Policial confirma encontros entre Cachoeira, Gleyb e delegados federais em audiência
O agente da polícia federal Renato Moreira, primeiro depoente do segundo dia de audiências da Operação Monte Carlo na 11ª Vara da Justiça Federal em Goiânia, confirmou encontros entre integrantes da rede de jogos ilegais em Goiás e no Distrito Federal com delegados federais.
Moreira contou que presenciou encontros de Gleyb Ferreira da Cruz com o delegado federal Deuselino Valadares, e também de Calinhos Cachoeira com o delegado federal Fernando Bayron.
Para o agente, por contextualização fática -ligação de fatos relacionados ao objeto da investigação, que seria a exploração de jogos ilegais-, concluíram que os encontros presenciais do grupo criminoso eram para efetuar a entrega de dinheiro.
"Gleyb seria empregado de Cachoeira", afirmou o agente da Polícia Federal. A conclusão veio pela análise dos áudios e de outras provas do processo. Moreira afirmou que ele sempre exerceu a mesma função. "Gleyb era um elo entre o delegado Deuselino e o senhor Carlos Cachoeira."
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A defesa quis saber se Moreira "viu as notas", mas o agente disse que não e também não respondeu sobre a entrega de pacotes. No depoimento de ontem (24), o agente Luiz Carlos Pimentel explicou que as conversas entre réus e envolvidos na rede de jogos ilegais eram realizadas dentro de carros com vidros pretos, e, por isso, não conseguiam ver o que ocorria.
Pelos relatórios que leu e redigiu, o agente percebeu que os réus exploravam jogos de azar. E também pela análise das transações financeiras do grupo. O agente não viu promessa de pagamento entre os envolvidos.
Moreira explicou que Cachoeira negociava benefícios, como cargos públicos, para o delegado de polícia federal Deuselino Valadares. Segundo ele, a mullher do delegado também teria usado um veículo Corolla, que pertencia a uma pessoa chamada Marcos, que seria irmão de Cachoeira.
Dos áudios que apontam a relação do grupo com o delegado federal, o agente descreveu um deles. "Aquilo que o Neguinho [delegado Deuselino Valadares] tinha te falado vai ocorrer amanhã", disse Gleyb a Cachoeira, depois de o primeiro enviar uma mensagem de texto no celular do segundo. De acordo com o depoente, a conversa se referia a uma operação da PF que foi deflagrada no dia seguinte.
Conflito
O procurador Daniel Resende Salgado interrompeu o advogado de Gleyb Ferreira da Cruz, Douglas Dalto Messora, o que causou tumulto na audiência. Salgado chegou a mandar o defensor "se colocar no seu lugar", depois de Messora dizer para ele se calar enquanto ele inquiria a testemunha.
O juiz Alderico Rocha Santos interveio e amenizou a discussão, iniciada depois que Messora ironizou ao dizer que a testemunha tinha "um ótimo defensor". O procurador rebateu e disse que é apenas um fiscal da lei.
Às 11h05 foi encerrado o depoimento da terceira testemunha da Operação Monte Carlo, e primeira desta quarta-feira.
O caso
Carlinhos Cachoeira é acusado de chefiar uma quadrilha que comandava jogos ilegais, principalmente em Goiás, e de usar de influência com parlamentares, como o ex-senador Demóstenes Torres, para manipular licitações e facilitar a entrada de empresas supostamente ligadas a ele e outros aliados nos governos do Distrito Federal, Rio de Janeiro e Goiás.
Pelas suspeitas de envolvimento com Cachoeira, Demóstenes teve o mandato cassado no último dia 11. Os governadores Agnelo Queiroz (PT-DF), Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Marconi Perillo (PSDB-GO) foram citados em escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal durante as operações Vegas e Monte Carlo.
Os envolvidos assumem ter falado com Cachoeira em algumas situações e motivos diversos, mas negam envolvimento nas ações do bicheiro.
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