Wálter Maierovitch

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Opinião

Biden vai a Israel para vestir camisa de força em Bibi Netanyahu

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, chegará a Israel na quarta-feira (18) a convite do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Também estavam previstas paradas para conversas com o rei Abdullah II da Jordânia e Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina. Mas Abbas cancelou a reunião após ataque a hospital em Gaza.

Parêntese. Enquanto Biden teve convite, o presidente francês, Emmanuel Macron, se autoconvida — em usual tentativa de buscar protagonismo. Fechado parêntese.

Como o Direito Internacional Público, também chamado de Direitos das Gentes, acompanha as movimentações nos campos da geopolítica, geoestratégia e geoeconomia, a visita de Biden no atual cenário está sob o foco.

Os operadores do Direito das Gentes ainda precisam estar, para as análises, próximos dos canais diplomáticos e dos serviços de inteligência — com os seus 007 por toda a parte, até para colher informações, fantasiados de garçons a servir água e café em reuniões com chefes de Estado e de governo.

Biden, Abdullah e Abbas

Biden terá de convencer o rei da Jordânia a manter com Israel o pacto abraâmico e que trouxe a paz aos dois países.

Parêntese. A Jordânia esteve em 1967 ao lado do Egito e da Síria na chamada de Guerra dos Seis Dias contra Israel. Fechado parêntese.

Uma rescisão do acordo abraâmico seria uma vitória do Irã, que pugna pela extinção do Estado de Israel e, por tabela, vitória da Rússia de Putin. Fora isso, a rescisão pesaria negativamente na campanha eleitoral de reeleição de Biden à presidência dos EUA.

Por força do pacto abraânico, a Jordânia posiciona-se a favor, no Oriente Médio, da constituição de dois estados — e está a faltar o Estado Palestino.

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Abbas, e sabe bem Biden, apresenta-se como sendo o único líder do povo palestino. Em razão de não marcar eleições, perdeu a legitimidade e apodreceu politicamente.

Na semana, Abbas, numa troca de telefonema com o presidente venezuelano Nicolás Maduro, reprovou o ataque do Hamas, condenou a reação de Israel por atingir o povo palestino e se autoproclamou único legitimado a representar os palestinos.

Na conversa vazada, Abbas ressaltou, com razão, ter o Hamas apontado, para justificar a matança de civis do 7 de outubro último, as provocações aos palestinos islâmicos, como as constantes presenças de israelenses religiosos a circular pelas proximidades da sagrada mesquita Al Aqsa. Na colina onde está a mesquita Al Aqsa, o profeta Maomé, no seu cavalo árabe, subiu aos céus, como acreditam os islâmicos.

Atenção: a operação terrorista do Hamas levou o nome de "Tempestade Al Aqsa".

Exigências de Biden

Biden fez exigência para aceitar o convite do primeiro-ministro judeu Benjamin Netanyahu. Ou seja, impôs a suspensão da invasão por terra de Gaza pelo Exército israelense e uso das tropas do IDF (sigla que designa a força de defesa de Israel).

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Hoje, o porta-voz do Exército de Israel avisou que o ataque por terra não é a única opção e poderá não acontecer.

De olho na repercussão internacional negativa, nas pesquisas e no direito internacional, Biden evitou a tragédia anunciada, ou seja, o massacre de civis inocentes, no caso de invasão por terra, com o Hamas a usar escudos humanos.

As pesquisas

Internamente, pesquisa realizada ontem em Israel mostra uma desaprovação a Bibi Netanyahu. O resultado: 48% dos consultados preferem como primeiro-ministro o chefe de governo, Benny Gantz (do partido de União Nacional). Apenas 29% apontam para a continuação do premiê Netanyahu.

Gantz, depois do ataque terrorista do Hamas, correu, no interesse nacional, para tutelar Netanyahu e lhe dar maioria para um governo de união de forças em face do 7 de outubro.

Assim, Gantz cortou a pressão do partido religioso ultraortodoxo. Um partido de ultradireita, provocador de palestinos, mas que possuía o porcentual de parlamentares para, numa coligação, eleger Netanyahu como primeiro-ministro.

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No âmbito internacional, Biden percebeu a reprovação ao ataque terrorista do Hamas, mirado na eliminação de civis, sem poupar crianças, velhos e mulheres. Mas atentou também para a apreensão decorrente do fato de Israel poder exceder os limites da legítima defesa.

À luz do direito internacional, a legítima defesa resta descaracterizada pelo excesso no uso dos meios necessários.

