Uma semana após início de crise, Bolsonaro mantém críticas duras a Macron
Uma semana após o início da crise que começou com os focos de incêndio na Amazônia e virou uma troca de farpas diplomática, o presidente Jair Bolsonaro mantém o ritmo de críticas duras ao presidente da França, Emmanuel Macron.
Ontem pela manhã, ao falar sobre possíveis doações internacionais ao Brasil para apoio nas ações de redução de incêndios, Bolsonaro mostrou ainda estar descontente com a possibilidade aventada por Macron de criar um status internacional para a Amazônia.
"Estou pronto para conversar com qualquer um, exceto nosso querido Macron, a não ser que ele se retrate sobre a nossa soberania da Amazônia", disse, em tom irônico ao chamar o presidente francês de querido.
No dia anterior, classificou como "esmola" os US$ 20 milhões oferecidos pelo G7 -grupo de países mais ricos do mundo-, após discussão levantada por Macron. Na quarta, o porta-voz do governo, general Otávio do Rêgo Barros, havia afirmado que "o governo não rasga dinheiro" e que "está aberto a receber suporte financeiro de organizações e países."
Até o momento, o presidente confirmou aceitar doações de forma bilateral e não sinalizou se aceitará o dinheiro do G7 se Macron não pedir desculpas por questionar a soberania brasileira sobre a floresta.
Na quarta (28), após se reunir com o presidente do Chile, Sebastian Piñera, em Brasília, Bolsonaro disse que Macron se aproveitou para "se capitalizar perante o mundo como aquela pessoa única e exclusiva interessada em defender o meio ambiente" e a bandeira do meio ambiente "não é dele".
Na ocasião, reforçou que só dialogará com o francês se retratar de ter chamado Bolsonaro de "mentiroso" também. Para o presidente, as falas de Macron repercutiram com força pelo mundo só porque Macron é de "esquerda", enquanto o governo brasileiro, disse ele, é de "centro-direita".
Ao receber governadores da Amazônia no Palácio do Planalto na terça (27), Bolsonaro retomou críticas ao francês falando que a abertura da discussão da internacionalização da região "não deixa de ser uma realidade na cabeça dele".
Escalada das críticas
Em 22 de agosto, o fogo na Amazônia e as declarações controversas de Bolsonaro sobre o assunto já tomavam as redes sociais havia alguns dias. Na esteira da repercussão negativa mundial, Macron publicou no Twitter que a "nossa casa" estava "queimando", em referência à floresta, e isso era uma "crise internacional". Ele articulou junto a Alemanha e Canadá para colocar o tema na agenda do G7, sem a participação do Brasil.
Naquela manhã, sem provas, Bolsonaro havia voltado a acusar ONGs de causar as queimadas na floresta Amazônica.
Como mostrou o UOL, o chefe de Estado francês esperava acalmar ONGs de seu país que, naquela mesma semana, tinham indicado que promoveriam um boicote ao evento do G7 em Biarritz, no sudoeste do país. Macron, segundo as ONGs, tinha evitado a todo custo uma aproximação e uma consulta maior com essas entidades ao preparar a agenda do encontro. Ofereceu apenas um almoço, já às vésperas do evento, recusado por parte dos ambientalistas.
No dia seguinte ao tuíte de Macron, o governo francês insinuou que poderia vetar o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, recém-assinado. E emendou: Bolsonaro "mentiu" sobre seus compromissos ambientais durante a cúpula do G20, no primeiro semestre do ano. Em meio a protestos e mais ameaças comerciais, a diplomacia brasileira correu para reverter danos. O presidente do Chile, Sebastian Piñera, acabou atuando como intermediador entre o G7 e o Brasil.
Em 24 de agosto, o estranhamento atingiu novo grau quando Bolsonaro apoiou um comentário ofensivo à primeira-dama francesa, Brigitte Macron, nas redes sociais. O texto foi apagado essa semana. O presidente se negou a comentar o caso até o momento.
Em resposta, Emmanuel Macron afirmou torcer que "os brasileiros tenham logo um presidente que se comporte à altura" do cargo e qualificou o comentário de Bolsonaro perante sua mulher como "triste".
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