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Após escalada de tensão, EUA e Irã baixam tom, e queda de avião vira foco

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o do Irã, Hassan Rouhani - Montagem com AFP Photo e Presidência do Irã
O presidente dos EUA, Donald Trump, e o do Irã, Hassan Rouhani Imagem: Montagem com AFP Photo e Presidência do Irã

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

09/01/2020 10h13

Quase uma semana após a ação americana que matou o general iraniano Qassim Suleimani e uma escalada de tensão entre Estados Unidos e Irã, as hostilidades entre os países começam a diminuir. Ontem, o presidente dos EUA, Donald Trump, baixou o tom no discurso, e na sequência, o embaixador do irã na ONU, Majid Takht Ravanchi, também abrandou as declarações.

Agora, os olhos da comunidade internacional se voltam para a queda do avião em Terrã, que deixou 176 mortos.

As investigações conduzidas pela Ucrânia, para onde ia o voo, e do Irã querem saber se houve falha por parte dos pilotos ou da aeronave, ou se um ato terrorista foi a causa. Segundo a Aviação Civil iraniana, o avião já estava em chamas quando caiu.

Em comunicado, a companhia área responsável pelo voo, Ukranian International Airlines, afirmou que "a probabilidade de erro [da equipe] é mínima", o que abre espaço para especulações sobre outras causas para a queda.

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Reação positiva ao arrefecimento da crise

A sinalização de que a crise arrefece gerou reações positivas nos mercados internacionais, e os preços do petróleo caíram.

A repercussão provocada pelo atentado americano gerou tanta convulsão internacional que se chegou a cogitar a eclosão da Terceira Guerra Mundial. Se nos Estados Unidos manifestantes marcharam em 70 cidades em protesto contra o conflito, no Irã milhões de pessoas foram às ruas para o cortejo fúnebre de Suleimani empunhando cartazes com promessas de vingança.

O que disse Trump

Trump foi o primeiro a sinalizar moderação ao minimizar a retaliação iraniana, que na noite de terça-feira (7) bombardeou duas bases aéreas que abrigam tropas dos Estados Unidos e da coalizão no Iraque em uma operação batizada de "Mártir Soleimani". Não houve confirmação de vítimas.

"Está tudo bem", afirmou o presidente americano no Twitter. "Por enquanto, tudo bem! Temos, de longe, as forças armadas mais poderosas e bem equipadas do mundo", escreveu, acrescentando que faria um pronunciamento no dia seguinte.

Ontem, ele voltou abrandar o discurso bélico ao garantir que o conflito está "acalmando".

Nenhuma vida americana ou iraquiana foi perdida por causa das precauções que nós tomamos para dispersar as forças. Agradeço aos esforços aos homens e mulheres de uniforme.
Donald Trump, presidente dos Estados Unidos

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"Irã não busca guerra"

Ainda ontem, Ravanchi —o embaixador do Irã na ONU— sinalizou a mesma intenção de esfriar o conflito. Em uma carta enviada ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, ele afirma que seu país não busca a guerra contra os americanos.

Como membro responsável da ONU, a República Islâmica do Irã está comprometida com os propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas, recorda sua dedicação à manutenção da paz e da segurança internacionais e enfatiza que não busca uma escalada ou uma guerra
Majid Takht Ravan, embaixador permanente do Irã na ONU

Ainda na carta, enviada também ao presidente do Conselho de Segurança, Dang Dihn Quy, o embaixador considerou que o bombardeio às bases dos EUA no Iraque foi "proporcional" ao ataque recebido pelos americanos.

De acordo com o embaixador, o Irã exerceu seu "direito inerente de autodefesa", conforme previsto na Carta das Nações Unidas, e que as forças armadas do país executaram "uma resposta militar medida e proporcional sobre a base aérea no Iraque a partir da qual foi lançado o covarde ataque contra o mártir Suleimani".

"A operação foi precisa e teve como foco objetivos militares, não deixando danos colaterais civis ou sobre ativos civis na área", afirmou.

Professores duvidam da Terceira Guerra

Professor de Relações Internacionais da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Paulo Velasco classificou como "exagero, com um quê de paranoia", a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial. Ele justificou seu argumento citando que as demais potências militares do mundo não devem se envolver na situação.

A opinião é partilhada por Manuel da Furriela, professor de Relações Internacionais da FMU (Faculdades Metropolitanas Unidas), que é categórico em dizer que uma Terceira Guerra Mundial "não vai ocorrer". O especialista explica que o Irã é uma potência regional no Oriente Médio, mas sem expressão global.

"A Primeira e a Segunda Guerra [Mundial] ocorreram na Europa, onde estavam as principais potências, com participação da União Soviética, Estados Unidos, China e Japão. Não vai ter guerra agora porque um conflito com o Irã não teria essa dimensão internacional."

Ele lembra que há outros locais em que as potências globais exercem interesses diferentes sem que a tensão se converta em guerra. Na Síria, por exemplo, os Estados Unidos apoiam grupos que tentam derrubar o presidente Bashar al-Assad. O político se manteve no cargo graças ao apoio da Rússia. Mesmo em campos opostos, não houve guerra entre as duas potências.

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As razões do ataque americano

Qasem Suleimani era o chefe da Força Revolucionária da Guarda Quds, a tropa de elite do exército iraniano apontada como responsável pela invasão à embaixada americana em Bagdá no início da semana.

O Irã nega participação na invasão. Já os EUA afirmam, por meio de nota emitida pelo governo, que "Suleimani estava desenvolvendo planos para atacar diplomatas americanos e membros do serviço no Iraque e em toda a região" e que, por isso, a resposta teve como objetivo "impedir futuros planos de ataque iranianos".

Para o professor de Relações Internacionais da ESPM Roberto Uebel, "o assassinato do general é tão grave quanto a captura e morte de Osama bin Laden", em 2011. "Suleimani não era um terrorista, mas um militar de alta patente com excelente relação com o líder supremo do Irã, Ali Khamenei. Uma grande liderança política, talvez o futuro líder político do Irã."

Petroleiro atacado - HO/IRIB TV/AFP - HO/IRIB TV/AFP
Petroleiro atacado no Golfo Pérsico em junho de 2019
Imagem: HO/IRIB TV/AFP

O que aconteceu nos últimos dias

O esfriamento do conflito se dá após uma sequência de dias tensos: