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Acampamento pró-Lula perto da PF será desmontado; novo local será escolhido até terça

Vinicius Boreki

Colaboração para o UOL, em Curitiba

16/04/2018 15h39Atualizada em 16/04/2018 22h00

O acampamento montado por apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a cerca de cem metros da Superintendência da Polícia Federal, onde o petista está preso, deverá ser desmontado até as 18 horas desta terça-feira (17).

O acordo foi selado em uma reunião nesta segunda-feira (16) que contou com a presença do Secretário de Estado de Segurança Pública do Paraná, Júlio Reis, representantes da Prefeitura de Curitiba e do acampamento.

Um documento assinado por representantes do PT, CUT (Central Única dos Trabalhadores), MST (Movimento dos Sem Terra), Secretaria Municipal de Defesa Social, Procuradoria do Município, Ministério Público, PM (Polícia Militar), PF e Secretaria de Segurança Pública veda expressamente o acampamento nas proximidades da PF.

Pelo documento assinado, os apoiadores deverão reerguer o acampamento em outro local da cidade, o Parque Atuba, que fica a aproximadamente três quilômetros da área atualmente ocupada pelos manifestantes. Em nota divulgada no final desta tarde, porém os manifestantes informaram que ainda não decidiram se vão para o parque ou se ocupam outro terreno que fica a 800 m da área atual. A ideia do grupo é levar as barracas para o novo local escolhido, mas manter atos diários perto da PF.

A recusa em ir para o Atuba já havia sido manifestada pela presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, em mensagens pelo Twitter. 

"Não é verdade que o acampamento da vigília democrática de solidariedade a Lula em Curitba será desmobilizado, como informou a Secretaria de Segurança do Governo do Estado. Continuaremos, de forma permanente, em frente à Polícia Federal até Lula ter sua liberdade", escreveu a senadora. "O acordado pelos organizadores da vigília foi colocar as cozinhas coletivas em um terreno vazio que tem na quadra do acampamento, retirando-as de frente das casas dos moradores. Também parte das barracas dormitórios ficarão em outro terreno próximo. Ninguém irá para o Atuba".

Após repassar o recado de Gleisi durante coletiva no final da tarde no acampamento, Lindbergh foi contestado pela reportagem do UOL sobre o documento assinado. "Não tem documento assinado de Parque Atuba nenhum", respondeu o senador.

4 tendas ficarão no local atual

No atual local onde está o acampamento Lula Livre, está autorizada apenas a permanência de quatro tendas a fim de assegurar a “estrutura necessária à liberdade de manifestação”. A partir de agora, os apoiadores de Lula devem pedir autorização às autoridades municipais para a realização de shows ou apresentação de políticos.

Na sexta-feira (13), a Justiça do Paraná fixou uma multa diária de R$ 500 mil para os manifestantes que ocuparem o entorno da sede da Superintendência da PF. Com o acordo selado hoje, a ação foi retirada.

A presença dos manifestantes no acampamento, no bairro Santa Cândida, tem incomodado parte dos moradores da região desde a prisão de Lula, no sábado (7). Pelo menos 12 boletins de ocorrência relatando “perturbação do sossego” e ameaça foram registrados até esta segunda-feira no 4º DP (Distrito Policial) de Curitiba.

O acampamento estima contar com mil ocupantes fixos por dia, tendo uma passagem diária de duas mil pessoas. Nele, os apoiadores do ex-presidente Lula se encontram em barracas, montadas na rua ou em frente às casas do bairro.

Acampamento pró-Lula divide moradores de bairro de Curitiba

UOL Notícias

Reclamações de moradores e da Prefeitura

Nesta manhã, moradores também foram à Câmara dos Vereadores para pedir ajuda aos parlamentares. Eles queriam a saída do acampamento do local ou que Lula fosse transferido.

Na semana passada, a Prefeitura de Curitiba e o Sindicato dos Delegados da Polícia Federal no Paraná já tinham pedido a transferência de Lula. Mas não houve uma decisão até o momento. Em entrevista ao jornal "Folha de S.Paulo", o diretor do Depen [Departamento Penitenciário do Paraná] disse que está pronto para receber o ex-presidente.

O vereador Felipe Braga Côrtes (PSD-PR), que recebeu os moradores na Câmara nesta manhã, disse que iria encaminhar as reclamações para a juíza Carolina Lebbos, da 12ª Vara Federal, responsável pelas decisões sobre a custódia de Lula.

"A gente perdeu a paz. Aqui é um bairro residencial, nunca aconteceu isso com a gente. Muitos moradores são idosos”, disse uma moradora que pede para não ser identificada.

Ela disse que não teve nenhum "atrito pessoal" com os manifestantes, mas que se sente incomodada com o barulho “ensurdecedor” e com a “insegurança” na hora de sair e de chegar na própria casa. “Quando começam com o batuque deles, a gente não consegue conversar sem gritar dentro de casa”, disse.

No acampamento, o momento de mais barulho ao longo do dia é no período da manhã, quando os acampados dão bom dia ao ex-presidente Lula, normalmente com instrumentos musicais, além da presença de lideranças de grupos de apoiadores e parlamentares.

Além do barulho, outra moradora ouvida pelo UOL e que também pede para não ser identificada reclama de mau cheiro e da ocupação do seu jardim quando ela “nem estava em casa”. “A gente não tem liberdade para nada. Você não pode sair ali fora que ficam te olhando”, reclamou.

A moradora afirmou que a sede da PF "não é o lugar" para Lula ou outros presos da Lava Jato ficarem detidos. “Já que ele [Lula] é um condenado, tem que estar em um presídio”, disse.

Nove banheiros químicos estão instalados no acampamento, que também tem uma equipe de limpeza. Existem ainda cozinhas espalhadas, onde os militantes preparam o próprio almoço com doações.

Segundo a comunicação do Acampamento Lula Livre, o local está tendo um bom diálogo com a população, com a adesão e apoio de muitos moradores das proximidades, embora as lideranças compreendam os transtornos causados à região.

Além disso, o acampamento informa que tem respeitado os horários de silêncio, das 22h às 7h, e que considera sua luta legítima, dentro de um estado de direito no qual é possível se manifestar.

Uma das apoiadoras é a morada Rosa de Fátima Trento, que vive a duas quadras da concentração. Em sua residência, as pessoas do acampamento podem tomar banho e encontram um local de refúgio.

“A manifestação está muito bem organizada. Eles não atrapalham em nada o nosso convívio e não impedem o nosso direito de ir e vir, sempre com muito respeito e educação”, opina.