Planalto tenta blindagem em CPI, e senadores miram fragilidades do governo
Resumo da notícia
- Comissão deve ser instaurada nesta semana, com escolha de presidente, vice e relator
- CPI terá como alvo principal a gestão da pandemia pelo governo Bolsonaro
- Governo tentará apontar mau uso de verbas por estados e municípios
- Oposição focará em negacionismo de Bolsonaro, atraso de vacinas, falta de remédios e gasto com cloroquina
O Palácio do Planalto já avalia como tentar se blindar de acusações de eventuais omissões ao longo da pandemia na CPI da Covid, enquanto os senadores de oposição ou tidos como mais independentes miram as fragilidades do governo Jair Bolsonaro (sem partido) nos últimos meses.
Os 11 senadores que vão compor a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) foram anunciados e, em tese, a lista é desfavorável ao governo. O Planalto articula para emplacar um dos nomes menos críticos a Bolsonaro na presidência e na relatoria do colegiado, mas isso ainda não está fechado. Essa composição será decidida no voto entre os membros na primeira reunião da CPI, ainda sem data certa.
Até sexta (16), uma composição defendida por parte dos senadores era por Omar Aziz (PSD-AM) presidente, tido como independente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do requerimento de criação da CPI, como vice-presidente, e Renan Calheiros (MDB-AL), na relatoria.
Ofensiva do governo
Uma das principais linhas de frente do governo na CPI deve ser a de apontar o mau uso de verbas federais repassadas a estados e municípios para tirar o foco da atuação do Ministério da Saúde e do discurso negacionista de Bolsonaro durante a maior parte da crise sanitária.
O Planalto estuda, inclusive, mobilizar um grupo de servidores para mapear a destinação desses recursos, e questionar se a falta de infraestrutura nas redes hospitalares, de medicamentos e insumos para a intubação de pacientes e da eventual vagareza na aplicação de vacinas não é culpa de ações tomadas por governadores e prefeitos. Ou seja, buscar terceirizar qualquer possível culpa.
Uma preocupação é quanto ao impacto negativo da CPI às pretensões de Bolsonaro de se reeleger em 2022, ainda mais com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de volta ao cenário.
Alguns dos principais alvos do governo federal deverão ser os governadores de São Paulo, João Doria (PSDB), do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e da região Nordeste, como Rui Costa (PT), da Bahia, Camilo Santana (PT), do Ceará, e Flávio Dino (PCdoB), do Maranhão.
Há a intenção ainda de atuar junto a senadores considerados de oposição a governadores desafetos do Planalto. Nesta estratégia, o governo utilizaria a influência dos políticos nos respectivos estados para amplificar a visibilidade dos eventuais problemas encontrados na aplicação dos recursos federais.
Por outro lado, além do ataque, o Planalto deve reunir dados avaliados como positivos para municiar os governistas na CPI.
Buscarão ainda ressaltar discursos de governadores tidos como agradecidos a Bolsonaro, como Mauro Carlesse (PSL), do Tocantins.
Enquanto isso, senadores de oposição ou tidos como mais independentes pretendem investir no que enxergam como fragilidades do governo federal, como o discurso negacionista de Bolsonaro.
Para o senador Humberto Costa (PT-PE), Bolsonaro erroneamente assumiu a tese de que a estratégia para enfrentar a covid-19 seria a imunidade coletiva, de rebanho. Ele considera que todas as decisões de Bolsonaro foram em decorrência desse posicionamento ainda sem eficácia científica comprovada para conter a propagação do coronavírus e mortes pela covid-19 a tempo.
Os principais pontos a serem levantados pelos senadores críticos a Bolsonaro deverão ser:
- falas e atos de Bolsonaro contra medidas mais restritivas de circulação de pessoas, incluindo ação no STF (Supremo Tribunal Federal);
- promoção de aglomerações em viagens, atos e eventos;
- a não utilização de máscara por Bolsonaro na maior parte da pandemia, ao contrário do recomendado por médicos e especialistas;
- falas jocosas do presidente a quem defende a compra de vacinas contra a covid-19;
- demora na compra pelo governo de vacinas da Pfizer e da Janssen;
- suposto financiamento insuficiente de leitos clínicos e de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do SUS (Sistema Único de Saúde);
- testes do governo para a detecção do coronavírus estocados prestes a vencer;
- orientação de Bolsonaro para a população fazer uso de medicamentos sem indicação para o tratamento da covid-19, como a cloroquina;
- uso de recursos públicos para a produção de cloroquina, por meio do Exército;
- pagamento a influenciadores para defender o atendimento precoce;
- suposto uso político da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária);
- atuação de Bolsonaro para tentar descredibilizar a vacina CoronaVac.
Assim como o Planalto fará em relação a estados e municípios, os senadores mais críticos a Bolsonaro deverão verificar se o orçamento proposto pelo governo federal realmente foi gasto nas ações da União.
Veja quem compõe a CPI da Covid
Integrantes titulares:
- Eduardo Braga (MDB-AM)
- Renan Calheiros (MDB-AL),
- Ciro Nogueira (PP-PI),
- Eduardo Girão (Podemos-CE),
- Tasso Jereissati (PSDB-CE),
- Otto Alencar (PSD-BA),
- Omar Aziz (PSD-AM),
- Marcos Rogério (DEM-RO),
- Jorginho Mello (PL-SC),
- Humberto Costa (PT-PE),
- Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
Integrantes suplentes:
- Jader Barbalho (MDB-PA)
- Luis Carlos Heinze (PP-RS)
- Marcos do Val (Podemos-ES)
- Angelo Coronel (PSD-BA)
- Zequinha Marinho (PSC-PA)
- Rogério Carvalho (PT-SE)
- Alessandro Vieira (Cidadania-SE)
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