Turquia, Egito e Qatar

Turquia e Egito, dois Estados nacionais sempre envolvidos com a estabilidade do Oriente Médio, reprovaram o ataque do Hamas.

Ao mesmo tempo, Turquia e Egito temem que Israel viole os princípios básicos regentes do direito internacional e passe a praticar a barbárie, com invasão de Gaza por terra. E o Qatar, que faz doações ao povo palestino, criticou duramente a reação desproporcional e abrangente de Israel.

No que toca o direito internacional, Biden, até como democrata, sabe não estar legitimado a apoiar ações desumanas, como deixar a população palestina — que não pode ser confundida com o Hamas e é apolítica na sua maioria — sem água, alimento, remédio e energia.

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Com pleno conhecimento das violações a direitos humanos por parte de Putin, com mandado internacional de prisão cautelar expedido pelo TPI (Tribunal Penal Internacional), Biden certamente não deseja passar para a história com a mesma imagem e fama de desumano.

Reféns desesperados

As agências noticiosas europeias informam sobre a nova e conduta do Hamas, digna de uma organização terrorista. Estão sendo divulgadas manifestações de reféns desesperados e a pedir socorro.

Biden desembarcará em Israel com o eco das vozes dos desesperados reféns, enquanto Turquia e Egito se apresentam como mediadores. A meta seria um imediato cessar-fogo, com liberação de reféns e troca de prisioneiros.

O presidente americano, consoante vazado pelas agências de inteligência, concorda na imposição de danos ao Hamas, no entanto, preocupa-se que a paixão das forças israelenses tome o lugar da racionalidade humanista.

O IDF tem se mostrado menos pontual e mais tendente à revanche. Ontem, ocorreu uma ação positiva ao eliminar, em combate, o sanguinário terrorista Al Mazini, membro do conselho diretor do Hamas.

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No Egito, na região do Sinai, existe uma fila com mais de 100 caminhões carregados para ingresso em Gaza. As autoridades egípcias e israelenses suspeitam que alguns caminhões transportam armas e munições ao Hamas.

Infelizmente, fica a prevalecer uma suspeita a retardar a liberação de carga com produtos necessários.

Biden já avaliou a tragédia representada pelo anúncio feito pelo IDF na última sexta-feira. Ou seja, o aviso para a população de Gaza migrar em face da iminência de invasão por tropas de Israel. Isso resultou num salve-se quem puder. Cerca de 600 mil palestinos deslocaram-se.

Lógico, a grande maioria dos deslocados está desabrigada. E liberar o vale de Rafah é intenção de Biden.

O presidente norte-americano só não diz como o Egito fará em face do ingresso de 2 milhões de palestinos, conforme previsão das fontes de inteligência. Dentre eles, doentes e feridos. E são poucos os hospitais no Sinai.

Acordos abraâmicos e ruídos

Em preparação à chegada de Biden, o secretário de estado note-americano, Antony Blinken, reuniu-se por sete horas e meia com o premiê israelense Netanyahu. Blinken informou a Netanyahu sobre a suspensão do acordo, costurado pelos EUA, entre Israel e Arábia Saudita.

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Netanyahu foi avisado do teor da conversa telefônica, resultante da suspensão do acordo, mantida entre o saudita Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro e primeiro-ministro, e Ebrahim Raisi, presidente do Irã.

Na supracitada conversa, e ainda com relação aos chamados acordos abraâmicos do ano 2000, os Emirados Árabes Unidos reprovaram os ataques do Hamas e as ações bélicas violentas de Israel contra a população civil.

No âmbito do Direito das Gentes, os contratos e pactos podem ser rescindidos. Melhor expondo, os denominados acordos abraâmicos podem ser rescindidos entre os pactuantes, no caso a Jordânia.

Para Israel, seriam desastrosas as rescisões dos pactos celebrados com Egito, Jordânia e Emirados Árabes.

Na visita de Biden, algumas questões ainda são mantidas em segredo. Por exemplo, existe formado em Israel um gabinete de guerra e ainda não se sabe se os seus integrantes, em especial o ministro da Defesa, irão participar do encontro com o presidente estrangeiro.

Sabe-se, por outro lado, desejar Biden distância de Itamar Bem-Gvir e Bezalel Smotrich, ambos líderes da direita radical e do partido religioso ortodoxo de apoio político a Netanyahu.

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O populista Netanyahu politicamente está liquidado e é responsabilizado pela maioria dos israelenses pelo 7 de outubro. Biden corre risco ao parecer próximo do premiê.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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