Delator do PCC morto no aeroporto de Guarulhos também tinha inimigo no CV
João Cigarreiro era um dos maiores inimigos de Antônio Vinícius Gritzbach, 38, delator do PCC (Primeiro Comando da Capital) e de agentes públicos, assassinado com dez tiros de fuzis no último dia 8 no aeroporto internacional de Guarulhos.
O próprio empresário, jurado de morte por criminosos da cúpula do PCC, confidenciou aos amigos mais íntimos, em conversas reservadas, que o rival Cigarreiro tinha ligações com o CV (Comando Vermelho), do Rio de Janeiro, e temia por sua integridade física.
Segundo a polícia, o motivo da desavença é que Cigarreiro deu R$ 4 milhões para o empresário investir em criptomoedas e nunca mais viu a cor do dinheiro. O inimigo foi acusado de ter levado Gritzbach para um "tribunal do crime" em 18 de janeiro de 2022, e depois para um cativeiro no Tatuapé, zona leste paulistana.
Gritzbach afirmou que ficou em poder dos sequestradores das 10h30 até 19h30. No cativeiro, estavam agenciadores de jogadores famosos de futebol e integrantes do PCC, como Cláudio Marcos de Almeida, 50, o Django, e Rafael Maeda Pires, 31, o Japa, mortos após conflito interno no PCC.
O empresário alegou que os sequestradores montaram um "tribunal do crime" e queriam saber a qualquer custo se ele tinha desviado R$ 100 milhões do narcotraficante Anselmo Bechelli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, homem influente do PCC, morto a tiros em 27 de dezembro de 2021 no Tatuapé.
Gritzbach foi acusado de ter sido o mandante da morte de Cara Preta, porque o narcotraficante exigiu de volta o dinheiro desviado. Por esse motivo, sequestraram e ameaçaram o empresário de morte. No cativeiro, um dos homens do "tribunal do crime", usando luvas cirúrgicas pretas, prometeu esquartejá-lo.
Um outro sequestrador, com sotaque carioca, chamado de "açougueiro", disse, segurando uma enorme faca, que iria cortá-lo em pedaços. Os algozes entregaram a Gritzbach dois telefones celulares e 12 palavras que formavam uma senha.
Alguns minutos depois, eles conseguiram realizar uma operação de resgate de criptomoedas e recuperaram R$ 27 milhões. Só assim Gritzbach foi solto. Mas voltou para seu luxuoso apartamento no Jardim Anália Franco amedrontado e traumatizado. Ficou 21 dias enclausurado.
Fugiu pela mata na Cidade de Deus
Aos amigos, Gritzbach contou que João Cigarreiro era do CV, a maior facção do Rio de Janeiro. Disse ainda que o inimigo, em setembro de 2019, era um dos criminosos da organização que fugiu a um cerco da PM pela mata na Cidade de Deus, zona oeste carioca. As imagens da fuga correram o mundo.
Dias antes de ser assassinado, Gritzbach estava com a namorada em uma praia de Maceió. Foi quando disse ter visto um homem parecido com alguém que queria matá-lo em São Paulo. Depois explicou que não era a pessoa que pensava, pois o inimigo fumava sem parar. Ele se referia a João Cigarreiro.
No último dia 8, assim que desembarcou em Guarulhos, o empresário foi fuzilado. Até agora, a Polícia Civil identificou apenas um homem acusado de envolvimento no crime. Kauê do Amaral Coelho, 29, teve a prisão temporária decretada e até ontem (19) estava foragido.
Segundo a Polícia Civil, ele se encontrava no aeroporto de Guarulhos quando Gritzbach desembarcou e foi o responsável por avisar aos atiradores que a vítima estava saindo do saguão e caminhando para a faixa de pedestres. Kauê foi filmado no local pelas câmeras de segurança.
Há rumores de que o foragido está escondido em uma comunidade no Rio de Janeiro, mesmo reduto de João Cigarreiro. Kauê foi preso por tráfico de drogas em São Paulo, em 19 de setembro de 2022, mas teve a preventiva revogada e acabou colocado em liberdade em 13 de outubro do mesmo ano.
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