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Insurreição e golpe: políticos criticam Trump por incitar atos no Congresso

Carolina Marins

Do UOL, em São Paulo

06/01/2021 21h49

O que era para ser apenas um evento burocrático de oficialização do novo presidente se transformou em atos violentos com direito à invasão ao Congresso. Uma pessoa morta até o momento, dezenas foram detidas e cinco armas foram confiscadas pelas forças policiais.. Políticos e ex-comandantes de segurança responsabilizam Donald Trump por incitar seus apoiadores nas redes sociais no que foi considerado uma tentativa de golpe à democracia americana.

A sessão de hoje deveria ser a oficialização de Joe Biden e Kamala Harris como os novos presidente e vice-presidente dos EUA em uma sessão conjunta entre Congresso e Senado no Capitólio. O vice-presidente Mike Pence, leria em voz alta todos os votos do Colégio Eleitoral e abriria para ouvir objeções.

Porém, só foi possível certificar 12 dos 538 votos e, quando ocorria uma pausa para discutir uma objeção no Arizona, manifestantes invadiram o prédio do Congresso. Os parlamentares contaram que precisaram se jogar no chão e tiveram de ser evacuados do edifício. Também houve ameaça de bombas depois que vários pacotes suspeitos foram encontrados no local.

06 jan. 2021 - Manifestantes favoráveis ao presidente Donald Trump em confronto em frente ao Congresso dos Estados Unidos - JIM URQUHART/REUTERS - JIM URQUHART/REUTERS
06 jan. 2021 - Manifestantes favoráveis ao presidente Donald Trump em confronto em frente ao Congresso dos Estados Unidos
Imagem: JIM URQUHART/REUTERS

Desde ontem Trump vinha incitando seus apoiadores a marcharem para o Congresso. Ele esperava conseguir usar a sessão de hoje para reverter a sua derrota nas urnas. Primeiro apelou ao seu vice, na esperança de ele barrar a oficialização. Porém, Pence não tem poderes constitucionais para isso.

Quando viu que Pence não iria fazer a sua vontade, o presidente pediu para seus apoiadores agirem. "Mike Pence não teve a coragem de fazer o que deveria ter sido feito para proteger nosso país e nossa Constituição, dando aos estados a chance de verificar uma série de fatos verdadeiros, não os fraudulentos e incorretos que pediram a eles que confirmassem. Os EUA demandam a verdade".

A ação provocou críticas tanto de democratas quanto de colegas republicanos. Após a invasão ao Capitólio, o republicano Adam Kinzinger postou: "Isso é uma tentativa de golpe".

"Quando você não conta a verdade às pessoas, acaba fazendo com que acreditem nas conspirações e nas provas falsas e tem tempestades no Capitólio como a de hoje. Isso é absolutamente, totalmente desprezível, e cada líder republicano que grite isso com força tem que ser responsabilizado", disse em entrevista à CNN americana.

Em qualquer lugar do mundo, chamaríamos isso de tentativa de golpe. Acho que é isso."
Adam Kinzinger na CNN.

06 jan. 2021 - Manifestante favorável ao presidente Donald Trump carrega bandeira dos estados confederados ao invadir Congresso dos Estados Unidos - MIKE THEILER/REUTERS - MIKE THEILER/REUTERS
06 jan. 2021 - Manifestante favorável ao presidente Donald Trump carrega bandeira dos estados confederados ao invadir Congresso dos Estados Unidos
Imagem: MIKE THEILER/REUTERS

O líder da maioria republicana no Senado, Mitt Romney, chamou o ato de "insurreição instigada pelo presidente". "Nós nos reunimos hoje devido ao orgulho ferido de um homem egoísta e à indignação de seus partidários a quem ele deliberadamente desinformou durante os últimos dois meses e que se mobilizou para agir esta manhã."

O que aconteceu aqui hoje foi uma insurreição, instigada pelo Presidente dos Estados Unidos."
Mitt Romney, senador republicano

O ex-chefe de polícia da capital Washington também endossou a narrativa de golpe. "Ele [Trump] os incitou e pôs tudo em movimento. Isso é o mais próximo de uma tentativa de golpe que este país já viu. É para isso que vocês estão olhando, pessoal, é isso que vocês estão olhando e é absolutamente ridículo, absolutamente ridículo, e muitas pessoas são responsáveis

Em seu pronunciamento, o presidente eleito Joe Biden foi na mesma linha de Romney ao chamar os protestos de insurreição e pediu um pronunciamento do presidente. "As palavras de um presidente importam. Não importa o quão bom ou ruim ele seja. No mínimo palavras devem inspirar. No pior dos casos, elas devem incitar".

Isso é insurreição, não um protesto. O mundo está assistindo."
Joe Biden

Até mesmo o republicano Ted Cruz, do Texas, pediu para os manifestantes pararem imediatamente. Cruz é apoiador de Trump e foi um dos senadores que prometeram utilizar recursos legais para barrar a oficialização de hoje.

"Aqueles que estão atacando o Capitólio precisam parar AGORA. A Constituição protege o protesto pacífico, mas a violência — da esquerda ou da direita — é SEMPRE errada. E aqueles que estão envolvidos na violência estão prejudicando a causa que dizem apoiar."

Outro apoiador de Trump, o veterano Mike Gallagher, também apelou ao presidente: "Não vi nada parecido desde que fui para o Iraque em 2007 e 2008", disse à CNN. "O presidente precisa cancelar... Cancelar. Acabou. A eleição acabou. E os opositores precisam parar de se intrometer com as forças primordiais de nossa democracia aqui."

O primeiro conselheiro de segurança interna de Trump, Tom Bossert, também culpou o presidente pelos atos de hoje. "Isso está além de errado e ilegal. É anti-americano", tuitou. "O presidente minou a democracia americana sem base por meses. Como resultado, ele é culpado por este cerco e uma desgraça absoluta."

Trump se pronuncia reforçando tese falsa

Após diversos pedidos por parte de parlamentares e até do presidente eleito Joe Biden para que se pronunciasse, Trump gravou um vídeo. Ele pediu para que os manifestantes fossem para casa, mas voltou a reforçar o falso discurso de que as eleições foram fraudadas.

Foi uma eleição fraudada, mas não podemos jogar o jogo dessas pessoas. Temos que ter paz. Então vão para casa, nós amamos vocês, vocês são muito especiais. Vocês viram o que aconteceu, vocês viram a maneira com que os outros são tratados. Sei como vocês se sentem, mas vão para casa e vão para casa em paz."
Donald Trump

Trump ainda fez mais três postagens no Twitter que foram removidas pela rede social. Em punição, o presidente teve a conta bloqueada por 12 horas. "Futuras violações resultarão na suspensão permanente da conta @realDonaldTrump", informou o Twitter.

A deputada democrata Ilhan Omar informou que está redigindo um pedido de impeachment de Donald Trump depois do dia de hoje. Donald J. Trump deveria ser destituído pela Câmara dos Representantes e destituído do cargo pelo Senado dos Estados Unidos. Não podemos permitir que ele permaneça no cargo, é uma questão de preservar nossa República e precisamos cumprir nosso juramento."