, complementa a nota da Amupe.
Ainda segundo a entidade, a segunda parcela do mês de abril do FPM apresentou queda 48%, em relação ao valor estimado pela Receita Federal. Os prefeitos prometem uma grande mobilização nas capitais do Nordeste no próximo dia 13, “com a paralisação dos serviços das prefeituras.”
“Nesse momento, que beira a convulsão social, conclamamos a todos os que tem responsabilidade para com o problema – União, Estados, Municípios, Congresso Nacional e Assembleias Legislativas – a juntarem forças na busca de soluções emergenciais e estruturadoras para fazer frente a mais grave crise que já se abateu sobre a economia dos municípios Brasileiros e suas populações.”
No último dia 3, as críticas ao governo Dilma foram ainda mais duras: “A Amupe vem a público externar seu mais veemente protesto contra a medida do governo federal, que mais uma vez prorroga a redução da alíquota do IPI, penalizando os municípios, o elo mais fraco da corrente federativa, em favor da grande indústria automobilística situada no Sul do país, aprofundando as desigualdades regionais.”
Para a Amupe, as medidas anunciadas por Dilma de combate à seca também foram insuficientes. “O anúncio de máquinas e equipamentos, embora relevantes, não atendem as necessidades de abastecimento urgentes que se impõem, considerando-se a insuficiente capacidade de produção do mercado. Alguns deles somente serão entregues no final do ano de 2013.”
Crítica terceirizada
Para o cientista político Michel Zaidan Filho, da Universidade Federal de Pernambuco, Eduardo usa com frequência aliados para criticar o governo. “Isso faz parte do arsenal dele. Eduardo 'come pelas beiradas'. O que ele puder fazer para sujar o governo federal, ele fará. Para isso, ele aciona prepostos e, aparentemente, fica de fora, como se não tivesse nada a ver”, explicou.
Segundo o cientista, a posição “em cima do muro” de Campos é estratégica nesse momento. “Ele tem uma posição incômoda, de quem quer se descolar, mas ao mesmo tempo tem a vantagem ser aliado. Esse descolamento não pode ser abrupto, deve ser muito cauteloso, pois não ficaria bem para ele. Ainda identificam ele como aliado do governo federal, e uma mudança abrupta soaria como oportunismo”, afirmou.
Apesar das “doses homeopáticas” de separação, Zaidan analisa que foram dados sinais mais que suficientes para perceber que o PSB está migrando para a oposição e, por tabela, deverá lançar candidato contra Dilma Rousseff em 2014.
“Esse descolamento do governo federal vem desde a eleição do Recife [quando Campos lançou Geraldo Julio contra o senador petista Humberto Costa]. Foi uma sinalização bem clara dele de que vai armar um parque próprio. Ele aproveitou o ensejo, tirou o PT da prefeitura e articulou a base de alianças. Ele usou a eleição municipal para dar um sinal de que estava mudando de palanque aos poucos”, disse Zaidan Filho.
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