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Vazamentos da Lava Jato

Moro autorizou operação contra filha de investigado, apontam mensagens

Sergio Moro em visita à sede da Superintendência da Polícia Federal no Rio - Wilton Junior/Estadão Conteúdo-26.ago.2019
Sergio Moro em visita à sede da Superintendência da Polícia Federal no Rio Imagem: Wilton Junior/Estadão Conteúdo-26.ago.2019

Do UOL, em São Paulo

11/09/2019 01h53

Novas mensagens vazadas dos procuradores da Lava Jato mostram que o Ministério Público Federal (MPF) pediu duas vezes ao então juiz Sergio Moro medidas contra a filha de um alvo da operação, um empresário radicado em Portugal, como forma de forçá-lo a se entregar. Ela não era suspeita de quaisquer crimes.

Os diálogos no aplicativo Telegram, obtidos e publicados hoje pelo site The Intercept Brasil, revelam que a ideia dos procuradores era chegar ao paradeiro do empresário Raul Schmidt por meio da filha, Nathalie Angerami Priante Schmidt Felippe.

Em um trecho da conversa, o procurador Diogo Castor de Mattos afirma que a ação visava criar um "elemento de pressão" no empresário.

Schmidt é apontado como operador de propinas para ex-dirigentes da Petrobras. Ele foi preso na 25ª fase da Lava Jato, mas foi liberado para responder ao processo em prisão domiciliar.

Em um primeiro momento, Moro recusou o pedido do MPF e alegou que não havia provas claras de que Nathalie sabia que as contas em seu nome no exterior receberam propinas.

"Apesar dos argumentos do MPF, não há provas muito claras de que Nathalie Angerami Priante Schmidt Felippe tinha ciência de que os valores tinham origem ilícita e/ou eram fruto de atos de corrupção", despachou o então juiz.

Porém, três meses depois, o MPF voltou a pedir operação contra Nathalie para capturar Schmidt. Desta vez, mesmo sem qualquer mudança no pedido, Moro acolheu.

A operação de busca e apreensão na casa de Nathalie, no Rio de Janeiro, reteve o seu passaporte. No mesmo dia, o pedido de extradição de Schmidt foi cancelado em Portugal. Segundo o Intercept, "Nathalie foi denunciada pela Lava Jato por lavagem de dinheiro pela compra do imóvel em Paris no final de 2018, mas o caso corre, até hoje, sob sigilo".

Leia os diálogos, mantidos na versão original e sem alterações ou correções ortográficas.

1º de fevereiro de 2018 - Grupo Filhos do Januário 2

Diogo Castor de Mattos - 16:52:58 - prezados, gostaria de submeter à analise de todos a questão da operação na filha do raul schmidt.. basicamente, ela esta envolvida em algumas lavagens por ser beneficiária de uma offshore do pai.. pensamos em fazer uma operação nela para tentar localizá-lo.. oq acham?

Paulo Roberto Galvão - 16:56:11 - pegar o celular?

Castor de Mattos- 16:57:53 - eh

Deltan Dallagnol - 17:05:13 - Nse fizer, ele some no mesmo dia?

Dallagnol - 17:05:21 - ele muda de lugar

Castor de Mattos- 17:10:47 - mas ela mandou renovar o passaporte e entoru com pedido de visto em portugal..

Castor de Mattos- 17:11:04 - se nao fizermos nada ela foge do país e nunca mais achamos

Dallagnol - 17:14:04 - mas o que ganha? -salvo se realmente achar que ela tá envolvida nos crimes, não haverá provas deles -quanto à loalização dele, pode até achar, mas terá poucas horas pra prendê-lo, ou menos de poucas horas, tendo de mobilizar polícia fora em país que não sabemso qual em território de fronteiras abertas UE?

Castor de Mattos- 17:15:36 - na minha perspectiva, ela nao poder sair do país é um elemento de pressão em cima dele

Castor de Mattos- 17:15:57 - e ai estamos falando de imóveis adquiridos em nome dela no exterior de USD 2 milhoes

Athayde Ribeiro Costa - 17:25:22 - Intercepta ela. Se ela habilitar o cel e usar la, tem a erb

Castor de Mattos- 17:26:22 - mas o cara tá na europa

Outro lado

Em resposta ao Intercept, o MPF disse que "os procuradores da força-tarefa Lava Jato formulam pedidos cautelares ou denúncias apenas quando estão presentes os requisitos legais". A nota ainda diz que "Nathalie Schmidt foi beneficiária de contas secretas que receberam milhões de dólares ilícitos no exterior, podendo estar sujeita, por tais condutas, a sanções criminais".

Atual ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, Moro não comentou o caso.

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