Marielle foi morta por milicianos por causa de terras, diz secretário
A vereadora carioca Marielle Franco (PSOL) foi assassinada porque interferiu em interesses de milicianos sobre loteamento de terras em regiões periféricas da capital do Rio de Janeiro, segundo o secretário de Segurança do estado, general Richard Nunes. Ainda de acordo com ele, a morte de Marielle já estava sendo planejada desde o final de 2017. "O que entendo hoje é que os criminosos superestimaram o papel que a vereadora poderia desempenhar", disse Nunes em entrevista publicada nesta sexta-feira pelo jornal "O Estado de S. Paulo".
As declarações de Nunes foram publicadas no dia seguinte a uma série de cumprimentos de mandados judiciais contra suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora e no mesmo dia em que a polícia fez apreensões na casa e gabinete do vereador do Rio Marcelo Siciliano (PHS). O material apreendido foi levado para a DPMA (Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente), que conduz uma das frentes sobre a investigação --a Polícia Civil não esclareceu ainda se a atuação da DPMA neste caso apura disputas de terras e posses ilegais.
Na quinta (13), foram autorizados 15 mandados de prisão, busca e intimação em Nova Iguaçu, Angra dos Reis, Petrópolis e Juiz de fora (MG). A polícia não informou quantos mandados foram cumpridos --o chefe da Polícia Civil, Rivaldo Barbosa, alegou ontem sigilo das investigações.
Marielle e seu motorista, Anderson Gomes, foram assassinados em 14 de março. Quando se deslocavam pelo centro carioca, um carro emparelhou com o deles. Disparos foram efetuados contra a parlamentar e o motorista, que morreram no local.
De acordo com Nunes, Marielle "estava lidando em determinada área do Rio controlada por milicianos, onde interesses econômicos de toda ordem são colocados em jogo".
"No momento em que determinada liderança política, membro do legislativo, começa a questionar as relações que se estabelecem naquela comunidade, afeta os interesses daqueles grupos criminosos", comentou o secretário na entrevista. "É nesse ponto que a gente precisa chegar, provar essa tese, que está muito sólida."
As milícias são grupos criminosos formados, em boa parte, por agentes do Estado, a exemplo de policiais militares e civis, bombeiros, integrantes das Forças Armadas e agentes penitenciários, além de contarem com criminosos comuns e traficantes. Os milicianos fazem o controle de um território e de sua população e coagem os moradores a fazer pagamentos por isso.
O secretário aponta que a milícia atua "muito em cima da posse de terra e assim faz a exploração de todos os recursos". "E há no Rio, na área oeste, na baixada de Jacarepaguá, problemas graves de loteamento, de ocupação de terras. Essas áreas são complicadas", relatou.
Marielle estaria fazendo um trabalho de conscientização das pessoas que moram nessas áreas sobre a posse da terra, disse Nunes. "Isso causou instabilidade e é por aí que nós estamos caminhando. Mais do que isso eu não posso dizer."
Segundo integrantes da cúpula da Secretaria da Segurança Pública, a polícia já teria identificado suspeitos tanto de executar como de planejar o crime e agora busca provas para tentar garantir a condenação na Justiça se eles forem presos.
Na entrevista ao jornal, o secretário ainda disse que a tentativa de federalizar a investigação sobre as mortes da vereadora e do motorista era "totalmente desprovida de fundamento".
"Foi um incômodo que não auxiliou em nada a investigação. Houve essa sugestão sob a suspeita de que a Polícia Civil não estaria fazendo um trabalho isento. Isso não tem fundamento", comentou.
Para o secretário, as milícias são tão perigosas quanto as facções criminosas. "O que há de perigoso nas milícias é o modo como ela explora determinadas atividades. Ela é mais insidiosa. Porém, facções de tráfico têm adotado práticas de milícia e vice-versa. Então, como secretário de segurança, não há como estabelecer um grau de risco diferenciado."
Nunes deixa a secretaria em 31 de dezembro. O general assumiu o cargo durante a intervenção federal no Rio de Janeiro. Para ele, um erro seria anunciar nomes de suspeitos agora e eles serem inocentados futuramente "por um inquérito mal concluído".
"Para mim, o mais grave seria tentar, de forma precipitada, apresentar alguns nomes que no futuro não sejam condenados. Centenas de depoimentos foram colhidos. Há 19 volumes de investigação. Nossa expectativa é resolver."
O secretário não descarta que alguns dos suspeitos já estejam mortos, mas não por relação direta com os assassinatos da vereadora e do motorista. "Queima de arquivo ainda é difícil de caracterizar. Mas porque são pessoas que vivem da prática de crimes com certa frequência estão mais sujeitos a esse tipo de desfecho", disse.
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