Deltan pediu checagem de viagens da defesa de Lula, indicam mensagens
O procurador Deltan Dallagnol pediu em grupo de mensagens da força-tarefa da Lava Jato, em setembro de 2016, a checagem de viagens de uma advogada de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme mostram mensagens apreendidas na Operação Spoofing e protocoladas hoje no STF (Supremo Tribunal Federal) pela defesa do ex-presidente após perícia.
O pedido ocorreu depois que o então chefe da Lava Jato foi informado de que a advogada Valeska Zanin Martins viajou a Genebra —a origem da informação era uma vizinha da defensora. Ela é casada com o advogado Cristiano Zanin Martins, que está à frente da equipe que defende o ex-presidente. Em julho daquele ano, a defesa de Lula esteve na cidade suíça para abrir um processo em favor de Lula no comitê de Direitos Humanos da ONU.
Ao UOL, o MPF (Ministério Público Federal) afirmou que a Lava Jato "jamais obteve —nem mesmo pediu— senhas das companhias aéreas para acessar diretamente seus bancos de dados". Também disse que, mesmo não reconhecendo a autenticidade das mensagens, elas não revelam qualquer ilegalidade. "O que houve foi meramente a cogitação de verificar preliminarmente uma suspeita de crimes, que sequer se concretizou", diz o MPF (leia a íntegra do posicionamento).
"A alegação de que o Ministério Público Federal monitorou os advogados do ex-presidente ou seus telefones para conhecer sua estratégia jurídica é fantasiosa, embora não seja nova. Já ocorreu, por exemplo, no tocante à alegada interceptação telefônica ilegal de advogados de defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva", acrescentaram os procuradores.
Deltan: 'Vale uma checagem mais geral das viagens'
Segundo a defesa de Lula, dois anos depois do pedido de checagem feito por Deltan, os procuradores voltaram a discutir no aplicativo de mensagens Telegram o monitoramento dos passos dos advogados. O UOL não teve acesso à íntegra desse diálogo —o trecho encaminhado pela defesa de Lula ao STF não permite conhecer o contexto da investigação discutida.
Em 6 de dezembro de 2018, o procurador Roberson Pozzobon disse que a força-tarefa perdeu "bastante tempo sempre oficiando e aguardando as respostas das companhias aéreas". As respostas aguardadas, de acordo com o procurador, se baseavam em dois itens principais: dados cadastrais, que envolveriam e-mails e telefones para quebras de sigilos, e informações de voos nacionais e internacionais.
"Essa iniciativa coincide com outro trecho, de outro chat, que eu li durante a sustentação oral no STF, de que eles receberam a informação de uma vizinha minha de que a Valeska estava indo a Genebra —e o Dallagnol indica, primeiro na conversa com a Anamara [que repassou a informação da vizinha] e depois no grupo, que fará o monitoramento dos voos dos advogados do ex-presidente", afirmou ao UOL Cristiano Zanin Martins.
Segundo o chat lido pelo advogado de Lula no STF, a procuradora Anamara Osório disse para Deltan, dia 29 de setembro de 2016, que recebeu uma informação "de uma vizinha residencial do advogado (Cristiano) de Lula: A esposa dele (Valeska) que você deve saber que é filha do Roberto Teixeira, viajou rapidamente (ida e volta mesmo) para Genebra, e desde então, ela tem ouvido (saca essa RSSs, mas preciso te contar) eles lixando, quebrando paredes de Drywall. E quem os visita muito é Lulinha, sempre com um pacotinho". Roberto Teixeira é advogado e amigo de Lula.
Deltan respondeu: "Rapaz... Obrigado pela info, Anamara!!!! Acho que vale uma checagem mais geral das viagens... Pra começar". As grafias das mensagens foram mantidas tal como constam em perícia da defesa de Lula.
Na noite daquela mesma data, os procuradores continuaram falando no aplicativo sobre o assunto.
Deltan Dallagnol: Caros, recebi esta info e acho que vale checar saídas do país e destinos. Quem pega isso para analisar? Rapaz...
Diogo Castor de Mattos: Fofoca q não dá em nada. Tipo aquela vez q espalharam q prc tinha enterrado dinheiro na piscina.
Deltan Dallagnol: rsrsrs... pode ser, mas se checarmos e houver viagens pra Genebra já começo a desconfiar... E agora é uma vizinha.
A pedido do UOL, o advogado Alexandre Ogusuku, que preside a Comissão Nacional de Defesa das Prerrogativas e Valorização da Advocacia da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), analisou as mensagens e afirmou que a possível realização da prática é vedada.
"Esse monitoramento é ilegal. O advogado só pode ser monitorado se contra ele existir investigação formal de prática de um crime. Se esse monitoramento ocorreu, ele ofende o ordenamento jurídico."
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