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Análise: Dilma recupera imagem e tira proveito eleitoral com pré-sal e Mais Médicos

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

22/10/2013 18h59

A sanção do programa Mais Médicos, o leilão do Campo de Libra do pré-sal e uma série de ações recentes do governo federal estão ajudando a presidente Dilma Rousseff a melhorar sua a imagem --arranhada depois dos protestos de junho-- e a tirar proveito eleitoral com vistas às eleições de 2014, segundo avaliam analistas políticos entrevistados pelo UOL.

DE OLHO EM 2014: AÇÕES RECENTES DO GOVERNO

06.set.2013 - Em pronunciamento na TV por conta do Sete de Setembro, Dilma cita protestos de junho e exalta recuperação da economia

27.set.2013 - Dilma entra nas redes sociais e retorna ao Twitter

05.out.2013 - Prazo final para que partidos e candidatos definam filiações para as eleições de 2014; Marina se filia ao PSB de Eduardo Campos e ambos passam a ganhar destaque no noticiário

07.out.2013 - Exibição de entrevista de Dilma ao Programa do Ratinho

17.out.2013 - Dilma lança Plano de Agroecologia

21.out.2013 - Governo faz leilão do Campo de Libra do pré-sal; em pronunciamento na TV, Dilma exalta programa

22.out.2013 - Em clima de festa, Dilma sanciona lei que regulamenta o Mais Médicos

“O governo foi surpreendido pelas manifestações populares, teve uma queda de popularidade e agora está fazendo uma releitura da sua própria ação, da maneira de apresentar os resultados para recuperar a imagem e influenciar as eleições do ano que vem”, opina José Álvaro Moisés, professor do departamento de Ciência Política da USP (Universidade de São Paulo).

“Isso faz parte de um processo de recuperação que ela teve após as manifestações de junho. Evidente que cause repercussão positiva do governo e contribua para melhoria da imagem da Dilma”, afirma o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, professor da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas de São Paulo).

Agenda positiva

Ontem (21) à noite, a presidente fez um pronunciamento de oito minutos em rede nacional, no qual exaltou o leilão do Campo de Libra, considerado por ela "um sucesso" e "um grande passo, que começou a se tornar realidade". Disse ainda que a exploração trará recursos sem precedentes para a educação e saúde e, de quebra, negou tratar-se de privatização, numa tentativa de acalmar setores do PT contrários ao regime de partilha.

Hoje (22), Dilma sancionou em Brasília a lei que regulamenta o programa Mais Médicos. O evento teve clima festivo e contou com a participação de 600 médicos estrangeiros, além de todo o estafe do governo, incluindo ministros de áreas como Trabalho e Relações Exteriores.

  • Arte UOL

    Saiba qual a proporção de médicos em cada Estado e o panorama em outros países

Na cerimônia, a presidente fez um discurso no qual voltou a elogiar o leilão de Libra, negou que haja caráter eleitoreiro no Mais Médicos e ainda se desculpou com um médico cubano que foi ofendido durante protesto de profissionais brasileiros no Ceará. Dilma ainda relembrou os cinco pactos que propôs durante as manifestações de junho, que também foram citados, em tom de exaltação, junto com o leilão de Libra e os resultados da economia, em pronunciamento em cadeia nacional no último 6 de setembro.

“O leilão estava previsto há bastante tempo, o Mais Médicos vem sendo discutido há muito tempo também, então não acho que dá para afirmar de maneira categórica que são cálculos eleitorais. Mas é claro que o governo também age pensando nas eleições e aproveita tudo isso”, afirma Cláudio Couto.

“O Mais Médicos, em pesquisas, é aprovado por quase 80% dos entrevistados. O atendimento médico no Brasil deixa muito a desejar. Então, esse programa foi muito bem articulado para surtir um impacto positivo na campanha eleitoral”, diz David Fleischer, professor de Ciência Política na UnB (Universidade de Brasília).

A presidente foi criticada pelos dois dos principais adversários que deve enfrentar em 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Segundo o senador, a "presidente Dilma Rousseff contraria a legislação em vigor e apropria-se, indevidamente" da rede, ao fazer o pronunciamento, para fins eleitorais.

"Acho que todos brasileiros e brasileiras viram com muita decepção, ontem, uma área gigante do pré-sal, o campo de Libra, ser leiloada pelo preço mínimo e sob um processo pouco debatido com a sociedade", disse Campos.

Redes sociais, Ratinho e viagens

Entre outras ações recentes de Dilma estão a entrevista ao programa do Ratinho, exibida no último dia 7 no SBT, o retorno ao Twitter e o ingresso no Instagram, no final de setembro. Além de presente nas redes sociais, a presidente aumentou suas viagens oficiais neste ano pré-eleitoral, conforme revelado pela “Folha de S. Paulo”.

As ações recentes coincidiram com a reta final para a definição de filiações e trocas de partidos com vistas às eleições do ano que vem. Entre as movimentações está o ingresso da ex-senadora Marina Silva ao PSB de Eduardo Campos, após o fracasso da Rede Sustentabilidade. Por conta da aliança, ambos ganharam espaço no noticiário nas últimas semanas.

No último dia 17, a presidente anunciou o Plano de Agroecologia, tocando em um dos pontos sensíveis da plataforma política de Marina Silva. A ex-senadora criticou Dilma, dizendo que a medida foi desengavetada por conta das eleições.

“Os favoritos tem que calibrar sua pré-campanha para reduzir o impacto de novos candidatos. Isso foi o problema de Lula em 2002, que tinha Ciro Gomes e Anthony Garotinho como adversários, além do José Serra. Então o marketing da campanha tem que levar os adversários em conta. Tudo isso é efeito do [marqueteiro] João Santana”, opina Fleischer.

Pesquisas

A agenda positiva do governo federal também ocorre no momento em que a presidente se recupera nas pesquisas eleitorais e de avaliação do governo após sofrer uma queda acentuada de popularidade durante os protestos de junho.

Para David Fleischer, um dos objetivos do governo para melhorar a avaliação é aumentar seu poder de atração de outras siglas. “Há uma tentativa do governo em subir nas pesquisas de aprovação. Dilma caiu para 30% de aprovação e agora está subindo lentamente. O objetivo do governo é levá-la a um patamar em torno de 45% de aprovação e se cacifar para negociar apoio de outros partidos. Se a aprovação da presidente é baixíssima, ninguém vai querer se aliar.”

José Álvaro Moisés afirma que o uso da máquina acaba fazendo parte do jogo político em qualquer circunstância. “Tem um lado disso que é legítimo: quem realiza deve poder mostrar que está realizando. Todo governo que realiza obras, programas de políticas públicas que correspondem à necessidade da população, os usa para melhorar a imagem nas eleições que estão se aproximando. Isso acontece no mundo inteiro, com governos de esquerda, de direita e de centro.”